Lançado em 2014 pela Editora Coopmed, o Dicionário de Epidemiologia, de autoria de Carlos Henrique Mudado Malleta, visa preencher uma lacuna no idioma português quanto a obras de consulta de termos relacionados à epidemiologia. A motivação para a obra, conforme relatada pelo autor, foi apresentar noções indispensáveis de epidemiologia, bioestatística e metodologia, em linguagem de fácil acesso.
Diferentemente da obra Dictionary of Epidemiology de John Last et al.11. Last JM, Spasoff RA, Harris SS, editors. A dictionary of epidemiology. 4th ed. New York: Oxford University Press; 2000., e depois atualizada e editada por Miquel Porta22. Porta M, editor. A dictionary of epidemiology. 6th ed. New York: Oxford University Press; 2014., a qual inspirou o livro e que compila termos definidos por diversos especialistas em epidemiologia e áreas afins, o autor desse dicionário brasileiro realizou toda a pesquisa para as definições apresentadas no dicionário. Dessa forma, o autor não contou com a ajuda de colaboradores, como tem sido a obra continuamente editada pela International Epidemiological Association11. Last JM, Spasoff RA, Harris SS, editors. A dictionary of epidemiology. 4th ed. New York: Oxford University Press; 2000.,22. Porta M, editor. A dictionary of epidemiology. 6th ed. New York: Oxford University Press; 2014., que contou com quase 200 colaboradores em sua última versão.
Esse pode ser considerado um ponto de diferenciação da obra nacional, no sentido de que compila as definições e termos por um único autor, o que permitiu que um padrão fosse mantido na forma de apresentar os termos, dado que todos foram realizados pelo mesmo pesquisador. Além disso, diferentemente da obra internacional, o autor privilegiou personalidades de importância para a saúde pública, especificamente brasileira, como Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz e Carlos Chagas, para os quais uma pequena biografia foi apresentada. Na obra de Porta não são apresentadas biografias de personalidades da Epidemiologia, como a de John Snow, por exemplo.
Os termos são dispostos em ordem alfabética. Ao lado de cada um, o autor apresenta a tradução da expressão. Foi possível verificar problemas em algumas traduções, como, por exemplo, eficácia que foi traduzida como effectiveness , sendo que há, de maneira geral, consenso que eficácia se refere a efficacy , ou seja, alcance de objetivos em condições ideais (exemplo: em um ensaio clínico randomizado), ao passo que effectiveness é a efetividade, resultados obtidos em condições do mundo real, não controlado. Nesse sentido, a obra não apresenta tal diferenciação. Ainda no que diz respeito à tradução, a obra pode oferecer melhorias, em termos como fecundidade (fertility ), que foi chamada pelo autor de fecundity . Do ponto de vista da demografia, a diferença entre os dois termos tem importância e, portanto, não pode ser chamada de forma intercambiável. Outros termos poderiam sofrer revisão, como a expressão "casa de uma tabela", traduzida como "house from a table ".
Além dos termos epidemiológicos e bioestatísticos, o dicionário apresenta diversas definições de termos médicos e biológicos, como: disfagia, epistaxe, fagócito e fômites.
Alguns assuntos são mais detalhados pelo autor, como por exemplo, ofidismo, que ganhou espaço de quase duas páginas no texto. O pesquisador também apresenta várias fórmulas de taxas e suas definições, como taxa de mortalidade materna e taxa de natalidade, dentre outras. Outros assuntos não foram incluídos na obra, como uma explanação de "Classificação Internacional de Doenças (CID)" ou a definição de "anos de vida ajustados pela qualidade", medida que vem sendo utilizada em ensaios clínicos randomizados e outros estudos. Por outro lado, o autor apresenta a definição de "anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALY)".
O livro poderia ser também enriquecido com o acréscimo das definições dos diferentes tipos de vieses.
De maneira geral, a obra corresponde às aspirações do escritor, no sentido de ter uma linguagem acessível que pudesse ser utilizada por estudantes de graduação e pós-graduação, e outros profissionais em suas consultas. O autor reconhece a dificuldade de uma obra de compilação como essa, dada a divergência de conceitos entre especialistas, o que pode ser uma tarefa hercúlea, e, certamente, a escolha dos termos incluídos reflete a despretensão de que fosse uma obra exaustiva sobre todos os termos de epidemiologia e áreas afins.
REFERÊNCIAS
- 1Last JM, Spasoff RA, Harris SS, editors. A dictionary of epidemiology. 4th ed. New York: Oxford University Press; 2000.
- 2Porta M, editor. A dictionary of epidemiology. 6th ed. New York: Oxford University Press; 2014.
- Fonte de financiamento: nenhuma.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2016
Histórico
- Recebido
09 Abr 2015 - Aceito
18 Ago 2015