RESUMO:
Objetivo:
Avaliar a validade da massa corporal e da estatura autorreferidas em adolescentes, adultos e idosos segundo sexo, idade, nível de atividade física no lazer, estado nutricional e fatores de risco cardiometabólicos.
Métodos:
Participaram do estudo 856 sujeitos, com 12 anos ou mais, que responderam ao Inquérito de Saúde de São Paulo (ISA-2015) e que possuíam a massa corporal e a estatura autorreferidas e aferidas. Com base no índice de massa corporal, realizou-se uma classificação do estado nutricional de acordo com critérios padronizados para cada fase da vida. A validade das medidas autorreferidas foi examinada usando o coeficiente de correlação intraclasse, Bland-Altman e o teste t pareado. Utilizaram-se regressões lineares para elaborar os coeficientes de calibração, e realizaram-se testes de sensibilidade e especificidade.
Resultados:
Os principais resultados apontam que os valores de massa corporal e estatura autorreferidas tendem a ser bem similares aos aferidos, apesar de algumas exceções. Para os adolescentes, notou-se uma subestimação da estatura, ao passo que, para os idosos, houve superestimação. Com relação à massa corporal, houve consistente subestimação da medida autorreferida entre as mulheres. Entre os homens que praticavam menos de 150 minutos semanais de atividade física no lazer, notou-se superestimação do índice de massa corporal. O processo de calibração das medidas autorreferidas tornou-as mais concordantes com as medidas aferidas, aumentando a sensibilidade na classificação do estado nutricional entre as mulheres e a especificidade entre os homens.
Conclusões:
As medidas autorreferidas de estatura, massa corporal e índice de massa corporal forneceram medidas válidas e confiáveis, apresentando melhoras substanciais após a calibração.
Palavras-chave:
Estudo de validação; Inquéritos epidemiológicos; Peso corporal; Estatura; Índice de massa corporal; Sensibilidade e especificidade
INTRODUÇÃO
Massa corporal (MC) e estatura autorreferidas são frequentemente utilizadas para o cálculo do índice de massa corporal (IMC) a fim de quantificar o excesso de peso e a obesidade em estudos epidemiológicos11. The Global BMI Mortality Collaboration. Body-mass index and all-cause mortality: individual-participant-data meta-analysis of 239 prospective studies in four continents. Lancet 2016; 388(10046): 776-86. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30175-1
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/... . Tal fato se deve às facilidades logísticas e de obtenção dos dados, bem como à redução de custo e tempo na coleta das informações por meio de questionários ou entrevistas, quando comparado com a aferição das medidas antropométricas22. Peixoto MRG, Benício MHD, Jardim PCB. Validade do peso e da altura autorreferidos: o estudo de Goiânia. Rev Saúde Pública 2006; 40(6): 1065-72. https://doi.org/10.1590/S0034-89102006000700015
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/... .
Contudo valores autorreferidos de MC e estatura estão suscetíveis a importantes limitações, por exemplo, viés de desejabilidade social33. Burke MA, Carman KG. You can be too thin (but not too tall): Social desirability bias in self-reports of weight and height. Econ Hum Biol 2017; 27(Parte A): 198-222. https://doi.org/10.1016/j.ehb.2017.06.002
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/... , dificuldades de memória e percepção da imagem corporal44. Madrigal H, Sánchez-Villegas A, Martínez-González MA, Kearney J, Gibney MJ, De Irala J, et al. Underestimation of body mass index through perceived body image as compared to self-reported body mass index in the European Union. Public Health 2000; 114(6): 468-73. https://doi.org/10.1038/sj.ph.1900702
https://doi.org/https://doi.org/10.1038/... . Dessa forma, é essencial avaliar a extensão do erro presente no cálculo do IMC com base em medidas autorreferidas antes de aplicá-las em estudos epidemiológicos. Do contrário, informações incorretas para o cálculo do IMC podem produzir resultados imprecisos de associações com outros indicadores de saúde.
Estudos de revisão apontam que, geralmente, as pessoas tendem a superestimar a estatura e subestimar a MC55. Anai A, Ueda K, Harada K, Katoh T, Fukumoto K, Wei CN. Determinant factors of the difference between self-reported weight and measured weight among Japanese. Environ Health Prev Med 2015; 20: 447-54. https://doi.org/10.1007/s12199-015-0489-8
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/... ,66. Spencer EA, Appleby PN, Davey GK, Key TJ. Validity of self-reported height and weight in 4808 EPIC-Oxford participants. Public Health Nutr 2002; 5(4): 561-5. https://doi.org/10.1079/phn2001322
https://doi.org/https://doi.org/10.1079/... ,77. Gorber SC, Tremblay M, Moher D, Gorber B. A comparison of direct vs. self-report measures for assessing height, weight and body mass index: A systematic review. Obes Rev 2007; 8(4): 307-26. https://doi.org/10.1111/j.1467-789x.2007.00347.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/... , levando a um potencial viés nas estimativas do IMC77. Gorber SC, Tremblay M, Moher D, Gorber B. A comparison of direct vs. self-report measures for assessing height, weight and body mass index: A systematic review. Obes Rev 2007; 8(4): 307-26. https://doi.org/10.1111/j.1467-789x.2007.00347.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/... ,88. Maukonen M, Männistö S, Tolonen H. A comparison of measured versus self-reported anthropometrics for assessing obesity in adults: a literature review. Scand J Public Health 2018; 46(5): 565-79. https://doi.org/10.1177/1403494818761971
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/... . Outros estudos identificaram diversos fatores que estão associados ao relato impreciso da estatura e/ou da MC, incluindo sexo, estatura e MC aferidas, estado nutricional, consultas médicas recentes e histórico de saúde99. Gillum RF, Sempos CT. Ethnic variation in validity of classification of overweight and obesity using self-reported weight and height in American women and men: The Third National Health and Nutrition Examination Survey. Nutr J 2005; 4: 27. https://doi.org/10.1186/1475-2891-4-27
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,1010. Kuczmarski MF, Kuczmarski RJ, Najjar M. Effects of age on validity of self-reported height, weight, and body mass index: Findings from the third National Health and Nutrition Examination Survey, 1988-1994. J Am Diet Assoc 2001; 101(1): 28-34. https://doi.org/10.1016/S0002-8223(01)00008-6
