Resumo
Os fatores associados à prática alimentar da população adulta de Goiânia foram identificados por meio de estudo transversal realizado através de entrevistas telefônicas com 2.002 adultos (> 18 anos). Foram coletadas informações sociodemográficas, de estilo de vida, estado nutricional e consumo alimentar. Construiu-se um somatório de escolhas alimentares saudáveis. Foi observado que homens e mulheres realizam, em média, duas escolhas alimentares saudáveis, sendo baixa a frequência de consumo de frutas (5,4% homens; 8,5% mulheres) e legumes e verduras (18,1% homens; 22,6% mulheres). A análise de regressão múltipla hierarquizada revelou que a média de escolhas alimentares saudáveis entre os homens aumenta com a idade e com a prática de atividade física e, entre as mulheres, com o relato de trabalho remunerado. O predomínio de escolhas alimentares não saudáveis, associado a outros comportamentos de risco, favorece o desenvolvimento de doenças crônicas. Ações multiestratégicas e intersetoriais são necessárias para a superação deste cenário.
Epidemiologia nutricional; Comportamento alimentar; Adulto; Consumo de alimentos; Estilo de vida; Alimentos
INTRODUÇÃO
O papel específico da alimentação no desenvolvimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) é de difícil interpretação, principalmente em decorrência da multicausalidade deste grupo de enfermidades11. Kumanyika S. Nutrition and Chronic Disease Prevention: Priorities for US minority Groups. Nutr Rev 2006; 64(2 Pt 2): S9-14.. Nesse sentido, diversos estudos têm comprovado a associação entre dieta de composição inadequada, tais como excesso de gordura saturada e consumo insuficiente de Frutas, Legumes e Verduras (FLV) e a gênese das DCNT22. World Health Organization. Diet, nutrition and prevention of chronic diseases. Report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva: World Health Organization; 2003 (WHO Technical Report Series 916).
3. Fung TT, Willett WC, Stampfer MJ, Manson JE, Hu FB. Dietary Patterns and the risk coronary heart disease in women. Arch Intern Med 2001; 161(15): 1857-62.
4. Jaime PC, Figueiredo ICR, Moura EC, Malta DC. Fatores associados ao consumo de frutas e hortaliças no Brasil, 2006. Rev Saúde Pública 2009; 43(supl 2): 57-64. - 55. Martins MPSC, Gomes ALM, Martins MCC, Mattos MA, Souza-Filho MDS, Mello DB et al. Consumo Alimentar, Pressão Arterial e Controle Metabólico em Idosos Diabéticos Hipertensos. Rev Bras Cardiol 2010; 23(3): 162-70..
No Brasil, dados provenientes da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) indicam como principais mudanças na disponibilidade de alimentos entre 1974/75 e 2002/03: o aumento no teor de gorduras, açúcar e proteínas na alimentação, e a redução no consumo de carboidratos complexos, associados à manutenção da participação na dieta de FLV (3 a 4% do valor energético total)66. Levy-Costa RB, Sichieri R, Pontes NDS, Monteiro CA. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e evolução (1974-2003). Rev Saúde Pública 2005; 39(4): 530-40.. Este quadro caracteriza a transição nutricional, que, associada às transições demográfica e epidemiológica, produz importantes achados para a interpretação dos fatores de risco para as DCNT22. World Health Organization. Diet, nutrition and prevention of chronic diseases. Report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva: World Health Organization; 2003 (WHO Technical Report Series 916)..
Estudo realizado pelo Ministério da Saúde (MS)77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília; 2007. identificou o consumo de frutas, em pelo menos cinco dias na semana, em 47% da população das capitais de Estados brasileiros e do Distrito Federal. Para o consumo de legumes e verduras, encontrou uma variação entre 23,3 e 62,1%, sendo este último valor obtido para a cidade de Goiânia.
Vários estudos transversais têm utilizado a informação "consumo de FLV cinco ou mais vezes por semana" como um indicador de proteção para DCNT44. Jaime PC, Figueiredo ICR, Moura EC, Malta DC. Fatores associados ao consumo de frutas e hortaliças no Brasil, 2006. Rev Saúde Pública 2009; 43(supl 2): 57-64. , 77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília; 2007. , 88. Jaime PC, Monteiro CA. Fruit and vegetable intake by Brazilian adults, 2003. Cad Saúde Pública 2005; 21(suppl 1): 19-24.. Da mesma forma, são identificados alguns indicadores de risco, como o consumo usual de alimentos fonte de gordura total, saturada e açúcar simples77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília; 2007..
