Resumos
O lugar que as entrevistas vieram a ocupar dentro da pesquisa social é muito mais relevante e equacionado de forma substancialmente diferente do passado. Ao sucesso das técnicas de entrevista ditas “semidirectivas” ou “semiestruturadas” próprias aos paradigmas estrutural-funcionalistas, tem-se seguido o uso de formas mais criativas de entrevistar. Entre estas, dá-se destaque neste artigo à entrevista compreensiva, uma técnica qualitativa de recolha de dados que articula formas tradicionais de entrevista semidiretiva com técnicas de entrevista de natureza mais etnográfica. Isto na medida em que a entrevista compreensiva é o culminar técnico e epistemológico do processo de criativização a que o uso das técnicas de entrevista tem sido recentemente sujeito na pesquisa social. Já não é necessariamente concebida como uma técnica neutra, estandardizada e impessoal de recolha de informação, mas como resultado de uma composição (social e discursiva) a duas vozes, em diálogo recíproco a partir das posições que ambos os interlocutores ocupam na situação específica de entrevista (de interrogador e de respondente). A aplicação da entrevista de tipo compreensivo pressupõe a obtenção de um discurso mais narrativo que informativo, resultado da intersubjectividade que se desenrola entre entrevistado e entrevistador. Tal exercício pressupõe da parte do entrevistador uma postura criativa e de improvisação na condução da entrevista, que requer artes e manhas específicas. Refletir sobre as condições de interação da entrevista enquanto situação excecional de comunicação, e os respetivos efeitos na produção de conhecimento e na epistemologia da pesquisa social, é o objetivo central deste artigo.
Entrevista Compreensiva; Entrevistador Criativo; Improvisação; Interação Entrevistador/Entrevistado
Introdução
A entrevista tem sido, provavelmente, a técnica de pesquisa qualitativa mais mobilizada nos trabalhos de campo de estudantes e pesquisadores em ciências sociais, sob diferentes formatos22King e Horrocks (2010), bem como Flick (2005, p. 77-126), dão um amplo panorama sobre vários tipos de entrevistas utilizadas na investigação em ciências sociais (e além dela), a partir de variadas abordagens teórico-metodológicas, e tendo como alvo entrevistados com perfis muito diversificados. e mídia33 Em interação face a face, por telefone, telemóvel, skype, chats, correio eletrónico, fóruns, redes sociais, etc.. Esse sucesso advém, em grande medida, do facto de as técnicas de entrevista potenciarem uma forma relativamente económica e acessível a um largo e diversificado conjunto de material empírico. Supostamente, seria apenas necessário ter um instrumento de gravação, alguma audácia, empatia e capacidade de comunicação para fazer algumas questões antecipadamente preparadas, para depois retirar do material recolhido elementos de informação e de ilustração de hipóteses previamente desenvolvidas.
E, de facto, é assim que é frequentemente considerada a entrevista, presidindo uma atitude de dureza mole à sua escolha como técnica de pesquisa principal, ou mesmo única, no desenho metodológico de muitas pesquisas: dureza relativa ao formato estandardizado que a aplicação da entrevista tende a assumir de entrevistado para entrevistado, cega às idiossincrasias narrativas e culturais deste; mole na reflexividade teórica e epistemológica que subjaz à escolha da própria técnica em função do objeto de estudo definido, bem como na reflexividade sobre os efeitos de toda dinâmica social implicada no decurso de qualquer entrevista.
Na tradição estrutural-funcionalista que dominou durante décadas as ciências sociais, as técnicas de entrevista eram aplicadas, sobretudo, para verificar a potencialidade e variabilidade cognitiva de um mesmo indicador utilizado num inquérito por questionário, este sim, considerado o instrumento por excelência de recolha de dados “objetivos”. As entrevistas, quase sempre muito dirigidas e estruturadas, eram ainda usadas como forma de dar vida a demonstrações numéricas áridas, ou marginalmente guardadas para estudos exploratórios perante problemáticas ainda desconhecidas. À entrevista eram tradicionalmente reservadas, portanto, funções verificativas e ilustrativas, subjugadas à lógica dedutiva e causal característica dos métodos quantitativos.