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/... ,1111. Merrill RM, Richardson JS. Validity of self-reported height, weight, and body mass index: Findings from the national health and nutrition examination survey, 2001-2006. Prev Chronic Dis 2009; 6(4): A121.,1212. Rowland ML. Self-reported weight and height. Am J Clin Nutr 1990; 52(6): 1125-33. https://doi.org/10.1093/ajcn/52.6.1125
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/... ,1313. Sahyoun NR, Maynard LM, Zhang XL, Serdula MK. Factors associated with errors in self-reported height and weight in older adults. J Nutr Heal Aging 2008; 12: 108-15. https://doi.org/10.1007/BF02982562
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/... ,1414. Villanueva E V. The validity of self-reported weight in US adults: A population based cross-sectional study. BMC Public Health 2001; 1: 11. https://doi.org/10.1186/1471-2458-1-11
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,1515. Cozma I, Kukaswadia A, Janssen I, Craig W, Pickett W. Active transportation and bullying in Canadian schoolchildren: A cross-sectional study. BMC Public Health 2015; 15: 99. https://doi.org/10.1186/s12889-015-1466-2
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,1616. Craig BM, Adams AK. Accuracy of body mass index categories based on self-reported height and weight among women in the United States. Matern Child Health J 2009; 13: 489-96. https://doi.org/10.1007/s10995-008-0384-7
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/... ,1717. Wen M, Kowaleski-Jones L. Sex and ethnic differences in validity of self-reported adult height, weight and body mass index. Ethn Dis 2012; 22(1): 72-8. https://doi.org/10.13016/0sok-jed1
https://doi.org/https://doi.org/10.13016... e estado nutricional1818. Stommel M, Schoenborn CA. Accuracy and usefulness of BMI measures based on self-reported weight and height: Findings from the NHANES & NHIS 2001-2006. BMC Public Health 2009; 9: 421. https://doi.org/10.1186/1471-2458-9-421
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,1919. Lin CJ, Deroo LA, Jacobs SR, Sandler DP. Accuracy and reliability of self-reported weight and height in the Sister Study. Public Health Nutr 2012; 15(6): 989-9. https://dx.doi.org/10.1017%2FS1368980011003193
https://doi.org/https://dx.doi.org/10.10... ,2020. May AM, Barnes DR, Forouhi NG, Luben R, Khaw KT, Wareham NJ, et al. Prediction of measured weight from self-reported weight was not improved after stratification by body mass index. Obesity 2013; 21(1): E137-E142. https://doi.org/10.1002/oby.20141
https://doi.org/https://doi.org/10.1002/... . Especificamente em relação à idade, a literatura não possui evidências claras. Enquanto estudos apontam que diferenças entre a MC real e a autorreferida tendem a aumentar com a idade1010. Kuczmarski MF, Kuczmarski RJ, Najjar M. Effects of age on validity of self-reported height, weight, and body mass index: Findings from the third National Health and Nutrition Examination Survey, 1988-1994. J Am Diet Assoc 2001; 101(1): 28-34. https://doi.org/10.1016/S0002-8223(01)00008-6
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/... ,2121. Großschädl F, Haditsch B, Stronegger WJ. Validity of self-reported weight and height in Austrian adults: Sociodemographic determinants and consequences for the classification of BMI categories. Public Health Nutr 2012; 15(1): 20-7. https://doi.org/10.1017/S1368980011001911
https://doi.org/https://doi.org/10.1017/... , outros apontam uma relação em forma de U, com mais jovens e mais velhos subestimando-a1818. Stommel M, Schoenborn CA. Accuracy and usefulness of BMI measures based on self-reported weight and height: Findings from the NHANES & NHIS 2001-2006. BMC Public Health 2009; 9: 421. https://doi.org/10.1186/1471-2458-9-421
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... , ou, ainda, que a idade não influencia a precisão da medida autorrelatada2222. Finardi P, Nickel CH, Koller MT, Bingisser R. Accuracy of self-reported weight in a high risk geriatric population in the emergency department. Swiss Med Wkly 2012; 142: w13585. https://doi.org/10.4414/smw.2012.13585
https://doi.org/https://doi.org/10.4414/... ,2323. Dahl AK, Hassing LB, Fransson EI, Pedersen NL. Agreement between self-reported and measured height, weight and body mass index in old age-a longitudinal study with 20 years of follow-up. Age Ageing 2010; 39(4): 445-51. https://doi.org/10.1093/ageing/afq038
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/... .
Embora haja considerável corpo de evidências referente ao comportamento das medidas autorreferidas entre os sexos e o estado nutricional, existem poucas evidências de como essas medidas se comportam em função dos fatores de risco cardiometabólicos, como inatividade física, hipertensão, dislipidemia, diabetes24-2626. Wilson OWA, Bopp CM, Papalia Z, Bopp M. Objective vs self-report assessment of height, weight and body mass index: Relationships with adiposity, aerobic fitness and physical activity. Clin Obes 2019; 9(5): e12331. https://doi.org/10.1111/cob.12331
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/... , ainda que essas medidas autorreferidas sejam frequentemente usadas em estudos epidemiológicos2727. Keith SW, Fontaine KR, Pajewski NM, Mehta T, Allison DB. Use of self-reported height and weight biases the body mass index-mortality association. Int J Obes 2011; 35: 401-8. https://doi.org/10.1038/ijo.2010.148
https://doi.org/https://doi.org/10.1038/... . Justifica-se explorar a acurácia dessas medidas, especificamente nesses subgrupos, pois a presença dessas condições pode alterar a precisão com a qual os indivíduos referem suas informações. Poderia haver, por exemplo, maior conhecimento por conta de um acompanhamento médico mais frequente ou, ainda, maior sub-relato da MC por conta do estigma associado a essas condições2828. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Sistemas e Aplicativos Epidemiológicos. HIPERDIA - Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos [Internet]. Brasil: Ministério da Saúde [acessado em 1º dez. 2020]. Disponível em: Disponível em: http://datasus1.saude.gov.br/sistemas-e-aplicativos/epidemiologicos/hiperdia
http://datasus1.saude.gov.br/sistemas-e-... ,2929. Phelan SM, Burgess DJ, Yeazel MW, Hellerstedt WL, Griffin JM, Van Ryn M. Impact of weight bias and stigma on quality of care and outcomes for patients with obesity. Obes Rev 2015; 16(4): 319-26. https://doi.org/10.1111/obr.12266
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/... .