No Brasil, a partir de 2006, com a implantação da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL)77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília; 2007., iniciou-se a vigilância contínua de fatores de risco e de proteção para DCNT. Sistemas de monitoramento em alimentação e nutrição são essenciais para explicar as relações entre nutrição e saúde, além de direcionar a definição de ações prioritárias para a área de alimentação e nutrição99. Jerome NW, Ricci JA. Food and nutrition surveillance: an international overview. Am J Clin Nutr 1997; 65(suppl 1): 1198S-202S., auxiliando na construção e consolidação do conhecimento acerca da influência das práticas alimentares sobre as DCNT33. Fung TT, Willett WC, Stampfer MJ, Manson JE, Hu FB. Dietary Patterns and the risk coronary heart disease in women. Arch Intern Med 2001; 161(15): 1857-62. , 1010. Jacques PF, Tucker K. Are dietary patterns useful for understanding the role of diet in chronic disease? Am J Clin Nutr 2001; 73(1): 1-2.. Nesse contexto, este artigo busca identificar os fatores sociodemográficos e comportamentais relacionados à prática alimentar da população adulta da cidade de Goiânia.
MÉTODOS
Para o desenvolvimento deste estudo foram utilizados dados da pesquisa "SIMTEL - CINCO CIDADES: implantação, avaliação e resultados de um sistema municipal de monitoramento de fatores de risco nutricionais para doenças crônicas não transmissíveis a partir de entrevistas telefônicas em cinco municípios brasileiros", aprovada e financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizada pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Liga de Hipertensão Arterial/Universidade Federal de Goiás (UFG). Esta pesquisa foi realizada no ano de 2005, em cinco cidades brasileiras: Belém, Florianópolis, Goiânia, Salvador e São Paulo. Neste artigo são apresentados os dados referentes à cidade de Goiânia.
Realizou-se estudo transversal de base populacional, entre maio e dezembro de 2005, abrangendo uma amostra probabilística da população adulta (> 18 anos) residente em domicílios atendidos pelo serviço de telefonia fixa no município de Goiânia (GO). Considerou-se um mínimo de 2.000 entrevistas, de modo a estimar, com intervalo de confiança de 95% (IC95%) e erro máximo de 3 pontos percentuais, a prevalência de qualquer fator de risco para as DCNT1111. Monteiro CA, Moura ECD, Jaime PC, Lucca A, Florindo AA, Figueiredo ICR et al. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por meio de entrevistas telefônicas. Rev Saúde Pública 2005; 39(1): 47-57.. A amostra efetivamente estudada constituiu-se de 2.002 indivíduos.
A pesquisa foi realizada por meio de entrevista telefônica. A amostra foi definida em duas etapas, sendo realizado sorteio estratificado por bairros e sistemático (fração 1/44) para definição das linhas telefônicas do banco (n = 7000), e sorteio aleatório simples para a seleção dos entrevistados. Em cada domicílio foi convidado um morador (> 18 anos) para responder à entrevista. Maiores detalhes sobre os procedimentos metodológicos podem ser obtidos em outras publicações1111. Monteiro CA, Moura ECD, Jaime PC, Lucca A, Florindo AA, Figueiredo ICR et al. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por meio de entrevistas telefônicas. Rev Saúde Pública 2005; 39(1): 47-57. , 1212. Peixoto MDRG, Monego ET, Alexandre VP, Souza RGMD, Moura ECD. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por entrevistas telefônicas: experiência de Goiânia. Cad Saúde Pública 2008; 24(6): 1323-33..
O instrumento utilizado para a obtenção das informações foi constituído por 76 perguntas inter-relacionadas e, na dependência das respostas, várias deixavam de ser realizadas. Utilizou-se a linguagem "fox-pro" para a construção do questionário, permitindo a leitura e marcação direta na tela do computador e a alimentação automática do banco de dados em formato "d-base". Visando o controle da qualidade, e com a concordância dos entrevistados, o conteúdo das entrevistas foi gravado. O questionário abordava questões relativas a características sociodemográficas, de estilo de vida, de saúde e consumo alimentar.
As variáveis sociodemográficas estudadas foram: sexo; idade (18 - 24, 25 - 34, 35 - 44, 45 - 54, 55 - 64, 65 anos ou mais); escolaridade (0 - 4, 5 - 8, 9 - 11, 12 ou + anos de estudo); cor da pele (branca ou não branca); estado civil (sem companheiro ou com companheiro); e trabalho remunerado (não ou sim).
