Desigualdades sociais no autorrelato de infecção por SARS-CoV-2 em adultos brasileiros: Pnad COVID-19

Mateus Andrade Rocha Cândido Norberto Bronzoni de Mattos Marcos Pascoal Pattussi Sobre os autores

RESUMO

Objetivo:

Investigar as desigualdades relacionadas a raça/etnia e condição socioeconômica no autorrelato de resultado positivo para COVID-19 em adultos brasileiros.

Métodos:

Os dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) COVID-19 (julho/setembro/novembro, 2020) foram utilizados nesta investigação retrospectiva. As análises consideraram o desenho amostral, unidades primárias de amostragem, estratos e pesos amostrais. Regressão de Poisson com variância robusta foi utilizada para estimar as razões de prevalência (RP) e o intervalo de confiança de 95% (IC95%) das associações.

Resultados:

Nos meses de julho, setembro e novembro de 2020, referente ao teste rápido, os indígenas tinham 2,45 (IC95% 1,48–4,08), 2,53 (IC95% 1,74–4,41) e 1,23 (IC95% 1,11–1,86) vezes maior probabilidade de reportar o histórico positivo de infecção por SARS-CoV-2, respectivamente. Com relação ao teste RT-PCR no mês de novembro, os indígenas apresentaram mais chance de testarem positivo para COVID-19 (RP: 1,90; IC95% 1,07–3,38). Foi observado que o grupo de indígenas apresentou 1,86 (IC95% 1,05–3,29) e 2,11 (IC95% 1,12–3,59) vezes mais chances de positivarem para COVID-19 em setembro e novembro (2020). A renda esteve associada com a testagem positiva para a COVID-19: no mês de novembro, indivíduos com renda variando entre R$ 0,00–R$ 1,044 tiveram maior probabilidade (RP: 1,69; IC95% 1,16–23,06) de testarem positivo através do teste RT-PCR; participantes com renda variando na referida faixa de valor também apresentaram maior chance de serem diagnosticados com COVID-19 através de testes sanguíneos (RP: 1,72; IC95% 1,43–2,07).

Conclusão:

Os dados apresentados evidenciam a associação entre a raça/etnia e o status econômico com o resultado positivo para COVID-19.

Palavras-chave:
Saúde pública; COVID-19; Iniquidade social; Adultos

INTRODUÇÃO

No primeiro trimestre de 2020, um novo tipo de coronavírus da COVID-19 altamente transmissível e patogênico foi responsável por infectar um elevado número de indivíduos globalmente, desencadeando a pandemia de COVID-1911 Wang C, Horby PW, Hayden FG, Gao GF. A novel coronavirus outbreak of global health concern. Lancet 2020; 395(10223): 470-3. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(20)30185-9
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. O vírus da COVID-19 afeta o sistema respiratório, causando sintomas leves em muitas pessoas, mas pode levar a condições críticas em uma porcentagem dos casos, com danos alveolares maciços e insuficiência respiratória que podem contribuir para a morte22 Wang D, Hu B, Hu C, Zhu F, Liu X, Zhang J, et al. Clinical characteristics of 138 hospitalized patients with 2019 novel coronavirus-infected pneumonia in Wuhan, China. JAMA 2020; 323(11): 1061-9. https://doi.org/10.1001/jama.2020.1585
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,33 Wiersinga WJ, Rhodes A, Cheng AC, Peacock SJ, Prescott HC. Pathophysiology, transmission, diagnosis, and treatment of coronavirus disease 2019 (COVID-19): a review. JAMA 2020; 324(8): 782-93. https://doi.org/10.1001/jama.2020.12839
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. O Brasil emergiu como epicentro pandêmico da doença do coronavírus. Somente durante a primeira onda da pandemia (de março a novembro de 2020), foram registrados mais de 7,9 milhões de casos e mais de 100 mil mortes pela doença no país44 Zeiser FA, Donida B, Costa CA, Ramos GO, Scherer JN, Barcellos NT, et al. First and second COVID-19 waves in Brazil: a cross-sectional study of patients’ characteristics related to hospitalization and in-hospital mortality. Lancet Reg Health Am 2022; 6: 100107. https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100107
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. O diagnóstico da infecção pode ser realizado através de uma variedade de testes com fluídos orais e sanguíneos. Contudo o método diagnóstico padrão-ouro para COVID-19 se baseia em um teste molecular da reação em cadeia de polimerase de transcrição reversa RT-PCR, com o objetivo de detectar o RNA do vírus em amostras respiratórias como cotonetes nasofaríngeos ou aspirado brônquico55 Böger B, Fachi MM, Vilhena RO, Cobre AF, Tonin FS, Pontarolo R. Systematic review with meta-analysis of the accuracy of diagnostic tests for COVID-19. Am J Infect Control 2021; 49(1): 21-9. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.07.011
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.