Outra lacuna a ser explorada envolve o processo de calibração, no qual declarações imprecisas da MC e da estatura tornam-se mais acuradas por meio de ajustes estatísticos. Embora estudos, tanto no Brasil3030. Carvalho AM, Piovezan LG, Castro Selem SS, Fisberg RM, Marchioni DML. Validação e calibração de medidas de peso e altura autorreferidas por indivíduos da cidade de São Paulo. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(3): 735-46. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400030013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/... ,3131. Ferriani LO, Coutinho ESF, Silva DA, Faria CP, Molina MDCB, Benseñor IJM, et al. Subestimativa de obesidade e sobrepeso a partir de medidas autorrelatadas na população geral: prevalência e proposta de modelos para correção. Cad Saude Publica 2019; 35(6): e00065618. https://doi.org/10.1590/0102-311X00065618
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/... como em outros países do mundo3232. Neermark S, Holst C, Bisgaard T, Bay-Nielsen M, Becker U, Tolstrup JS. Validation and calibration of self-reported height and weight in the Danish Health Examination Survey. Eur J Public Health 2019; 29(2): 291-6. https://doi.org/10.1093/eurpub/cky187
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/... ,3333. Bolton-Smith C, Woodward M, Tunstall-Pedoe H, Morrison C. Accuracy of the estimated prevalence of obesity from self reported height and weight in an adult Scottish population. J Epidemiol Community Heal 2000; 54: 143-8. https://doi.org/10.1136/jech.54.2.143
https://doi.org/https://doi.org/10.1136/... ,3434. Hayes AJ, Clarke PM, Lung TWC. Change in bias in self-reported body mass index in Australia between 1995 and 2008 and the evaluation of correction equations. Popul Health Metr 2011; 9: 53. https://doi.org/10.1186/1478-7954-9-53
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,3535. Kuskowska-Wolk A, Rössner S. The “True” Prevalence of Obesity: A comparison of objective weight and height measures versus self-reported and calibrated data. Scand J Prim Health Care 1989; 7(2): 79-82. https://doi.org/10.3109/02813438909088651
https://doi.org/https://doi.org/10.3109/... , tenham realizado esse tipo de estratégia, a magnitude dessa possível melhora ainda é pouco explorada.
Assim, os objetivos do presente estudo foram:
analisar a relação e a validade da MC e da estatura autorreferidas, segundo sexo, idade, atividade física no lazer, estado nutricional e fatores de risco cardiometabólicos;
elaborar coeficientes de calibração para ajuste das medidas de MC, estatura e IMC, para cada um dos subgrupos citados.
MÉTODOS
O presente estudo faz parte do Inquérito de Saúde de São Paulo, estudo transversal de base populacional, realizado em 2014/15 na cidade de São Paulo, Brasil (ISA-2015)3636. Prefeitura de São Paulo. Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital) [Internet]. São Paulo: Prefeitura de São Paulo; 2016 [acessado em 1º dez. 2020]. Disponível em: Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/epidemiologia_e_informacao/isacapitalsp/index.php?p=216392
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/s... . Esse conjunto de dados também faz parte da linha de base do estudo longitudinal intitulado “ISA: Atividade Física e Ambiente”3737. Florindo AA, Teixeira IP, Barrozo LV, Sarti FM, Fisberg RM, Andrade DR, et al. Study protocol: health survey of Sao Paulo: ISA-Physical Activity and Environment. BMC Public Health 2021; 21: 283. https://doi.org/10.1186/s12889-021-10262-5
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... , cujo objetivo é verificar as relações entre o ambiente construído onde as pessoas vivem e trabalham e as práticas de atividade física no tempo de lazer e na forma de transporte e entre esse ambiente e o estado nutricional. A cidade de São Paulo possui 12.325.232 milhões de habitantes, com uma densidade populacional de 7.398,26 habitantes por km23838. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). IBGE cidades [Internet]. 2020 [acessado em 1º dez. 2020]. Disponível em: Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sa... .
Utilizou-se uma subamostra do ISA-2015, em um estudo denominado ISA-Nutrição3939. Fisberg RM, Sales CH, De Mello Fontanelli M, Pereira JL, Alves MCGP, Escuder MML, et al. 2015 health survey of São Paulo with focus in nutrition: Rationale, design, and procedures. Nutrients 2018; 10(2): 169. https://doi.org/10.3390/nu10020169
https://doi.org/https://doi.org/10.3390/... , que, além de participar da linha de base do inquérito (n = 4.043), participou de outras duas etapas subsequentes: aplicação do recordatório alimentar (n = 1.737) e coleta de amostra sanguínea, aferição da pressão arterial e avaliação antropométrica (n = 901)3939. Fisberg RM, Sales CH, De Mello Fontanelli M, Pereira JL, Alves MCGP, Escuder MML, et al. 2015 health survey of São Paulo with focus in nutrition: Rationale, design, and procedures. Nutrients 2018; 10(2): 169. https://doi.org/10.3390/nu10020169
https://doi.org/https://doi.org/10.3390/... . Em linhas gerais, a amostragem da linha de base foi feita por conglomerados e estratificada em dois estágios (setores censitários urbanos e domicílios), e todos os residentes com 12 anos ou mais foram convidados a participar do estudo4040. Alves MCGP, Escuder MML, Goldbaum M, Barros MBA, Fisberg RM. Sampling plan in health surveys, city of São Paulo, Brazil, 2015. Rev Saude Publica 2018; 52: 81. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2018052000471
https://doi.org/https://doi.org/10.11606... .