As características relacionadas ao estilo de vida estudadas foram: a prática de atividade física (não ou sim), sendo considerados ativos os indivíduos que relataram alguma atividade física no lazer ou na ocupação ou no deslocamento para o trabalho ou na realização de limpeza doméstica. Além destas, observou-se o tabagismo, categorizado em não ou sim; a ingestão alcoólica de risco, baseada na referência ao consumo superior a 5 doses em pelo menos 1 ocasião no último mês (não ou sim)1313. World Health Organization. International Guide for Monitoring Alcohol Consumption and Related Harm. Geneva: World Health Organization; 2000.; e o relato de seguimento de dieta para perda de peso nos últimos 12 meses (não ou sim).
Como variável de saúde utilizou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), calculado pela razão do peso (kg) pelo quadrado da altura (m), ambos autorreferidos. O estado nutricional foi classificado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)1414. World Health Organization. Physical status: The use and interpretation of antropometry. Geneva: World Health Organization; 1995 (WHO Technical Report Series 854)., em baixo peso (IMC < 18,5 kg/m2), eutrófico (IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2), pré-obeso (IMC entre 25 e 29,9 kg/m2) e obeso (IMC > 30 kg/m2).
Dados referentes ao consumo alimentar foram obtidos por meio de questões diretas, identificando o consumo (não ou sim), em cinco ou mais dias da semana, de frutas, legumes/verduras e feijão, ou apenas o relato de consumo preferencial de leite integral, gordura aparente (gordura aparente da carne e/ou pele do frango) e refrigerante contendo açúcar, categorizados em não ou sim.
A construção das variáveis de consumo alimentar foi baseada nas diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília, DF; 2006. e nas recomendações da OMS22. World Health Organization. Diet, nutrition and prevention of chronic diseases. Report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva: World Health Organization; 2003 (WHO Technical Report Series 916).. Os alimentos foram classificados em alimentos de proteção ou de risco ao desenvolvimento de DCNT, de acordo com observações disponíveis na literatura1313. World Health Organization. International Guide for Monitoring Alcohol Consumption and Related Harm. Geneva: World Health Organization; 2000. , 1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília, DF; 2006.. Assim, o consumo de frutas ou legumes e verduras, superior ou igual a três vezes ao dia, em pelo menos cinco dias da semana e, para o feijão, o relato de ingestão regular (> 5 dias/semana), foram considerados como indicadores de consumo de proteção.
Como consumo alimentar de risco, caracterizando, portanto, uma prática alimentar não saudável, considerou-se o relato de ingestão de leite integral, gordura aparente e refrigerante contendo açúcar.
Para a avaliação da prática alimentar foi construído um somatório de escolhas alimentares saudáveis, sendo considerado valor zero (0) para as escolhas não saudáveis e valor um (1) para as saudáveis. Como escolhas saudáveis foram considerados o consumo de frutas maior ou igual a três vezes/dia, em pelo menos cinco dias da semana, consumo de legumes e verduras maior ou igual a três vezes/dia em cinco ou mais dias da semana, consumo de feijão maior ou igual a cinco dias na semana, relato do consumo de leite desnatado ou semidesnatado, prática de retirar a gordura aparente e a pele de aves e o não consumo de refrigerante com açúcar. Desse modo, o somatório variou de zero a seis, sendo que valores altos indicavam um predomínio de escolhas alimentares saudáveis. O somatório foi categorizado em quatro grupos de escolhas alimentares saudáveis: 0 e 1; 2; 3 e 4 a 6 escolhas. Optou-se por agregar as categorias 0 e 1 e também 4 a 6 escolhas alimentares, em decorrência do pequeno número de observações encontradas nos valores inferior (0) e superior (6).
O processamento de dados e as análises foram realizados com o auxílio do aplicativo Statistical Software for Professional (STATA), versão 7.0, empregando-se o conjunto de comandos "svy", considerando a natureza complexa da amostra. Aplicou-se um procedimento de ajuste para expandir os resultados à população adulta total do município, conforme descrito por Monteiro et al.1111. Monteiro CA, Moura ECD, Jaime PC, Lucca A, Florindo AA, Figueiredo ICR et al. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por meio de entrevistas telefônicas. Rev Saúde Pública 2005; 39(1): 47-57..
As análises estatísticas foram realizadas por sexo, sendo os resultados expressos em frequências com IC95% e médias com desvio padrão. Para verificar a significância estatística foram usados o teste do χ2, o teste para tendência, a análise de variância e o teste t de Student, considerando p < 0,05. Para avaliar a associação entre as variáveis independentes (sociodemográficas, comportamentais e antropométricas) e o desfecho (número de escolhas alimentares saudáveis), foi realizada regressão linear simples. As variáveis que mostraram associação (p < 0,20) foram testadas na análise de regressão linear múltipla hierarquizada. Foram mantidas, no modelo final, apenas as variáveis que se associaram ao desfecho (p < 0,05).