Com o ressurgimento das abordagens compreensivas no decorrer dos anos 6044 Em contraponto às metodologias hipotético-dedutivas, que dão enfase à explicação das regularidades, funções e causalidades da ação social, os ditos «paradigmas compreensivos» (interacionismo simbólico, etnometodologias, fenomenologias, grounded theories, etc.) têm em comum o facto de se centrarem na compreensão dos sentidos concedidos pelos atores às suas ações e interações (subjetividades e intersubjetividades), às suas racionalidades e reflexividades, às suas motivações e justificações, às suas interpretações e valorações (Guerra, 2006)., diversas formas de recolha, registo e tratamento de material empírico qualitativo vieram a ter um lugar de destaque na pesquisa social (Jovanovic, 2011JOVANOVIC, G. Toward a social history of qualitative research. History of the Human Sciences, London, v. 24, n. 2, p. 1-27, 2011.). Na expectativa de os pontos de vista dos sujeitos serem mais facilmente entre-vistos,55 Entre-vistar permite ir além da visão parcial que o «olhar» do pesquisador, nomeadamente do antropólogo observador e participante, proporciona sobre o fenómeno, por vezes insuficiente para compreender os seus sentidos nativos e as suas significações antropológicas. Entre-vistar pressupõe «um ouvir todo especial» por parte do pesquisador (Oliveira, 2000), cujas habilidades e condições necessárias irão ser objeto de discussão neste artigo. os estudos baseados exclusivamente em técnicas de entrevista, de formato mais aberto e menos estandardizado (Foddy, 1996FODDY, W. Como perguntar: teoria e prática da construção de perguntas para entrevistas e questionários. Oeiras: Celta, 1996.; Flick, 2005FLICK, U. Métodos qualitativos na investigação científica. Lisboa: Monitor, 2005.), e envolvendo pequenas “amostras” de interlocutores, começaram a ser cada vez mais frequentes por entre as ciências sociais, sendo a sua legitimidade epistemológica profundamente discutida e reconhecida (Crouch e Mckenzie, 2006CROUCH, M.; MCKENZIE, H. The logic of small samples in interview-based qualitative research. Social Science Information, London, v. 45, n. 4, p. 483-499, 2006.; Lieberson, 1992LIEBERSON, S. Small N’s and big conclusions: an examination of the reasoning in comparative studies based on a small number of cases. In: RAGIN, C. C.; BECKER, H. S. (Org.). What is a case?: exploring the foundations of social inquiry. Cambridge: Cambridge University, 1992. p. 105-118.; Small, 2009SMALL, M. L. “How many cases do I need?”: on science and the logic of case selection in field-based research. Ethnography, London, v. 10, n. 1, p. 5-38, 2009.).
Neste processo, o lugar que as entrevistas vieram a ocupar dentro da pesquisa social passou a ser muito mais relevante e equacionado de forma substancialmente diferente. Ao sucesso das técnicas de entrevista ditas “semidirectivas” ou “semiestruturadas” próprias aos paradigmas estrutural-funcionalistas,66 A tipologia de formas de entrevista mais tradicional foi pensada segundo o grau de estruturação do guião e de diretividade na sua aplicação, considerando os objetivos que lhe são atribuídos: entrevista diretiva (verificação/controlo), semidiretiva (aprofundamento), e não diretiva (exploração) (Ghiglione e Matalon, 1992; Patton, 1987; Roulston, 2010; Ruquoy, 1997). tem-se seguido o uso de formas mais criativas de entrevistar (Fontana, 2001FONTANA, A. Postmodern trends in interviewing. In: GUBRIUM, J. F.; HOLSTEIN, J. A. (Org.). Handbook of interview research: context and method. Thousand Oaks: Sage, 2001. p. 161-175.; Platt, 2001PLATT, J. The history of the interview. In: GUBRIUM, J. F.; HOLSTEIN, J. A. (Org.). Handbook of interview research. London: Sage, 2001. p. 33-53.). Entre estas, a designada entrevista compreensiva é paradigmática (Bourdieu, 1993BOURDIEU, P. (Org.). La misère du monde. Paris: Seuil, 1993.; Kauffman, 1996KAUFMANN, C. L’entretien compréhensive. Paris: Éditions Nathan, 1996.).