Dos 901 sujeitos que participaram do ISA-Nutrição, 856 possuíam MC e estatura autorreferidas e aferidas. As medidas autorreferidas foram obtidas pelas perguntas: “Qual seu peso?” e “Qual sua altura?”.
Mediram-se a MC e a estatura dos participantes em duplicata, e, caso houvesse diferença de ≥ 5% entre as medidas, era coletada uma medida adicional e descartada a medida discrepante.
A coleta foi conduzida por quatro técnicos em enfermagem treinados, com experiência prévia em coleta de medidas antropométricas. O treinamento embasou-se em manual produzido para esse propósito4141. Fisberg RM, Marchioni DML. Manual de avaliação do consumo alimentar em estudos populacionais: a experiência do Inquérito de Saúde de São Paulo. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2012. v. 1. 197 p. e nas recomendações do Ministério da Saúde4242. Brasil. Ministério da Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasil: Ministério da Saúde ; 2011. 76 p..
Após a primeira semana de coleta de dados, realizou-se um novo treinamento para padronizar os procedimentos e sanar possíveis dúvidas. Adicionalmente, houve encontros diários entre os antropometristas e a equipe de coordenadores para verificar os dados coletados, discutir dificuldades e esclarecer dúvidas.
Durante a coleta de dados, os participantes permaneciam descalços, vestindo roupas leves e sem adornos que pudessem interferir na medição3939. Fisberg RM, Sales CH, De Mello Fontanelli M, Pereira JL, Alves MCGP, Escuder MML, et al. 2015 health survey of São Paulo with focus in nutrition: Rationale, design, and procedures. Nutrients 2018; 10(2): 169. https://doi.org/10.3390/nu10020169
https://doi.org/https://doi.org/10.3390/... . Para aferir a MC, utilizou-se uma balança digital (Tanita®, modelo HD-313, com precisão de 100 g), calibrada e checada diariamente, apoiada em uma superfície plana, firme, lisa e afastada da parede. Os indivíduos eram posicionados no centro da balança, em posição ortostática, com pés paralelos e unidos, e braços posicionados ao longo do corpo. Para aferir a estatura, utilizou-se um estadiômetro portátil (Seca®, modelo 208, com precisão de 0,1 cm) fixado em parede lisa e sem rodapé, com a cabeça dos indivíduos posicionada no plano de Frankfürt, com calcanhares, panturrilhas, nádegas, ombros e parte posterior da cabeça tocando a parede e parte superior da cabeça encostada na haste do estadiômetro.
O tempo médio decorrido entre o relato das medidas e sua aferição foi de 131,9 desvios padrão = 118,5 dias. Os valores médios de MC e estatura de cada participante foram utilizados para o cálculo do IMC, sendo este empregado para classificar o estado nutricional dos participantes em três categorias. Classificaram-se os adolescentes (12 a 17 anos) como sem excesso de peso quando apresentavam IMC ≤ +1 desvio padrão (dp) do Z-score para IMC/idade, sobrepeso aqueles com +1 dp < IMC ≤ +2 dp e obesidade para aqueles que apresentavam IMC > +2 dp4343. Organização Mundial da Saúde. Growth reference data for 5-19 years [Internet]. Organização Mundial da Saúde; 2007 [acessado em 1º dez. 2020]. Disponível em: Disponível em: https://www.who.int/growthref/en/
https://www.who.int/growthref/en/... . Para os adultos e idosos (18 anos ou mais), adotou-se como pontos de corte: IMC < 25 kg/m2 = sem excesso de peso, 25 kg/m2 ≤ IMC < 30 kg/m2 = sobrepeso e IMC ≥ 30 kg/m2 = obesidade4444. Organização Mundial da Saúde. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Organização Mundial da Saúde; 2000.
Classificaram-se como fisicamente ativos no lazer aqueles que realizavam pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos semanais de atividade vigorosa ou a combinação equivalente de moderadas e vigorosas. Avaliaram-se as informações sobre atividades físicas no lazer por meio do International Physical Activity Questionnaire, versão longa4545. Hallal PC, Gomez LF, Parra DC, Lobelo F, Mosquera J, Florindo AA, et al. Lessons Learned After 10 Years of IPAQ Use in Brazil and Colombia. J Phys Act Heal 2010; 7(Suppl. 2): S259-S264. https://doi.org/10.1123/jpah.7.s2.s259
https://doi.org/https://doi.org/10.1123/... .