Evidências demonstram que o sexo masculino, a idade mais avançada, hábitos não saudáveis (exemplo, fumar tabaco), a obesidade e o diagnóstico de doenças crônicas (exemplo, hipertensão, diabetes e doenças respiratórias e cardiovasculares) apresentam maior risco de infecção e evolução para um estado crítico ou mortal da doença66 Dessie ZG, Zewotir T. Mortality-related risk factors of COVID-19: a systematic review and meta-analysis of 42 studies and 423,117 patients. BMC Infect Dis 2021; 21(1): 855. https://doi.org/10.1186/s12879-021-06536-3
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99 Zheng Z, Peng F, Xu B, Zhao J, Liu H, Peng J, et al. Risk factors of critical & mortal COVID-19 cases: a systematic literature review and meta-analysis. J Infect 2020; 81(2): e16-e25. https://doi.org/10.1016/j.jinf.2020.04.021
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. Além dos fatores relacionados às condições orgânicas individuais, os riscos de infecção e o curso grave estão distribuídos de forma desigual na sociedade44 Zeiser FA, Donida B, Costa CA, Ramos GO, Scherer JN, Barcellos NT, et al. First and second COVID-19 waves in Brazil: a cross-sectional study of patients’ characteristics related to hospitalization and in-hospital mortality. Lancet Reg Health Am 2022; 6: 100107. https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100107
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. A literatura internacional, especialmente em países desenvolvidos, relata um maior impacto da doença nas pessoas de baixo nível socioeconômico e em grupos minoritários raciais/étnicos1010 Wachtler B, Michalski N, Nowossadeck E, Diercke M, Wahrendorf M, Santos-Hövener C, et al. Socioeconomic inequalities and COVID-19 – a review of the current international literature. J Health Monit 2020; 5(Suppl 7): 3-17. https://doi.org/10.25646/7059
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,1111 Khanijahani A, Iezadi S, Gholipour K, Azami-Aghdash S, Naghibi D. A systematic review of racial/ethnic and socioeconomic disparities in COVID-19. Int J Equity Health 2021; 20(1): 248. https://doi.org/10.1186/s12939-021-01582-4
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.

Recentemente, estudo brasileiro de base populacional constatou que as populações indígenas, famílias numerosas e famílias com baixa condição socioeconômica possuíam uma prevalência mais elevada de anticorpos para o SARS-CoV- 2 em relação à população branca, famílias não numerosas e com alto nível socioeconômico1212 Hallal PC, Hartwig FP, Horta BL, Silveira MF, Struchiner CJ, Vidaletti LP, et al. SARS-CoV-2 antibody prevalence in Brazil: results from two successive nationwide serological household surveys. Lancet Glob Health 2020; 8(11): e1390-e1398. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(20)30387-9
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. Achados transversais também evidenciaram que a menor escolaridade e renda e o maior número de indivíduos na residência familiar estavam fortemente associados com taxas mais elevadas de mortalidade por COVID-191313 Ribeiro KB, Ribeiro AF, Veras M, Castro MC. Social inequalities and COVID-19 mortality in the city of São Paulo, Brazil. Int J Epidemiol 2021; 50(3): 732-42. https://doi.org/10.1093/ije/dyab022
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. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi investigar as desigualdades de raça e renda mensal no autorrelato de infecção por SARS-CoV-2 em adultos durante a primeira onda da pandemia no Brasil.