A regressão linear múltipla sugere que as variáveis de interesse sejam agrupadas em blocos, ordenados de acordo com a influência sobre o desfecho1616. Levin, J, Fox JA. Estatística para ciências humanas. São Paulo: Prentice Hall; 2004. 497p. , 1717. Victora CG, Huttly SR, Fuchs SC, Olinto MTA. The role of conceptual frameworks in epidemiological analysis: a hierarchical approach. Int J Epidemiol 1997; 26(1): 224-7.. O modelo conceitual hierarquizado utilizado neste estudo está apresentado na Figura 1. As variáveis do bloco 1 são consideradas fatores influenciadores mais distais, e as variáveis do último bloco fatores mais proximais. Neste estudo foram considerados três blocos de variáveis que influenciam a adoção de escolhas alimentares saudáveis. No primeiro bloco encontram-se os fatores socioeconômicos, tais como escolaridade, estado civil, trabalho remunerado, idade, cor autorreferida. No segundo bloco, as variáveis comportamentais, como prática de atividade física, tabagismo, consumo de álcool, prática de realização de dieta nos últimos 12 meses, cujo impacto sobre as escolhas alimentares sofre influência do primeiro bloco por fatores aqui não estudados. No bloco mais proximal foi inserido IMC como variável antropométrica analisada neste estudo e neste modelo.
Quanto aos aspectos éticos, por se tratar de entrevista por telefone, o termo de consentimento livre e esclarecido foi substituído pelo consentimento verbal obtido e gravado por ocasião dos contatos telefônicos. Este projeto foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP, de acordo com requisitos da Resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96, e financiado pelo CNPq, edital nº 30/2004. As autoras declaram não ter havido quaisquer conflitos de interesse no desenvolvimento desta pesquisa.
RESULTADOS
Foram realizadas 2.002 entrevistas, a partir de 2.738 linhas telefônicas elegíveis, definindo uma taxa de sucesso de 73,1%. As principais causas que impediram a realização das entrevistas foram: recusa (6,8%); linhas em que não se conseguiu contato após 10 chamadas (10,1%) realizadas em dias e períodos variados; e linhas fora de serviço ou inexistentes (2,8%)1212. Peixoto MDRG, Monego ET, Alexandre VP, Souza RGMD, Moura ECD. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por entrevistas telefônicas: experiência de Goiânia. Cad Saúde Pública 2008; 24(6): 1323-33..
Com relação às características sociodemográficas, observou-se que a amostra foi predominantemente composta por mulheres (53,4%, n = 1.239) e por indivíduos na faixa etária entre 18 e 44 anos (homens 86,1% e mulheres 84,5%), sem diferenças entre os sexos. A média de idade para os homens foi de 37,6 anos (± 15,2 anos) e para as mulheres de 38,2 anos (± 15,4 anos). A escolaridade média para homens e mulheres foi, respectivamente, de 8,2 (± 4,4) e 8,3 (± 4,5) anos de estudo. A maior parte dos homens (78,8%) e das mulheres (53,6%) relatou trabalhar, com diferença entre os sexos. Com relação à cor da pele e estado civil, observou-se um predomínio da autorreferência à cor não branca (61,6% dos homens e 56,4% das mulheres) e relato de união estável em 57,7% dos homens e 51,9% das mulheres, sem diferença estatística.
Na Tabela 1 são apresentadas as características relacionadas ao estilo de vida e ao consumo alimentar, por sexo. As frequências de prática de atividade física, tabagismo e consumo alcoólico de risco foram maiores para os homens (p < 0,001). O hábito de seguir dieta para redução de peso foi mais frequente para as mulheres (p < 0,001). Já na análise do consumo alimentar observa-se que homens e mulheres consomem pouca fruta e que as mulheres tenderam a consumir com maior frequência legumes e verduras e leite integral, porém estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Observou-se um maior consumo de feijão, gordura aparente das carnes e refrigerante com açúcar entre os homens (p < 0,05) (Tabela 1).
Quanto ao estado nutricional, os homens apresentaram maiores frequências de pré-obesidade (33,6%) e obesidade (9,7%) do que as mulheres (21,7% de pré-obesidade e 8,7% de obesidade).