Artes da entrevista: composição, criatividade e improvisação
A entrevista compreensiva trata-se de uma técnica qualitativa de recolha de dados que articula formas tradicionais de entrevista semidiretiva com técnicas de entrevista de natureza mais etnográfica, na tentativa de evitar quer o dirigismo do modelo de questionário aberto, quer o laisser-faire da entrevista não diretiva. Foi proposta contra a tradição de um certo empiricismo abstrato associado à produção extensiva e supostamente impessoal de dados, sobretudo quantitativos, mas também no sentido de superar um certo formalismo metodológico característico da herança estrutural-funcionalista na pesquisa qualitativa, seguidora de uma lógica dirigista de recolha de dados estandardizada. Acaba por evitar ainda o que Back (2007)BACK, L. The art of listening. Oxford: Berg, 2007. denomina de “empiricismo intrusivo” (p. 18), particular de algumas formas de etnografia que fazem corresponder à densidade e à proximidade características desta perspetiva metodológica, uma torrente cumulativa e excessiva de detalhes e curiosidades, hiperempiricista e sem qualquer discernimento em termos de eixo analítico, o que acaba por fazer camuflar o que está verdadeiramente em jogo no terreno em análise.77 Trata-se de um risco muito comum entre debutantes no trabalho de campo etnográfico. Ver, por exemplo, a experiência relatada por Vasconcellos e colaboradores (2002).
O desafio assumido pela entrevista de tipo compreensivo pressupõe um saber-fazer mais pessoal do que estandardizado, decorrente do próprio envolvimento do investigador no desenvolvimento da pesquisa num terreno concreto, havendo, contudo, lugar a um grau de formalização e de sistematização mais elevado que as técnicas etnográficas de recolha de informação. Promotora de uma lógica de criatividade e de descoberta científica fundadora de novas teorias e conceitos, mais do que uma lógica de demonstração e ilustração de teorias previamente construídas, a entrevista compreensiva procura produzir novas preposições teóricas, através de uma articulação estreita e contínua entre o processo de recolha de dados e o processo de formulação de hipóteses. Estas serão tanto mais criativas quanto enraizadas nos dados recolhidos. Uma formulação bottom up, portanto, que deriva de baixo para cima, do terreno empírico para o terreno teórico, até formalizar o que se convencionou chamar de grounded theory, nas suas formulações mais antigas (Glaser e Strauss, 1967GLASER, B.; STRAUSS, A. L. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. Chicago: Aldine, 1967.; Glaser, 1978GLASER, B. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley: Sociology, 1978.) ou atuais (Strauss e Corbin, 1990STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of qualitative research: grounded theory procedures and techniques. Newbury Park: Sage, 1990.; Glaser, 2001GLASER, B. The grounded theory perspective: conceptualization contrasted with description. Mill Valley: Sociology, 2001., 2003GLASER, B. The grounded theory perspective II. Mill Valley: Sociology, 2003.).
Pode dizer-se que a entrevista compreensiva é o culminar técnico e epistemológico do processo de criativização a que a conceção do uso das entrevistas tem sido recentemente sujeito. A entrevista já não é necessariamente concebida como uma técnica neutra, estandardizada e impessoal de recolha de informação, mas como resultado de uma composição (social e discursiva) a duas (por vezes mais) vozes, em diálogo recíproco a partir das posições que ambos os interlocutores ocupam na situação específica de entrevista (de interrogador e de respondente), dando lugar a um campo de possibilidade de improvisação substancialmente alargado quer nas questões levantadas, quer nas respostas dadas.
Não se trata, note-se, de uma forma de improvisação anárquica, mas de uma forma de improvisação preparada, informada e controlada. Na música, a improvisação é concebida como a habilidade de, simultaneamente e ao correr da pena, produzir e interpretar sons, dentro de determinados parâmetros harmónicos, melódicos, ou rítmicos. Ora, para improvisar, os bons intérpretes têm de deter o controlo recíproco dos parâmetros sobre os quais estão a trabalhar musicalmente – particularmente se não tocam sozinhos –, ou o resultado sonoro criado soará incongruente. O mesmo acontece nas artes de entrevistar.88 Como refere Grawitz, “existe, indubitavelmente, uma técnica de entrevista, mas, mais do que uma técnica, é uma arte” (1990, p. 762). No encontro de posições que constitui qualquer entrevista (com-posição), a posição de entrevistador não é impessoal, não se quer demasiado técnica, e muito menos se quer estandardizada. Assumir uma função de comando através do ato de perguntar é assumir claramente uma posição, a de entrevistador, que implica um ponto de vista – inquirir, e delimitar sobre que domínio(s).