MÉTODOS

Este estudo retrospectivo foi realizado com os dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) COVID-19. O objetivo da pesquisa era estimar o número de pessoas com sintomas referidos associados à síndrome gripal e monitorar os impactos da pandemia de COVID-19 no mercado de trabalho brasileiro1414 Penna GO, Silva JAA, Cerbino Neto J, Temporão JG, Pinto LF. PNAD COVID-19: a powerful new tool for Public Health Surveillance in Brazil. Cien Saude Colet 2020; 25(9): 3567-71. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.24002020
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. O reporte deste estudo foi realizado de acordo com as orientações do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (Strobe) Statement1515 von Elm E, Altman DG, Egger M, Pocock SJ, Gøtzsche PC, Vandenbroucke JP, et al. The Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE) statement: guidelines for reporting observational studies. Lancet 2007; 370(9596): 1453-7. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(07)61602-X
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. A utilização de dados secundários públicos neste estudo dispensa a aprovação do uso dessas informações pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

Os dados foram coletados por cerca de 2 mil agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base em entrevistas estruturadas via telefone em cerca de 193,6 mil domicílios, distribuídos em 3.364 municípios em todas as macroregiões do país. A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio e novembro de 2020, no curso da pandemia da COVID-19 no Brasil1212 Hallal PC, Hartwig FP, Horta BL, Silveira MF, Struchiner CJ, Vidaletti LP, et al. SARS-CoV-2 antibody prevalence in Brazil: results from two successive nationwide serological household surveys. Lancet Glob Health 2020; 8(11): e1390-e1398. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(20)30387-9
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. Para este estudo, foram utilizados os dados dos meses de julho, setembro e novembro de 2020.

A seleção e treinamento da equipe de pesquisa ocorreu por meio da Coordenação de Treinamento e Aperfeiçoamento da Escola Nacional de Ciências e Estatística do IBGE.. O treinamento foi composto por dois módulos de conteúdo, um deles referente à abordagem ao participante no contato telefônico e o outro sobre a aplicação do questionário da pesquisa. O processo metodológico completo do Pnad COVID-19 pode ser acessado em estudos prévios1414 Penna GO, Silva JAA, Cerbino Neto J, Temporão JG, Pinto LF. PNAD COVID-19: a powerful new tool for Public Health Surveillance in Brazil. Cien Saude Colet 2020; 25(9): 3567-71. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.24002020
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,1616 Figueiredo EA, Polli DA, Andrade BB. Estimated prevalence of COVID-19 in Brazil with probabilistic bias correction. Cad Saude Publica 2021; 37(9): e00290120. https://doi.org/10.1590/0102-311x00290120
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,1717 Moreira RS. Latent class analysis of COVID-19 symptoms in Brazil: results of the PNAD-COVID19 survey. Cad Saude Publica 2021; 37(1): e00238420. https://doi.org/10.1590/0102-311X00238420
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.

Os participantes foram convidados a responder às seguintes perguntas:

  1. "Você já foi diagnosticado com o vírus da COVID-19?" (sim; não; não sei responder);

  2. "Você já realizou algum teste para saber se estava infectado pelo coronavírus?" (sim; não; não sei responder);

  3. "Qual foi o teste realizado para verificar se você estava com COVID-19?" (coleta com cotonete na boca e(ou) nariz RT-PCR; através de furo no dedo (teste rápido); coleta de sangue através da veia do braço (testagem sanguínea).

Respostas inconclusivas, sem resultado ou resultados ignorados nos testes foram excluídos. Os históricos de testagem positiva (sim ou não) nos testes utilizadas foram considerados os desfechos deste estudo.