Conforme descrição anterior, construiu-se um somatório de escolhas alimentares saudáveis, consideradas, portanto, fatores de proteção para as DCNT (Figura 2). Observou-se que apenas 13,6% dos homens e 21,5% das mulheres entrevistadas apresentaram entre 4 e 6 escolhas alimentares saudáveis. Na Tabela 2 são apresentadas as médias das escolhas alimentares saudáveis conforme as variáveis estudadas e os coeficientes de regressão linear simples, segundo as variáveis independentes. Observou-se que, para ambos os sexos, a idade e a prática de atividade física apresentaram associação direta com o somatório de escolhas alimentares saudáveis, já o consumo alcoólico de risco apresentou associação inversa. Entre as mulheres, a presença de trabalho remunerado também apresentou associação direta com as escolhas alimentares saudáveis. As demais variáveis pesquisadas não apresentaram associação significativa com o somatório de escolhas alimentares saudáveis.
Distribuição percentual do somatório de escolhas alimentares saudáveis segundo gênero. Goiânia, Brasil, 2005 (n = 2002).
Na análise de regressão linear múltipla hierarquizada foram testadas, para os homens, as variáveis: faixa etária, cor da pele, estado civil, trabalho remunerado, prática de atividade física, tabagismo e consumo alcoólico de risco. Para as mulheres, foram testadas as informações sobre faixa etária, escolaridade, estado civil, trabalho remunerado, prática de atividade física, tabagismo, consumo alcoólico de risco e IMC. Tais variáveis apresentaram p < 0,20 na análise de regressão linear simples (Tabela 2).
Nas Tabelas 3 e 4 são apresentados os coeficientes das variáveis que permaneceram no modelo após ajustes segundo blocos, para o sexo masculino e feminino, respectivamente. Para os homens, observou-se que o β aumentou com a idade e com a prática de atividade física. Para as mulheres, foi observado um aumento direto do coeficiente com a idade, com o relato de trabalho remunerado e com a prática de atividade física, enquanto que o aumento do IMC mostrou relação inversa com o somatório de escolhas alimentares saudáveis.
DISCUSSÃO
Neste estudo, o consumo de frutas e o consumo de legumes e verduras > 5 dias da semana, três vezes/dia apresentaram baixa distribuição para ambos os sexos. Com relação aos alimentos considerados de risco, observou-se o consumo mais frequente de leite integral por mulheres e carnes com gordura aparente pelos homens. Outro dado relevante se refere à relação direta entre as escolhas saudáveis e outros comportamentos de proteção como a prática de atividade física, indicando relação entre os comportamentos que promovem a saúde dos indivíduos.
Os alimentos aqui estudados são atualmente citados em diversas pesquisas epidemiológicas como influentes no desenvolvimento das DCNT33. Fung TT, Willett WC, Stampfer MJ, Manson JE, Hu FB. Dietary Patterns and the risk coronary heart disease in women. Arch Intern Med 2001; 161(15): 1857-62. , 77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília; 2007. , 1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília, DF; 2006. , 1919. World Health Organization. Report of a Joint FAO/WHO Consultation. Preparation and use of food-based dietary guidelines. Geneva: World Health Organization; 1998 (WHO Technical Report Series 880)..
Sabe-se que a confiabilidade das informações autorreferidas depende da capacidade de recordá-las, bem como da escolaridade dos participantes do estudo. A escolaridade influencia a escolha do alimento por mecanismos que permitem melhor compreensão de mensagens sobre a importância da alimentação saudável2020. Sichieri R. Dietary patterns and their associations with obesity in the Brazilian City of Rio de Janeiro. Obes Res 2002; 10(1): 1-6., fato que, associado à capacidade de recordar, pode definir a omissão ou o relato de práticas que são inaceitáveis ou indesejáveis, levando provavelmente a um retrato ameno da situação real da prevalência de fatores de risco1212. Peixoto MDRG, Monego ET, Alexandre VP, Souza RGMD, Moura ECD. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por entrevistas telefônicas: experiência de Goiânia. Cad Saúde Pública 2008; 24(6): 1323-33. , 2121. Turrell G, Hewitt B, Patterson C, Oldenburg B. Measuring socio-economic position in dietary research: is choice of socio-economic indicator important? Public Health Nutr 2003; 6(2): 191-200. , 2222. Peixoto MRG, Benício MHD, Jardim PCBV. Validade do peso e da altura auto-referidos: o estudo de Goiânia. Rev Saúde Pública 2006; 40(6): 1065-72..