Deverá, contudo, paradoxalmente, gerir essa posição de entre-ver por forma a ser o menos impositiva possível sobre o ponto de vista do entrevistado. Uma entrevista bem improvisada exige da posição de entrevistador conhecimento (sobre a temática a abordar), planeamento (sobre os tópicos interessantes para ambos, quem pergunta e quem responde) e experiência (em gerir encontros sociais deste tipo com algum à vontade e coloquialidade). Mas, sobretudo, implica a constante capacidade do entrevistador em se colocar, dialógica e reciprocamente, diante do ponto de vista do entrevistado, para que o exercício de com-posição improvisada resulte da melhor maneira para ambos. Daí que a “boa pergunta” não seja, necessariamente, aquela que havia sido previamente preparada pelo entrevistador, mas a que faz sentido ao entrevistado e o convoca a tomar uma posição, a narrar um ponto de vista com densidade narrativa. Ou seja, como se argumentará, a “boa resposta” é a que resulta do sucesso de um exercício criativo de composição improvisada.
A entrevista como situação social de exceção
O que têm em comum as várias formas de entrevista, pode-se perguntar. Desde logo, o facto de implicar uma situação específica de interação social, predominantemente – ainda que não apenas – discursiva. A especificidade dessa interação social pode ser encontrada em vários níveis. A começar, o fato de a entrevista introduzir um momento de rutura relativamente aos hábitos de comunicação dos indivíduos, distinguindo-se de outras relações de troca verbal ocorridas quotidianamente. É importante insistir na diferença substancial entre o formato da entrevista e os inúmeros outros formatos interativos que, em situações correntes da vida quotidiana, podem organizar os discursos dos mesmos atores sobre os mesmos temas.
A relação de entrevista não se trata de uma simples “conversa” (Patton, 1987PATTON, M. Q. How to use qualitative methods in evaluation. Newbury Park: Sage, 1987., p. 108)99 Mesmo que se trate de uma «conversa etnográfica», informal, que ocorre como parte dos processos de observação de campo desenvolvidos pelo investigador com interesses científicos (Patton, 1987, p. 110-111)., mas oferece uma situação de comunicação verbal excecional. Uma conversa presume a existência de simetria na troca verbal, mesmo quando os atores ocupam posições e papéis diferentes no terreno. Pressupõe também que o desenrolar de uma conversa possa acontecer a qualquer momento, não sendo claramente delimitado no tempo e no espaço. Supõe ainda uma delimitação muito fluida dos papéis de entrevistador e de entrevistado, bem como da sequência da ação discursiva. Uma conversa não tem que ser estruturada em torno de pares de perguntas/respostas, podendo o diálogo estabelecido ir muito além dos temas interessantes no âmbito da problemática do pesquisador, e dar lugar a um fluxo recíproco de informação entre este e o entrevistado.
Já a situação de entrevista pressupõe “todo o encontro em que o pesquisador solicita explicitamente aos atores informações sobre determinados temas ou tópicos, estruturado em termos de uma alternância pergunta/resposta e de uma definição inicial dos estatutos de participação em termos assimétricos – isto é, estabelecendo uma separação explícita entre o estatuto de entrevistador e o de entrevistado” (Nunes, 1992NUNES, J. A. As teias da família: a construção interaccional das solidariedades primárias. 1992. Tese (Doutorado em Sociologia) - Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1992., p. 274). De facto, a entrevista supõe um caso particular de interação entre os vários interlocutores, configurando uma troca social desigual, em que a iniciativa e o controlo da situação é, em grande medida, da responsabilidade do pesquisador.