Características relacionadas a raça/etnia e renda familiar dos indivíduos também foram obtidas. A renda familiar mensal dos participantes foi coletada em número absoluto (real brasileiro – R$) e posteriormente classificada de acordo com a distribuição pelos quartis, sendo: R$≥R$ 2.500; R$ 2.499–R$ 1.430; R$ 1.429–R$ 1.045; R$1.044–0. A raça/etnia dos participantes foi identificada de acordo com os critérios do IBGE e considerou participantes brancos, pretos, amarelos, pardos e indígenas. Outras variáveis de exposição exploraram os aspectos sociodemográficos, relacionados ao distanciamento social e à posse de itens de limpeza e proteção também foram considerados como fatores de confusão do presente estudo: idade em anos completos (categorizada em faixa-etária com base nos critérios do IBGE: 18–29; 30–39; 40–49; 50–59; ≥60 anos), sexo (masculino; feminino), escolaridade (ensino superior completo/incompleto; ensino médio completo; ensino fundamental completo/incompleto; ensino fundamental incompleto/sem instrução), morbidades (sem morbidades; 1 morbidade; 2 morbidades; ≥3 morbidades), utensílios álcool (não possui álcool; possui álcool), utensílios máscara (não possui máscara; possui máscara), distanciamento (rigorosamente isolado; sair apenas para necessidades básicas; sair para trabalho ou atividades essenciais; não fez distanciamento). O questionário de pesquisa contendo as variáveis utilizadas neste estudo podem ser encontradas no Apêndice 1.

Todas as análises estatísticas foram realizadas usando Stata Statistical Package (Versão 16.0) (Stata Corp, College Station, Texas, EUA). Todos os dados que suportam os achados deste estudo estão disponíveis com o autor correspondente mediante solicitação prévia, de acordo com os Princípios de Dados FAIR (www.force11.org/group/fairgroup/fairprinciples). As variáveis foram descritas através das frequências relativas e absolutas. Regressão de Poisson com variância robusta foi utilizada para estimar a razão de prevalência (RP) e o intervalo de confiança de 95% (IC95%) na associação dos desfechos e as variáveis de exposição. Na análise multivariada, as variáveis de exposição foram controladas por fatores de confusão associados ao desfecho num nível de significância menor que 10%. As análises levaram em conta o desenho amostral, unidades primárias de amostragem, estratos e pesos amostrais. Um nível de significância menor que 5% foi adotado para considerar as associações entre exposição e desfecho como significativas.

RESULTADOS

De maneira geral, a realização de algum teste para COVID-19 foi reportada por 26,673 (julho), 35,587 (setembro) e 45,180 (novembro) participantes. A realização do teste de RT-PCR para COVID-19 nos meses de julho, setembro e novembro foi reportada por 7,026, 12,943 e 18,308 participantes, respectivamente. Nesse mesmo período, 49,407 testagens rápidas foram realizadas, em que: julho: n=11,630; setembro: n=16,954; novembro: n=20,823. Ainda, o histórico de testagem sanguínea foi reportado por 6,886 (julho), 10,668 (setembro) e 13,102 (novembro) indivíduos entrevistados. As Tabelas 1 e 2 apresentam a distribuição amostral das variáveis de exposição de acordo com o histórico de infecção por SARS-CoV-2 por modalidades de testagem.

Tabela 1
Descrição da amostra conforme variáveis demográficas e socioeconômicas de acordo com a prevalência de teste RT-PCR positivo em julho (n=7.026), setembro (n=12.943) e novembro (n=18.308) e teste rápido para COVID-19 em julho (n=11.630), setembro (n=16.954) e novembro (n=20.823), 2020.
Tabela 2
Descrição da amostra conforme variáveis demográficas e socioeconômicas de acordo com a prevalência de teste de sangue positivo para COVID-19 em julho (n=6.886), setembro (n=10.668) e novembro (n=13.102), 2020.

A Tabela 3 apresenta as RP e o IC95% da análise bruta e ajustada entre a realização dos três diferentes testes (RT-PCR, teste rápido e testagem sanguínea) durante os meses de julho, setembro e novembro (2020) e as variáveis de exposição. Após realizados os ajustes para os potenciais fatores de confusão, foi observado um efeito significativo da raça/etnia na testagem de COVID-19 através do teste RT-PCR entre os participantes indígenas em novembro (RP: 1,90; IC95% 1,07–3,38), visto que esse grupo apresentou maior probabilidade de infecção por SARS-CoV-2 via teste RT-PCR comparado aos indivíduos brancos. Participantes de etnia parda apresentaram maior RP de testagem positiva através do RT-PCR em setembro (RP: 1,20; IC95% 1,10–1,30), comparado aos sujeitos brancos. Ainda, indivíduos com menor renda (R$ 0–1) apresentaram maior probabilidade de apresentar teste RT_PCR para verificar a ocorrência de infecção por COVID-19 do que aqueles com renda familiar mais elevada (≥R$ 2.500) em setembro (RP: 1,87; IC95%1,15–2,67) e novembro (RP: 1,69; IC95% 1,16–3,06).