No caso de estudos que optem por utilizar a estimativa de consumo de FLV, por meio de método simplificado, Serdula et al.2424. Serdula M, Coates R, Byers T, Mokdad A, Jewell S, Chávez N et al. Evaluation of a brief telephone questionnaire to estimate fruit and vegetable consumption in diverse study populations. Epidemiology 1993; 4(5): 455-63. observaram que a média de consumo diário mensurada pela pesquisa por telefone é geralmente similar à ingestão estimada por recordatório alimentar, porém, menor que a obtida por questionário de frequência alimentar expandido. Peixoto et al.1212. Peixoto MDRG, Monego ET, Alexandre VP, Souza RGMD, Moura ECD. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por entrevistas telefônicas: experiência de Goiânia. Cad Saúde Pública 2008; 24(6): 1323-33. ressaltam, em publicação com a mesma amostra deste estudo, que as diferenças entre as estimativas para a frequência de fatores de risco e proteção observadas na população adulta servida por linhas telefônicas e à população adulta total no Município de Goiânia são pequenas e não sistemáticas.
Nesta amostra, o consumo de fruta, em pelo menos cinco dias da semana, três vezes/dia, apresentou baixa distribuição para homens e mulheres (5,4 e 8,5%, respectivamente), indicando que parte da população estudada apresenta relatos compatíveis com maior risco de consumo inadequado de alimentos protetores e, consequentemente, de nutrientes, importantes para a prevenção de DCNT. Este fato se torna ainda mais preocupante ao se verificar que o relato de consumo de legumes e verduras, em 5 ou mais dias/semana, 3 ou mais vezes/dia, não chega a 25% da população masculina ou feminina estudada. Na análise por sexo, observa-se que as mulheres tendem a consumir com maior frequência estes alimentos.
Alguns estudos transversais encontraram maiores frequências de consumo de FLV no sexo feminino88. Jaime PC, Monteiro CA. Fruit and vegetable intake by Brazilian adults, 2003. Cad Saúde Pública 2005; 21(suppl 1): 19-24. , 2525. Neutzling MB, Rombaldi AJ, Azevedo MR, Hallal PC. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos de uma cidade no Sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2009; 25(11): 2365-74. , 2626. Figueiredo ICR, Jaime PC, Monteiro CA. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2008; 42(5): 777-85., em indivíduos mais velhos2525. Neutzling MB, Rombaldi AJ, Azevedo MR, Hallal PC. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos de uma cidade no Sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2009; 25(11): 2365-74., indivíduos com maior escolaridade2626. Figueiredo ICR, Jaime PC, Monteiro CA. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2008; 42(5): 777-85. , 27 27. Thompson FE, Midthune D, Subar AF, Mcneel T, Berrigan D, Kipnis V. Dietary intake estimates in the National Health Interview Survey, 2000: Methodology, results, and interpretation. J Am Diet Assoc 2005, 105(3): 352-61.e maior nível socioeconômico2525. Neutzling MB, Rombaldi AJ, Azevedo MR, Hallal PC. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos de uma cidade no Sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2009; 25(11): 2365-74..
Outro alimento considerado de proteção para DCNT é o feijão, fonte de proteínas vegetais, fibras e com baixo índice glicêmico1919. World Health Organization. Report of a Joint FAO/WHO Consultation. Preparation and use of food-based dietary guidelines. Geneva: World Health Organization; 1998 (WHO Technical Report Series 880).. Neste estudo, o consumo diário foi relatado por mais de 80% da população, podendo ser considerado alto quando comparado a outros estudos como o de Neumann, Shirassu e Fisberg1818. Neumann AIDLCP, Shirassu MM, Fisberg RM. Consumo de alimentos de risco e proteção para doenças cardiovasculares entre funcionários públicos. Rev Nutr 2006; 19(1): 19-28., que encontraram uma frequência de consumo na população em geral de 55,8%. Cabe destacar, no entanto, que em estudo realizado no Rio de Janeiro observou-se uma redução progressiva do consumo de alimentos básicos tradicionais, entre eles o feijão, e o aumento de alimentos ricos em açúcar e gorduras (lanches, pão, linguiça e salsicha) por mulheres com idade acima dos 35 anos2828. Pereira RA, Andrade RG, Sichieri R. Mudanças no consumo alimentar de mulheres do Município do Rio de Janeiro, Brasil, 1995-2005. Cad Saúde Pública 2009; 25(11): 2419-32., padrão de consumo também identificado na POF realizada em 2002/20032929. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003: análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2004. 76p..
Dados apresentados pelo estudo VIGITEL77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília; 2007. indicam maiores frequências de consumo de leite integral e de carne com gordura aparente na população masculina, enquanto que no presente estudo foi encontrado resultado semelhante apenas para o consumo de carne com gordura aparente, uma vez que as mulheres deste estudo apresentaram um maior consumo de leite integral. Estas frequências são consideradas elevadas, tendo em vista os benefícios obtidos com as escolhas alimentares mais saudáveis, como leite desnatado e carnes magras1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília, DF; 2006..