Categorizaram-se os participantes em dois grupos de risco cardiometabólico, tendo como ponto de corte três ou mais das seguintes condições:
obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2 para adultos4646. World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO Consultation. WHO; 2000. e IMC > +2 dp para adolescentes);
diabetes (glicemia plasmática de jejum ≥ 126 mg/dL ou tratamento medicamentoso para diabetes) ou resistência à insulina (HOMA-IR ≥ 2,71)4747. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020 [Internet]. Sociedade Brasileira de Diabetes; 2019 [acessado em 1 dez. 2020]. Disponível em: Disponível em: https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/DIRETRIZES-COMPLETA-2019-2020.pdf
https://www.diabetes.org.br/profissionai... ;hipertensão (uso de medicamentos anti-hipertensivos ou pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg para adultos, ou PAS ou PAD > Percentil 95 de sexo, idade e altura para adolescentes de 12 e 13 anos, ou PAS ≥ 130 ou PAD ≥ 80 para adolescentes de 14 a 19 anos)4848. Précoma DB, Oliveira GMM, Simão AF, Dutra OP, Coelho OR, Izar MC de O, et al. Updated cardiovascular prevention guideline of the Brazilian society of cardiology - 2019. Arq Bras Cardiol 2019; 113(4): 787-891. https://doi.org/10.5935/abc.20190204
https://doi.org/https://doi.org/10.5935/... ;dislipidemia (tratamento medicamentoso para dislipidemia ou colesterol lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) ≥ 160 mg/dL para adultos ou LDL-C ≥ 130 mg/dL para adolescentes, ou colesterol lipoproteína de alta densidade (HDL-C) ≤ 40 mg/dL para homens, ≤ 50 mg/dL para mulheres, HDL-C < 45 para adolescentes, ou triglicerídeos ≥ 150 mg/dL para adultos ou ≥ 130 mg/dL para adolescentes)4848. Précoma DB, Oliveira GMM, Simão AF, Dutra OP, Coelho OR, Izar MC de O, et al. Updated cardiovascular prevention guideline of the Brazilian society of cardiology - 2019. Arq Bras Cardiol 2019; 113(4): 787-891. https://doi.org/10.5935/abc.20190204
https://doi.org/https://doi.org/10.5935/... .
Após verificação da distribuição de aderência à curva de normalidade, pela análise de assimetria e curtose, os parâmetros descritivos foram apresentados por meio de médias e intervalos de confiança de 95%.
A validade das medidas autorreferidas, em relação à MC e à estatura aferidas, foi examinada usando o coeficiente de correlação intraclasse (CCI), a análise de Bland-Altman e o teste t pareado. Para classificação do CCI, valores inferiores a 0,4 foram classificados como pobre concordância, 0,4 ≤ CCI < 0,6 razoável concordância, 0,6 ≤ CCI < 0,75 boa concordância e ≥ 0,75 excelente concordância4949. Cicchetti DV. Guidelines, Criteria, and Rules of Thumb for Evaluating Normed and Standardized Assessment Instruments in Psychology. Psychol Assess 1994; 6(4): 284-90. https://doi.org/10.1037/1040-3590.6.4.284
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/... .
Adicionalmente, realizaram-se modelos de regressão linear para elaborar os coeficientes de calibração utilizando a equação y = B0 + B1x, sendo y a medida aferida, x a medida referida, B0 o coeficiente linear e B1 o coeficiente angular. Todas as análises foram feitas de forma estratificada por sexo, faixa etária, estado nutricional, nível de atividade física no lazer e risco cardiometabólico.
Calcularam-se a sensibilidade e a especificidade, estratificadas por sexo, excesso de peso e obesidade, tanto para o IMC com base nas medidas referidas quanto para o IMC calibrado, tendo como método de referência a medida aferida. Complementarmente, foram calculadas as proporções de indivíduos com excesso de peso com base nas medidas referidas, medidas e calibradas e realizado teste de proporção para verificar a diferença entre os grupos, adotando um nível de significância estatístico de p < 0,05.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) (processos no 32344014.3.3001.0086 e 30848914.7.0000.5421) e pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH) (processo nº 10396919.0.0000.5390). O consentimento informado por escrito foi obtido de todos os participantes e, no caso dos adolescentes, de seus responsáveis.
RESULTADOS
A amostra final do presente estudo foi composta de 856 indivíduos, com média de idade de 42,7 anos (dp = 23,3 anos, mínimo = 12, máximo = 93), sendo 50,2% mulheres. Dos 856 participantes, 24,6% realizavam pelo menos 150 minutos/semana de atividade física, 22,3% foram considerados com obesidade, sendo 16,9% para homens e 27,7% para mulheres (Tabela 1).
Na Tabela 2 são apresentadas as médias de MC, estatura e IMC aferidos e referidos, segundo idade, atividade física, estado nutricional e fatores de risco cardiometabólicos, estratificados por sexo. Observaram-se valores de MC referida significativamente menores para os adolescentes e indivíduos com obesidade.
Em relação aos homens, houve uma superestimação da MC entre indivíduos de 18 a 39 anos e com 60 anos ou mais, entre os que praticavam menos de 150 minutos/semana de atividade física, sem excesso de peso e com menos de três fatores de risco cardiometabólicos. Em geral, o IMC apresentou um comportamento similar à MC, exceto entre adolescentes do sexo masculino, verificando-se subestimação da MC e superestimação do IMC. Para mulheres, em todas as situações em que houve diferença significativa entre a MC aferida e referida, tal diferença apontou para uma subestimação da MC referida. Em ambos os sexos, houve superestimação das medidas de IMC relatadas entre os classificados como sem excesso de peso e subestimação entre os com obesidade. Com relação à estatura, adolescentes relataram valores menores que os aferidos, enquanto idosos relataram maiores valores, em ambos os sexos.
Homens com menos de três fatores de risco cardiometabólicos superestimaram a MC e o IMC e subestimaram a estatura, enquanto mulheres com três ou mais fatores apresentaram comportamento oposto.
As análises de Bland-Altman apontam ótimos índices de concordância entre todas medidas referidas e aferidas, para ambos os sexos, com diferenças médias bem próximas de zero e poucos casos fora dos limites de concordância de 95% (Figura 1).
Análises de Bland-Altman para a concordância da massa corporal, da estatura e do índice de massa corporal aferido e referido entre homens e mulheres. São Paulo, Brasil, 2015.
Ao avaliar a correlação intraclasse, observou-se que, entre os homens, todas as categorias avaliadas apresentaram valores excelentes de CCI (≥ 0,75) (Material Suplementar 1). Já para as mulheres, os valores de CCI (≥ 0,6) para a estatura foram considerados bons entre as mulheres idosas, entre as mulheres que praticavam menos de 150 min/sem de atividade física no lazer e entre as mulheres com sobrepeso. Em contrapartida, o valor de CCI de 0,587 para as mulheres com sobrepeso é considerado razoável (0,4 ≤ CCI < 0,6) (Material Suplementar 1).