Tabela 3
Análise bruta e ajustada para os testes RT-PCR, teste rápido e de sangue positivo para COVID-19 em julho, setembro e novembro, 2020.

Os participantes autodeclarados indígenas apresentaram maior chance de serem diagnosticados com COVID-19 por meio de testes rápidos do que participantes de raça branca em todos os meses de acompanhamento: julho (RP: 2,45; IC95% 1,48–4,08), setembro (RP: 2,53; IC95% 1,74–4,41), novembro (RP: 1,23; IC95% 1,11–1,86). A renda média mensal dos participantes esteve associada com a prevalência de testagem rápida para COVID-19: os participantes com menor renda mensal apresentaram maior probabilidade de realizar teste rápido do que aqueles que ganham ≥2,500 reais mensais em julho, setembro e novembro (2020). Foi identificado que os participantes pardos tinham maiores prevalências de testagem positiva para COVID-19 através de exames sanguíneos em todos os meses de acompanhamento: julho (RP: 1,30; IC95% 1,11–1,53), setembro (RP: 1,54; IC95% 1,41–1,69), novembro (RP: 1,39; IC95% 1,28–1,51), comparado aos sujeitos brancos. Indivíduos autodeclarados como indígenas também apresentaram maior RP de testagem positiva para COVID-19 por testes sanguíneos, mas apenas em setembro (RP: 1,86; IC95% 1,05–3,29) e novembro (RP: 2,11; IC95% 1,12–3,59) de 2020. A menor renda familiar mensal esteve associada à menor probabilidade de resultado positivo no teste sanguíneo em todos os meses de acompanhamento do que aqueles com renda ≥R$ 2.500/mês (Tabela 3).

DISCUSSÃO

Este estudo retrospectivo utilizou os dados do Pnad COVID-19 para investigar as desigualdades relacionadas a raça e renda no histórico de testagem para COVID-19 de acordo com as modalidades diagnósticas em adultos durante a primeira onda da pandemia no Brasil. Os resultados indicam que indivíduos indígenas e com menor renda média mensal apresentaram maior probabilidade de serem diagnosticados com COVID-19, independente do teste utilizado e o período de realização do exame.

Neste estudo, indivíduos não brancos, especialmente aqueles pardos e(ou) indígenas, apresentaram maior soroprevalência para COVID-19, quando comparado com os sujeitos brancos. Esse achado pode ser justificado pelas condições sociais que as minorias populacionais estão expostas, predispondo a maior taxa de infecção pela doença nesse grupo1818 Hernández-Vásquez A, Chavez-Ecos F, Barrenechea-Pulache A, Comandé D, Bendezu-Quispe G. Seroprevalence and lethality by SARS-CoV-2 in indigenous populations of Latin America and the Caribbean: a systematic review. PeerJ 2021; 9: e12552. https://doi.org/10.7717/peerj.12552
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. Tal resultado corrobora a situação histórica de vulnerabilidade vivida pela população indígena, em particular, ao qual apresentou maiores quadros infecciosos no passado, como na gripe espanhola, infecção pelo vírus da H1N1 e SARS-CoV1919 McLeod M, Gurney J, Harris R, Cormack D, King P. COVID-19: we must not forget about Indigenous health and equity. Aust N Z J Public Health 2020; 44(4): 253-6. https://doi.org/10.1111/1753-6405.13015
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.