O seu sentido de excecionalidade emerge das expectativas associadas à situação entre os que dela participam, decorrentes da própria raridade quotidiana das circunstâncias que configuram o processo de interação reconhecível como uma entrevista. Tais circunstâncias remetem para o fato de a entrevista configurar: um encontro privado com um estranho, em que potencialmente acontece a partilha de vivências e experiências pessoais, muitas vezes íntimas, partilha essa sujeita a regras de confidencialidade, anonimato e tolerância (em termos de controlo dos juízos de valor); um encontro localizado no tempo e no espaço de forma explícita, através de marcadores claros que o separam de outras ocasiões quotidianas caracterizadas pela rotina e pela informalidade1010 A utilização do gravador, por exemplo, é um desses marcadores. Não só pela sua presença no decorrer de toda a interação verbal, implicando a seu registo áudio, mas também porque a sua manipulação através do ato de ligar e desligar acaba por contribuir para a definição do princípio e do fim do tempo da entrevista.; um encontro formalizado, sempre pretendido e solicitado pelo entrevistador, e cujo modelo de interação reconhecido como adequado é baseado num diálogo estruturado em termos de relação de inquirição, modelada segundo uma sequência de pergunta/resposta que identifica claramente os papéis sociais dos intervenientes: ao entrevistador cabe fazer perguntas sobre os tópicos que lhe interessam e ao entrevistado dar respostas às questões definidas pelo primeiro.
Trata-se de um modelo que define um sentido unilateral do fluxo de dados, concedendo ao entrevistador o direito de circunscrever as temáticas consideradas relevantes para a pesquisa, formular as questões que melhor representam essas temáticas, bem como organizar e conduzir a interação com os entrevistados. É uma relação desigual porque estes últimos partilham a sua visão sobre o fenómeno em estudo sem grandes contrapartidas por parte do entrevistador (embora alguns entrevistados gostem de nos redirecionar as perguntas…). O afrouxamento desse modelo pode transfigurar a entrevista em conversa, reduzindo a assimetria própria dos estatutos de participação na entrevista, mas nunca reformulando os termos da relação entre os participantes. Mesmo quando o entrevistador é levado a abandonar o seu guião ou a improvisar a sequência da entrevista em função das respostas que vai recebendo, a assimetria da relação original continua a ser conservada através da manutenção da sequência pergunta-resposta.
O discurso como composição intersubjetiva
A situação de entrevista, embora se trate de um evento discursivo excecional e controlado, não corresponde nunca às condições de uma experiência científica: é limitadamente manipulável, sendo praticamente impossível, sequer aconselhável, estabelecer-lhe protocolos perfeitamente estandardizados. Os constrangimentos a que a entrevista está sujeita variam de situação para situação, contemplando infinitas possibilidades difíceis de prever antecipadamente. Como propõe Ruquoy (1997)RUQUOY, D. Situação de entrevista e estratégia do entrevistador. In: ALBARELLO, L. et al. (Org.). Práticas e métodos de investigação em ciências sociais. Lisboa: Gradiva, 1997. p. 84-116., “ao colocarmos frente a frente dois sujeitos com a sua subjetividade, não podemos garantir que as informações obtidas sejam idênticas noutra situação de interação. É igualmente impossível garantir uma comparabilidade perfeita dos dados, uma vez que o dispositivo de interrogação não pode ser rigorosamente idêntico” (p. 85).
Tal significa que, mesmo tentando normativizar procedimentos, não há possibilidade de eliminar eventuais “fatores perturbadores” na situação social que uma entrevista envolve. Este entendimento implica renunciar às reivindicações de neutralidade dos dados obtidos através da entrevista, e reconhecer que o respetivo processo de validação passa pela contextualização das situações sociais em que são produzidos. Mais do que pensar na inteira remoção dos ditos “fatores perturbadores” da situação de entrevista – no sentido de dela se extraírem dados “não distorcidos”, ou informações –, valerá a pena refletir sobre os seus efeitos: efeitos de expetativa, resultantes do que esperam e motiva os interlocutores a concederem a um desconhecido o seu tempo e opiniões; efeitos de inquirição, decorrentes da forma como o guião está construído, como as questões são colocadas e como a entrevista é conduzida; e efeitos de interação, derivados dos sinais sociais exteriorizados pelo entrevistador e pelo entrevistado.