Quanto aos coeficientes de calibração estratificados por sexo e pelas outras variáveis de interesse do presente estudo, nota-se que a maior parte dos coeficientes angulares (B1) está próxima de 1 (Material Suplementar 1), indicando boa equivalência com a medida aferida5050. Kynast-Wolf G, Becker N, Kroke A, Brandstetter BR, Wahrendorf J, Boeing H. Linear Regression Calibration: Theoretical Framework and Empirical Results in EPIC, Germany. Ann Nutr Metab 2002; 46: 2-8. https://doi.org/10.1159/000046746
https://doi.org/https://doi.org/10.1159/... . Valores similares também foram encontrados para as amostras estratificadas apenas por sexo, sendo para os homens B0 = -0,17961 e B1 = 0,9935 e para as mulheres B0 = 1,5614 e B1 = 0,9576. Após a aplicação dessas últimas duas equações, os indivíduos foram classificados utilizando dois pontos de corte independentes, sendo o primeiro referente às pessoas com excesso de peso (sobrepeso + obesidade) e o segundo referente às pessoas com obesidade.
Após a calibração das medidas referidas, as médias de IMC das medidas aferidas e calibradas permaneceram estatisticamente semelhantes entre si para todos os subgrupos avaliados (Material Suplementar 2). Sem as calibrações, encontraram-se diversas diferenças nas médias de IMC para grande parte dos grupos avaliados.
Com base nos dados de IMC, segundo cada um dos três métodos (IMC aferido, referido e calibrado), avaliaram-se as proporções de excesso de peso e obesidade, bem como a sensibilidade e a especificidade de cada medida (Tabela 3). Não se demonstrou diferença significativa entre as proporções obtidas com base nos valores referidos e calibrados quando comparadas às classificações pelos valores aferidos. Porém, para todos os casos apresentados, as proporções encontradas utilizando as medidas calibradas tenderam a ser mais próximas do valor aferido em comparação às prevalências com base nos valores referidos.
Após a calibração das medidas referidas, houve um aumento na sensibilidade na classificação de mulheres tanto para excesso de peso (de 0,84 para 0,88) quanto para obesidade (de 0,76 para 0,78) (Tabela 3). Esses resultados apontam que um maior número de mulheres passou a ser corretamente classificada nessas duas categorias (verdadeiro positivo). Em contrapartida, os valores de especificidade diminuíram após a calibração (de 0,89 para 0,85 e de 0,95 para 0,94, respectivamente) (verdadeiro negativo). De forma oposta, para os homens, os valores calibrados diminuíram a sensibilidade e aumentaram a especificidade.
DISCUSSÃO
Os principais resultados deste estudo mostraram que os valores de MC e estatura autorreferidos tendem a ser similares aos aferidos, contudo o processo de calibração torna-os ainda mais concordantes. Ainda, ao utilizar os resultados do IMC de forma categórica, o processo de calibração aumentou a sensibilidade da classificação do estado nutricional entre as mulheres e aumentou a especificidade entre os homens.
Especificamente relacionado à estatura, independentemente do sexo, observou-se subestimação entre adolescentes, o que corrobora outros estudos envolvendo meninos5151. Jansen W, van de Looij-Jansen PM, Ferreira I, de Wilde EJ, Brug J. Differences in Measured and Self-Reported Height and Weight in Dutch Adolescents. Ann Nutr Metab 2006; 50: 339-46. https://doi.org/10.1159/000094297
https://doi.org/https://doi.org/10.1159/... ,5252. Rasmussen M, Holstein BE, Melkevik O, Damsgaard MT. Validity of self-reported height and weight among adolescents: The importance of reporting capability. BMC Med Res Methodol 2013; 13: 85. https://doi.org/10.1186/1471-2288-13-85
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,5353. Fortenberry JD. Reliability of adolescents’ reports of height and weight. J Adolesc Heal 1992; 13(2): 114-7. https://doi.org/10.1016/1054-139X(92)90076-N
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/... , porém contraria estudos realizados com meninas5454. Aasvee K, Rasmussen M, Kelly C, Kurvinen E, Giacchi MV, Ahluwalia N. Validity of self-reported height and weight for estimating prevalence of overweight among Estonian adolescents: The Health Behaviour in School-aged Children study. BMC Res Notes 2015; 8: 606. https://doi.org/10.1186/s13104-015-1587-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... ,5555. Enes CC, Fernandez PMF, Voci SM, Toral N, Romero A, Slater B. Validity and reliability of self-reported weight and height measures for the diagnoses of adolescent’s nutritional status. Rev Bras Epidemiol 2009; 12(4): 627-35. https://doi.org/10.1590/s1415-790x2009000400012
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/... . Entre as principais razões para essas inconsistências entre os adolescentes, Enes et al. destacam que os adolescentes podem não estar cientes de suas medições atuais, pois tendem a se medir com pouca frequência e podem apenas se lembrar de valores desatualizados5555. Enes CC, Fernandez PMF, Voci SM, Toral N, Romero A, Slater B. Validity and reliability of self-reported weight and height measures for the diagnoses of adolescent’s nutritional status. Rev Bras Epidemiol 2009; 12(4): 627-35. https://doi.org/10.1590/s1415-790x2009000400012
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/... ou serem afetados pelas rápidas alterações morfológicas e psicossociais presentes nessa fase da vida5656. de Castro IRR, Levy RB, Cardoso L de O, dos Passos MD, Sardinha LMV, Tavares LF, et al. Body image, nutritional status and practices for weight control among Brazilian adolescents. Ciênc e Saúde Coletiva 2010; 15(Suppl. 2): 3099-188. https://doi.org/10.1590/s1413-81232010000800014
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/... . Por fim, o viés de desejabilidade social nesse grupo pode oscilar, já que, entre os adolescentes, a insatisfação com a imagem corporal pode variar de acordo com o estado nutricional5757. Marques MI, Pimenta J, Reis S, Ferreira LM, Peralta L, Santos MI, et al. (In)Satisfação com a imagem corporal na adolescência. Nascer Crescer 2016; 25(4): 217-21..