De fato, esse grupo populacional é fortemente impactado pelas iniquidades nos determinantes sociais da saúde. Além das barreiras culturais e geográficas, os indígenas apresentam quadros mais elevados de pobreza, desnutrição, baixa escolaridade, dificuldade de acesso aos serviços de saúde e precarização dos sistemas de saneamento básico1919 McLeod M, Gurney J, Harris R, Cormack D, King P. COVID-19: we must not forget about Indigenous health and equity. Aust N Z J Public Health 2020; 44(4): 253-6. https://doi.org/10.1111/1753-6405.13015
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,2020 Charlier P, Varison L. Is COVID-19 being used as a weapon against Indigenous Peoples in Brazil? Lancet 2020; 396(10257): 1069-70. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(20)32068-7
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. Além disso, é importante destacar a característica de isolamento geográfico comum nessa população como potencial obstáculo ao acesso às medidas de atenção em saúde voltadas para o combate à pandemia. Ademais, fatores imunológicos característicos dos indígenas e a presença das doenças crônicas aumentam a suscetibilidade a surtos de doenças infecciosas, tornando os povos mais vulneráveis2121 Gelaye B, Foster S, Bhasin M, Tawakol A, Fricchione G. SARS-CoV-2 morbidity and mortality in racial/ethnic minority populations: a window into the stress related inflammatory basis of health disparities? Brain Behav Immun Health 2020; 9: 100158. https://doi.org/10.1016/j.bbih.2020.100158
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. Agrava-se essa realidade quando a exposição dessa comunidade é associada a omissão governamental de anteparo diante da doença, como reportado no relatório elaborado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH)2222 Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. Denúncia de violações dos direitos à vida e à saúde no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil [Internet]. Passo Fundo: Saluz; 2021 [accessed on Aug. 31, 2023]. Available at: https://dhsaude.org/relatorio/documento_denuncia_portugues/
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.

Os resultados deste estudo evidenciam uma associação significativa entre a testagem via RT-PCR e exame sanguíneo e a renda mensal dos participantes. Indivíduos com menor renda apresentaram maior chance de testagem positiva através dessas modalidades diagnósticas. No Brasil, a disseminação do vírus da COVID-19 teve início em indivíduos de classe econômica mais elevada e posteriormente o vírus se espalhou rapidamente entre as pessoas de classe econômica menos favorecida, visto que parte desses indivíduos realizaram a manutenção das suas atividades diárias por necessidade de subsistência2323 Pirtle WNL. Racial capitalism: a fundamental cause of novel coronavirus (COVID-19) pandemic inequities in the United States. Health Educ Behav 2020; 47(4): 504-8. https://doi.org/10.1177/1090198120922942
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,2424 Estrela FM, Soares CFS, Cruz MA, Silva AF, Santos JRL, Moreira TMO, et al. Pandemia da Covid 19: refletindo as vulnerabilidades a luz do gênero, raça e classe. Ciênc Saúde Colet 2020; 25(9): 3431-6. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.14052020