Outros resultados corroboram os encontrados neste estudo, no qual foi identificado maior consumo de gordura e açúcar entre os homens. Resultados de Fonseca, Chor e Valente3030. Fonseca MDJMD, Chor D, Valente JG. Hábitos alimentares entre funcionários de banco estatal: padrão de consumo alimentar. Cad Saúde Pública 1999; 15(1): 29-39. e Thompson et al.2727. Thompson FE, Midthune D, Subar AF, Mcneel T, Berrigan D, Kipnis V. Dietary intake estimates in the National Health Interview Survey, 2000: Methodology, results, and interpretation. J Am Diet Assoc 2005, 105(3): 352-61. também identificaram maior consumo de gordura e açúcar no sexo masculino.
Estudos têm relacionado o consumo de refrigerante, na sua forma com açúcar, ao aumento de peso e de cáries dentárias, além da baixa utilização de alimentos fonte de cálcio3131. Schulze MBS, Manson JE, Ludwig DS, Colditz, GA, Stampfer MJ, Willett WC et al. Sugar-Sweetened beverages, weight gain, and incidence of type 2 diabetes in young and middle-aged women. J Am Diet Assoc 2004; 292(8): 927-34. , 3232. Touger-Decker R, Loveren CV. Sugars and dental caries. Am J Clin Nutr 2003; 78(4): 881S-92S.. Segundo a POF 2002-2003, houve aumento de 400% na participação do refrigerante na aquisição domiciliar de alimentos pelos brasileiros, sendo este maior nas classes de menores rendimentos66. Levy-Costa RB, Sichieri R, Pontes NDS, Monteiro CA. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e evolução (1974-2003). Rev Saúde Pública 2005; 39(4): 530-40.. Este aumento, além dos efeitos prejudiciais do açúcar, está também associado a um padrão de consumo alimentar que se caracteriza por elevação da participação calórica de gorduras e redução na participação de outros carboidratos na dieta3333. Levy RB, Claro RM, Monteiro CA. Aquisição de açúcar e perfil de macronutrientes na cesta de alimentos adquirida pelas famílias brasileiras (2002-2003). Cad Saúde Pública 2010; 26(3): 472-80..
A análise do somatório das escolhas alimentares saudáveis demonstrou, para a população total, maiores frequências para até duas escolhas alimentares saudáveis, sendo o não predomínio por opções mais saudáveis considerado um risco para o desenvolvimento de DCNT. Destaca-se que, dentre os alimentos de proteção, as menores frequências foram observadas para o consumo de FLV.
Com relação à escolaridade, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes. Neumann, Shirassu e Fisberg1818. Neumann AIDLCP, Shirassu MM, Fisberg RM. Consumo de alimentos de risco e proteção para doenças cardiovasculares entre funcionários públicos. Rev Nutr 2006; 19(1): 19-28. relatam, a partir de média de consumo diário de alimentos de risco e de proteção, que a média de consumo de alimentos de risco é estatisticamente maior entre os indivíduos com nível de escolaridade fundamental em comparação àqueles com níveis de escolaridade médio ou superior.
Em geral, estudos indicam a existência de relação entre ingestão dietética e características de estilo de vida. Observa-se um maior consumo de frutas, legumes e verduras nos indivíduos que não fumam2525. Neutzling MB, Rombaldi AJ, Azevedo MR, Hallal PC. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos de uma cidade no Sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2009; 25(11): 2365-74. , 2727. Thompson FE, Midthune D, Subar AF, Mcneel T, Berrigan D, Kipnis V. Dietary intake estimates in the National Health Interview Survey, 2000: Methodology, results, and interpretation. J Am Diet Assoc 2005, 105(3): 352-61. , 3434. Ruowei L, Serdula M, Bland S, Mokdad A, Bowman B, Nelson D. Trends in fruit and vegetable consumption among adults in 16 US States: Behavioral Risk Factor Surveillance System, 1990-1996. Am J Public Health 2000; 90(5): 777-81. , 3535. Serdula MK, Gillespie C, Kettel-Khan L, Farris R, Seymour J, Denny C. Trends in fruit and vegetable consumption among adults in the United States: Behavioral Risk Factor Surveillance System, 1994-2000. Am J Public Health 2004; 94(6): 1014-8., não ingerem bebida alcoólica27 27. Thompson FE, Midthune D, Subar AF, Mcneel T, Berrigan D, Kipnis V. Dietary intake estimates in the National Health Interview Survey, 2000: Methodology, results, and interpretation. J Am Diet Assoc 2005, 105(3): 352-61.e que são fisicamente ativos2727. Thompson FE, Midthune D, Subar AF, Mcneel T, Berrigan D, Kipnis V. Dietary intake estimates in the National Health Interview Survey, 2000: Methodology, results, and interpretation. J Am Diet Assoc 2005, 105(3): 352-61. , 2828. Pereira RA, Andrade RG, Sichieri R. Mudanças no consumo alimentar de mulheres do Município do Rio de Janeiro, Brasil, 1995-2005. Cad Saúde Pública 2009; 25(11): 2419-32. , 3434. Ruowei L, Serdula M, Bland S, Mokdad A, Bowman B, Nelson D. Trends in fruit and vegetable consumption among adults in 16 US States: Behavioral Risk Factor Surveillance System, 1990-1996. Am J Public Health 2000; 90(5): 777-81. , 3535. Serdula MK, Gillespie C, Kettel-Khan L, Farris R, Seymour J, Denny C. Trends in fruit and vegetable consumption among adults in the United States: Behavioral Risk Factor Surveillance System, 1994-2000. Am J Public Health 2004; 94(6): 1014-8.. Com relação ao consumo de gordura, este tende a ser menor quando acompanhado de outras práticas saudáveis2727. Thompson FE, Midthune D, Subar AF, Mcneel T, Berrigan D, Kipnis V. Dietary intake estimates in the National Health Interview Survey, 2000: Methodology, results, and interpretation. J Am Diet Assoc 2005, 105(3): 352-61. , 3636. Levy RB, Claro RM, Monteiro CA. Aquisição de açúcar e perfil de macronutrientes na cesta de alimentos adquirida pelas famílias brasileiras (2002-2003). Cad Saúde Pública 2010; 26(3): 472-80..
Nesta pesquisa (Tabela 2), as análises associando as médias de escolhas alimentares saudáveis com as características sociodemográficas e de estilo de vida demonstraram maiores médias associadas à maior faixa etária e à prática de atividade física, em ambos os sexos. Estes achados são importantes ao se projetar a perspectiva de estratégias de promoção de hábitos de vida mais saudáveis. Estes dados são corroborados pela análise múltipla hierarquizada, onde, para os homens e mulheres, o número de escolhas alimentares saudáveis aumenta com a prática de atividade física, mesmo após ajuste pela faixa etária.
No caso do IMC, este permaneceu com associação inversa: as escolhas alimentares saudáveis valeram somente para as mulheres. No entanto, ressalta-se que este achado pode ter sofrido influência do delineamento transversal do estudo, que não permite o estabelecimento da relação de causa e efeito entre os eventos estudados. Portanto, na presente pesquisa, os achados referentes às escolhas alimentares saudáveis podem ter sofrido influência de acesso a informações sobre a importância de adoção de hábitos alimentares saudáveis, devido ao diagnóstico prévio de alguma doença.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a população estudada apresenta um predomínio de escolhas alimentares não saudáveis (baixo consumo de FLV; preferência por consumo de leite integral, gordura aparente e refrigerante com açúcar), sendo identificadas associações com características sociodemográficas e de estilo de vida, tanto de risco quanto de proteção para o desenvolvimento das DCNT.
Os dados aqui apresentados poderão ser utilizados, para a cidade de Goiânia e outros centros urbanos, na disseminação de informações para os profissionais de saúde e população em geral e no apoio ao planejamento de programas específicos voltados para a prevenção e redução das DCNT. São também interessantes em relação a uma perspectiva positiva mais ampla de planejamento na área de alimentação e nutrição, tendo em vista a proposta apresentada para análise das práticas alimentares referidas.
Estes resultados podem colaborar, ainda, para a efetivação da recomendação da Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, referente ao monitoramento e vigilância das DCNT, identificando caminhos para a redução da morbimortalidade associada a estes fatores de risco.
Este estudo expõe a necessidade de realização de ações de educação em saúde pautadas no conceito ampliado de saúde que busquem consolidar escolhas saudáveis mais factíveis na comunidade, considerando, assim, os princípios da promoção da saúde.
Destaca-se, ainda, a importância da utilização de sistemas de vigilância por telefone, tendo em vista a agilidade, baixo custo operacional e capacidade de acompanhar de forma mais próxima a evolução de fatores de risco e proteção nas populações.
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- Fonte de financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Edital CT - Saúde/MCT/MS/CNPq, nº 30/2004 - Alimentação e Nutrição.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Mar 2014
Histórico
- Recebido
19 Fev 2011 - Revisado
19 Maio 2011 - Aceito
08 Set 2011