Já entre idosos, tanto homens quanto mulheres superestimaram suas estaturas em conformidade com outros estudos envolvendo idosos5858. Gunnell DJ, Berney L, Holland P, Maynard M, Blane D, Frankel S, et al. How accurately are height, weight and leg length reported by the elderly, and how closely are they related to measurements recorded in childhood? Int J Epidemiol 2000; 29(3): 456-64. https://doi.org/10.1093/intjepid/29.3.456
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/... ,5959. Niedźwiedzka E, Długosz A, Wądołowska L. Validity of self-reported height and weight in elderly Poles. Nutr Res Pract 2015; 9(3): 319-27. https://doi.org/10.4162/nrp.2015.9.3.319
https://doi.org/https://doi.org/10.4162/... . Prováveis motivos para esse achado seriam o desconhecimento de uma possível redução natural da estatura com o passar da idade6060. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasil: Ministério da Saúde ; 2006. Cadernos de Atenção Básica.,6161. Sorkin JD, Muller DC, Andres R. Longitudinal change in the heights of men and women: Consequential effects on body mass index. Epidemiol Rev 1999; 21(2): 247-60. https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.epirev.a018000
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/... e a tendência dos idosos em relatarem estaturas aferidas durante sua vida adulta/juventude1212. Rowland ML. Self-reported weight and height. Am J Clin Nutr 1990; 52(6): 1125-33. https://doi.org/10.1093/ajcn/52.6.1125
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/... . Ademais, os maiores valores referidos pelas mulheres idosas, quando comparadas aos homens idosos, também podem estar relacionados a uma possível osteoporose, que tende a afetar mais as mulheres que os homens6262. Wright NC, Looker AC, Saag KG, Curtis JR, Delzell ES, Randall S, et al. The recent prevalence of osteoporosis and low bone mass in the United States based on bone mineral density at the femoral neck or lumbar spine. J Bone Miner Res 2014; 29(11): 2520-6. https://doi.org/10.1002/jbmr.2269
https://doi.org/https://doi.org/10.1002/... .
Com relação à MC, para as mulheres, em todas as situações em que houve diferença significativa entre a MC aferida e referida, houve subestimação da MC referida. Essa consistente subestimação da MC também foi apontada por um estudo de revisão sistemática88. Maukonen M, Männistö S, Tolonen H. A comparison of measured versus self-reported anthropometrics for assessing obesity in adults: a literature review. Scand J Public Health 2018; 46(5): 565-79. https://doi.org/10.1177/1403494818761971
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/... que, entre 60 estudos avaliados, em 51 as mulheres subestimaram a MC, com diferenças médias variando entre 0,1 e 3,4 kg. Já entre homens, 39 estudos relataram subestimação da MC, com diferenças médias variando de 0,1 a 2,2 kg. Parte desse fenômeno pode ser explicado pela desejabilidade social, quando os sujeitos relatam um valor de MC (ou estatura) que está em conformidade com uma norma social, mesmo se o valor relatado for impreciso33. Burke MA, Carman KG. You can be too thin (but not too tall): Social desirability bias in self-reports of weight and height. Econ Hum Biol 2017; 27(Parte A): 198-222. https://doi.org/10.1016/j.ehb.2017.06.002
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/... ,6363. Lu S, Su J, Xiang Q, Zhou J, Wu M. Accuracy of self-reported height, weight, and waist circumference in a general adult Chinese population. Popul Health Metr 2016; 14: 30. https://doi.org/10.1186/s12963-016-0099-8
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/... .
Pela ótica do IMC, em ambos os sexos houve superestimação das medidas de IMC relatadas entre os classificados como sem excesso de peso e subestimação entre os com obesidade. Essa subestimação é corroborada por diversos outros estudos utilizando diferentes populações77. Gorber SC, Tremblay M, Moher D, Gorber B. A comparison of direct vs. self-report measures for assessing height, weight and body mass index: A systematic review. Obes Rev 2007; 8(4): 307-26. https://doi.org/10.1111/j.1467-789x.2007.00347.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/... ,88. Maukonen M, Männistö S, Tolonen H. A comparison of measured versus self-reported anthropometrics for assessing obesity in adults: a literature review. Scand J Public Health 2018; 46(5): 565-79. https://doi.org/10.1177/1403494818761971
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/... ,6464. Flegal KM, Ogden CL, Fryar C, Afful J, Klein R, Huang DT. Comparisons of Self-Reported and Measured Height and Weight, BMI, and Obesity Prevalence from National Surveys: 1999-2016. Obesity 2019; 27(10): 1711-9. https://doi.org/10.1002/oby.22591
https://doi.org/https://doi.org/10.1002/... . Porém se destaca que essas diferenças brutas no IMC com base nas medidas referidas e aferidas permaneceu pequena para ambos os sexos (1,6 kg/m2 para mulheres e 1,12 kg/m2 para homens).
Em estudo envolvendo 1.061 estudantes universitários, verificou-se que aqueles que reportavam a MC com mais acurácia apresentavam também um equivalente metabólico (MET)-minuto/semanal de atividade física significativamente maior, quando comparado com aqueles que superestimavam a MC2626. Wilson OWA, Bopp CM, Papalia Z, Bopp M. Objective vs self-report assessment of height, weight and body mass index: Relationships with adiposity, aerobic fitness and physical activity. Clin Obes 2019; 9(5): e12331. https://doi.org/10.1111/cob.12331
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/... . Quando estratificado por sexo, os homens que superestimavam a MC tinham menores níveis de atividade vigorosa e MET-minuto/semanal, entre as mulheres, aquelas que superestimavam a MC apresentavam menores níveis de atividade moderada e MET-minuto/semanal. Esse estudo identificou ainda que, baseado na predição da aptidão cardiorrespiratória dos participantes, existe uma tendência de subestimação da MC e uma superestimação dos relatos de atividade física. Em contrapartida, no presente estudo, verificou-se que os homens que praticavam menos de 150 minutos semanais de atividade física no lazer superestimaram o IMC, enquanto, para as mulheres, independentemente do nível de atividade física, o IMC foi subestimado.