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. Estudos têm reportado que as condições socioeconômicas desfavoráveis, reduzido nível de escolaridade e o maior número de residentes no domicílio podem predispor a maior taxa de infecção pela COVID-191212 Hallal PC, Hartwig FP, Horta BL, Silveira MF, Struchiner CJ, Vidaletti LP, et al. SARS-CoV-2 antibody prevalence in Brazil: results from two successive nationwide serological household surveys. Lancet Glob Health 2020; 8(11): e1390-e1398. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(20)30387-9
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. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) sugere que o empobrecimento da população brasileira nos últimos anos pode ter aumentado o impacto da COVID-19 no país2525 Caribe C-CEpaALeo. América Latina y el Caribe ante la pandemia del COVID-19. Efectos económicos y sociales [Internet]. 2020 [acessado em 31 ago. 2023]. Disponível em: https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/45337/6/S2000264_es.pdf
https://repositorio.cepal.org/bitstream/...
. Grupos desfavorecidos tendem a ter ocupações menos estruturadas e com uma renda insuficiente para sua sobrevivência2626 Devakumar D, Shannon G, Bhopal SS, Abubakar I. Racism and discrimination in COVID-19 responses. Lancet 2020; 395(10231): 1194. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(20)30792-3
https://doi.org/10.1016/s0140-6736(20)30...
2828 Smith JA, Judd J. COVID-19: vulnerability and the power of privilege in a pandemic. Health Promot J Austr 2020; 31(2): 158-60. https://doi.org/10.1002/hpja.333
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., geralmente inseridos em ocupações que não oferecem a possibilidade de trabalhar em casa, necessitando utilizar o transporte público para a locomoção e, assim, aumentando o contato entre as pessoas2929 Mascarello KC, Vieira ACBC, Souza ASS, Marcarini WD, Barauna VG, Maciel ELN. Hospitalização e morte por COVID-19 e sua relação com determinantes sociais da saúde e morbidades no Espírito Santo: um estudo transversal. Epidemiol Serv Saúde 2021; 30(3): e2020919. https://doi.org/10.1590/S1679-49742021000300004
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,3030 Shadmi E, Chen Y, Dourado I, Faran-Perach I, Furler J, Hangoma P, et al. Health equity and COVID-19: global perspectives. Int J Equity Health 2020; 19(1): 104. https://doi.org/10.1186/s12939-020-01218-z
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. Ademais, a insuficiente testagem realizada no Brasil durante o período da Pnad COVID-19, resultado do escasso número de testes disponíveis no SUS e omissão do governo brasileiro na aquisição, resultou na compra dos testes de forma individual, afastando as populações desfavorecidas do diagnóstico da doença2626 Devakumar D, Shannon G, Bhopal SS, Abubakar I. Racism and discrimination in COVID-19 responses. Lancet 2020; 395(10231): 1194. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(20)30792-3
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,2828 Smith JA, Judd J. COVID-19: vulnerability and the power of privilege in a pandemic. Health Promot J Austr 2020; 31(2): 158-60. https://doi.org/10.1002/hpja.333
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,2929 Mascarello KC, Vieira ACBC, Souza ASS, Marcarini WD, Barauna VG, Maciel ELN. Hospitalização e morte por COVID-19 e sua relação com determinantes sociais da saúde e morbidades no Espírito Santo: um estudo transversal. Epidemiol Serv Saúde 2021; 30(3): e2020919. https://doi.org/10.1590/S1679-49742021000300004
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. Todavia, nos desfechos dos testes realizados, a maior positividade é destacada na população mais sensível economicamente.

Os resultados apresentados neste estudo devem ser interpretados à luz de suas limitações. A principal limitação desta investigação se refere à natureza transversal do estudo, que não permite a inferência da causalidade nas associações identificadas. O uso de dados autorreportados também pode ser considerado uma limitação, uma vez que a percepção subjetiva é fruto do comportamento verbal, e esse, por sua vez, é reforçado pelo ambiente ao qual o indivíduo está inserido2525 Caribe C-CEpaALeo. América Latina y el Caribe ante la pandemia del COVID-19. Efectos económicos y sociales [Internet]. 2020 [acessado em 31 ago. 2023]. Disponível em: https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/45337/6/S2000264_es.pdf
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.

Do mesmo modo, cabe destacar as limitações dadas pelos resultados dos testes. O teste RT-PCR está indicado para pacientes sintomáticos na fase aguda da doença entre o terceiro e o sétimo dia, assim devem-se considerar possíveis resultados falsos negativos que ocorrem quando a quantidade de genoma viral coletado é insuficiente ou o período da janela de tempo da replicação viral é perdido55 Böger B, Fachi MM, Vilhena RO, Cobre AF, Tonin FS, Pontarolo R. Systematic review with meta-analysis of the accuracy of diagnostic tests for COVID-19. Am J Infect Control 2021; 49(1): 21-9. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.07.011
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. Entretanto esse teste possui alta sensibilidade e especificidade, respectivamente 97,2 e 98,9%55 Böger B, Fachi MM, Vilhena RO, Cobre AF, Tonin FS, Pontarolo R. Systematic review with meta-analysis of the accuracy of diagnostic tests for COVID-19. Am J Infect Control 2021; 49(1): 21-9. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.07.011
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Além disso, é possível realizar o diagnóstico de COVID-19 com base na resposta imune à infecção pelo SARS-CoV 2, através dos testes sorológicos imunocromatográficos para detecção rápida dos anticorpos IgG/IgM, em amostras de sangue, soro ou plasma dos indivíduos55 Böger B, Fachi MM, Vilhena RO, Cobre AF, Tonin FS, Pontarolo R. Systematic review with meta-analysis of the accuracy of diagnostic tests for COVID-19. Am J Infect Control 2021; 49(1): 21-9. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.07.011
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. A principal limitação dessa ferramenta é a necessidade da realização, a partir do oitavo dia do início dos sintomas. Assim, o resultado da doença que se apoia nessa detecção possivelmente ocorrerá em um momento de recuperação do paciente, aumentando o desafio dos serviços de vigilância e controle da transmissão. Os testes sorológicos IgM e IgG possuem sensibilidade de 84,5% e especificidade de 91,6%44 Zeiser FA, Donida B, Costa CA, Ramos GO, Scherer JN, Barcellos NT, et al. First and second COVID-19 waves in Brazil: a cross-sectional study of patients’ characteristics related to hospitalization and in-hospital mortality. Lancet Reg Health Am 2022; 6: 100107. https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100107
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,55 Böger B, Fachi MM, Vilhena RO, Cobre AF, Tonin FS, Pontarolo R. Systematic review with meta-analysis of the accuracy of diagnostic tests for COVID-19. Am J Infect Control 2021; 49(1): 21-9. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.07.011
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., porém os testes rápidos imunocromatográficos apresentavam baixa sensibilidade, particularmente no início da pandemia3131 Guo L, Ren L, Yang S, Xiao M, Chang D, Yang F, et al. Profiling early humoral response to diagnose novel coronavirus disease (COVID-19). Clin Infect Dis 2020; 71(15): 778-85. https://doi.org/10.1093/cid/ciaa310
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.

Importa destacar que a sensibilidade de um teste diagnóstico diz respeito à capacidade de identificar corretamente o resultado positivo da doença, e a especificidade aponta a capacidade de identificar a ausência44 Zeiser FA, Donida B, Costa CA, Ramos GO, Scherer JN, Barcellos NT, et al. First and second COVID-19 waves in Brazil: a cross-sectional study of patients’ characteristics related to hospitalization and in-hospital mortality. Lancet Reg Health Am 2022; 6: 100107. https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100107
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,55 Böger B, Fachi MM, Vilhena RO, Cobre AF, Tonin FS, Pontarolo R. Systematic review with meta-analysis of the accuracy of diagnostic tests for COVID-19. Am J Infect Control 2021; 49(1): 21-9. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.07.011
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Com base numa revisão de literatura realizada pelos autores, até o momento, não foram publicados estudos que procuraram validar essas questões autorreferidas de resultados positivos para COVID-19. Estudos com delineamentos de coorte e testes bioquímicos poderiam melhor ilustrar as desigualdades no contágio pela doença. Ademais, é importante considerar que, em abril de 2020, as terras indígenas mais vulneráveis eram aquelas localizadas às margens dos grandes centros urbanos, como Manaus, eixo Rio Branco-Porto Velho, Fortaleza, Salvador e capitais do Sul e Sudeste do Brasil. Assim, considerando a atuação da Pnad COVID-19 nos grandes centros urbanos, sugere-se que essas descobertas podem representar um quadro menor da realidade, uma vez que não alcança efetivamente aldeias e terras indígenas em regiões isoladas do país. Por fim, os resultados aqui descritos são válidos e robustos, somando a um campo pouco explorado na literatura brasileira.

Este estudo identificou associação significativa entre a etnia/raça e a situação econômica com resultado positivo para COVID-19 em adultos brasileiros. Esse panorama reflete uma situação de vulnerabilidade nesses grupos e demonstra a necessidade da elaboração e expansão de políticas públicas mais equitativas que contemplem grupos mais vulneráveis em contexto de crise de saúde pública.

  • FONTE DE FINANCIAMENTO:
    Este estudo foi financiado em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Brasil – Código 001/2020.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    08 Dez 2023
  • Revisado
    27 Abr 2024
  • Aceito
    29 Abr 2024
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br