Quanto às diferenças segundo fatores de risco cardiometabólicos, houve maior precisão das informações fornecidas pelos homens com três ou mais fatores de risco em relação aos homens com menos de três. Esse dado pode ser consequência de um maior acompanhamento de saúde por aqueles com maior risco cardiometabólico (consequentemente, maior ciência sobre sua MC e altura), visto que é comum entre homens uma baixa procura por serviços de saúde no Brasil6565. Figueiredo W. Assistência à saúde dos homens: um desafio para os serviços de atenção primária. Ciênc Saúde Coletiva 2005; 10(1): 105-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232005000100017
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159... ,6666. Pinheiro RS, Viacava F, Travassos C, Brito AS. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2002; 7(4): 687-707. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232002000400007
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159... . Já entre as mulheres, o resultado observado foi oposto: todas subestimaram sua MC, porém aquelas com três ou mais fatores de risco cardiometabólicos o fizeram em maior dimensão, além de superestimarem a altura, o que resultou em subestimação do IMC por esse grupo. Esse dado pode ter sido consequência, dentre outros fatores, de um relato influenciado por maior pressão social e de profissionais de saúde para que essas mulheres tenham um menor IMC6767. Paim MB, Kovaleski DF. Análise das diretrizes brasileiras de obesidade: patologização do corpo gordo, abordagem focada na perda de peso e gordofobia. Saúde Soc 2020; 29(1): e190227. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902020190227
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159... .
Embora não tenham sido encontradas diferenças significativas nas proporções de indivíduos classificados com excesso de peso ou obesidade, as proporções encontradas utilizando as medidas calibradas tenderam a ser mais próximas do valor aferido, em comparação com as prevalências com base nos resultados referidos. Nesse sentido, é importante destacar que, em estudos epidemiológicos envolvendo grandes amostras, uma pequena diferença nessas proporções pode gerar grandes impactos.
Após a calibração das medidas referidas, houve aumento na sensibilidade na classificação de mulheres, tanto para excesso de peso quanto para obesidade, e redução na especificidade. Já para os homens, os valores calibrados diminuíram a sensibilidade e aumentaram a especificidade. As implicações desses resultados devem levar em consideração as razões e motivações para utilização da variável IMC. Por exemplo, se o IMC for utilizado como desfecho e o objeto principal do estudo é investigar os fatores associados ao excesso de peso ou obesidade, deve-se optar por medidas com maiores sensibilidades. Porém, se o objetivo é avaliar hábitos de saúde positivos para manutenção de estado nutricional adequado, medidas com especificidade maiores devem ser preferidas.
Por fim, este estudo possui algumas limitações que merecem destaque. A primeira é relacionada ao tempo decorrido entre as medidas referidas e aferidas (131,9 dp = 118,5 dias), visto que poderia ter havido alterações das medidas entre os dois momentos. Porém se verificou que intervalos maiores que 30 dias entre as medições não resultaram em diferenças maiores no IMC (-0,03 IC95% -1,13 - 0,66 vs 0,10 IC95% -0,26 - 0,47). Resultados similares também foram observados entre os adolescentes, que seriam os mais suscetíveis a esse tipo de viés. Outra limitação do estudo é a avaliação da atividade física por meio de questionários, que são suscetíveis a viés de resposta, que pode, inclusive, variar de acordo com o estado nutricional do respondente6868. Warner ET, Wolin KY, Duncan DT, Heil DP, Askew S, Bennett GG. Differential Accuracy of Physical Activity Self-Report by Weight Status. Am J Health Behav 2012; 36(2): 168-78. http://dx.doi.org/10.5993/AJHB.36.2.3
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.599... . Porém, para mitigar essa questão, as análises realizaram-se de maneira estratificada de acordo com o estado nutricional e o tempo de atividade física analisado de forma dicotômica.
Baseando-se nos fatos demonstrados, é possível concluir que as medições autorreferidas de estatura e MC e, consequentemente, o IMC fornecem medidas válidas e confiáveis, apresentando melhoras substanciais após a calibração.
Os resultados deste estudo sugerem ainda que as equações de calibração para os valores autorrelatados tendem a aproximar as proporções de pessoas classificadas como com excesso de peso e obesidade das proporções baseadas nos valores aferidos. Por fim, as medidas calibradas aumentaram a sensibilidade na classificação do estado nutricional entre as mulheres e a especificidade entre os homens residentes na cidade de São Paulo. Assim, dadas as facilidades logísticas, a redução de custo e o tempo na coleta de dados, recomenda-se a utilização das medidas de estatura e MC autorreferidas para estudos epidemiológicos, indicando ainda a aplicação dos coeficientes de calibração, para cada grupo específico, a fim de melhorar a acurácia dessas medidas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a todos que, de forma direta ou indireta, estiveram envolvidos com os Inquéritos de Saúde de São Paulo, especialmente o Grupo de Estudo de Nutrição do ISA-2015 (Marcelo Macedo Rogero, PhD; Flávia Mori Sarti, PhD; Chester Luis Galvão Cesar, PhD; Moises Goldbaum, PhD; Maria Cecília Goi Porto Alves, PhD) e Marilisa Berti de Azevedo Barros, PhD.
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- Fonte de financiamento: 1. Estudo com apoio de auxílio à pesquisa: Processo nº 2017/17049-3, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). 2. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (processo no 2013-0.235.936-0). 3. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (número de concessão 472873/2012-1 e processo número 306635/2016-0). 4. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (Processos nº 2020/01312-0, 2017/17049-3, 2012/22113-9 e 2017/05125-7).
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
09 Ago 2021 - Data do Fascículo
2021
Histórico
- Recebido
11 Fev 2021 - Aceito
12 Abr 2021