A tradição considerava a entrevista como um dispositivo técnico-metodológico através do qual seria relativamente fácil recolher informações junto de quem tivesse vontade e capacidade de as dar. No entanto, os dados que se obtêm através desse dispositivo não podem ser reconhecidos no estatuto epistemológico de dado informativo, mas de dado narrativo que informa e é informado por pontos de vista. Como colocam Blanchet e Gotman (1992)BLANCHET, A.; GOTMAN, A. L’enquête et ses méthodes: l’entretien. Paris: Nathan, 1992., “o questionário provoca uma resposta, a entrevista faz construir um discurso” (p. 40). Ou seja, um conjunto de afirmações que concedem densidade simbólica e coerência narrativa ao fenómeno estudado sob diversos pontos de vista. A narração não é informação factual, é uma rememoração reflexiva que implica a interpretação subjetiva sobre os episódios narrados (Garcia, 2000GARCIA, J. L. Informar y narrar: el análisis de los discursos en las investigaciones de campo. Revista de Antropologia Social, Madrid, v. 9, p. 75-104, 2000.). E é justamente esta a grande mais-valia da entrevista: mais do que recolher informação “realista” sobre factos, permite o acesso a uma narração que os comenta, valoriza, interpreta, relaciona e contrasta com outros factos.
No contexto de uma entrevista, essa narração não é construída isoladamente, pois o narrador não está sozinho. O entrevistador não se limita a recolher informações e/ou discursos sobre experiências, vivências e opiniões do entrevistado, e as respostas deste não representam meras descrições dessas vivências, experiências ou opiniões com um certo nível de detalhe e densidade. Correspondem a construções intersubjetivas, ou seja, descrições e posições discursivas que são construídas a partir de uma situação de interação estruturada a partir de pares pergunta-resposta, modelo em que a narração do entrevistado não é automática, e a intervenção do entrevistador não é neutra. Um bom entrevistador quererá sempre que o seu entrevistado produza descrições e expresse pontos de vista que vão além da contagem superficial do fenómeno, utilizando técnicas para assisti-lo e pô-lo o mais confortável e à vontade possível numa situação que, para ele, como vimos, não é usual.
A entrevista, nesta perspetiva, não dá conta de como as pessoas criam internamente o seu mundo de vida através das palavras (como seria um diário, por exemplo), mas como o criam perante a presença ativa de um interlocutor (Holstein e Gubrium, 1995HOLSTEIN, J. A.; GUBRIUM, J. F. The active interview. Thousand Oaks: Sage, 1995.), o qual não apenas escuta mas também interage através da pergunta, estimulando reflexividade e narratividade. O informante não se limita a dar informações sobre si próprio, mas implica-se num trabalho de fabricação identitária ao tentar ensaiar perante o entrevistador posições de unidade e coerência biográfica ou, pelo contrário, tentando dar conta da sua incoerência e contradição. Os resultados das entrevistas são, portanto, dados discursivos que não refletem objetivamente uma realidade, mas que resultam de uma com-posição discursiva e intersubjetiva, muitas vezes improvisada por parte de ambos os intervenientes no decorrer da situação, configurando uma espécie de situação experimental, como lhe chama Kauffman (1996)KAUFMANN, C. L’entretien compréhensive. Paris: Éditions Nathan, 1996..
De facto, o discurso narrativo que é (co)produzido no seu decorrer é, não raras vezes, um encadeamento de ações e interpretações que talvez nunca tivesse sido formulado pelo entrevistado antes deste ser interpelado. Grande parte das vezes, na lufa-lufa diária, não se para para refletir sobre o que se faz e o que se vive e, quando tal acontece, há sempre aspetos mais conscientes e refletidos do que outros. Assim, o sentido, a racionalidade e a coerência que se constroem sob o estímulo de uma pergunta, frequentemente, não são prévios aos factos, mas encontrados e improvisados no momento da narração: “aí, os elementos que na altura pareciam dispersos e as racionalidades que no momento emergiam como espontâneas estruturam-se num todo coerente que amarra o fio condutor de múltiplas decisões e ações” (Guerra, 2006GUERRA, I. C. Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo: sentidos e formas de uso. Estoril: Principia, 2006., p. 19).
A entrevista constitui uma situação social que implica uma injunção de reflexividade junto de quem é entrevistado. Quando já se refletiu sobre o que se pergunta, a resposta é pronta, rápida, “na ponta da língua”; quando não, o entrevistado mostra-se pensativo, surpreso, relutante… (Adler e Adler, 2001ADLER, P. A.; ADLER, P. The reluctant respondent. In: GUBRIUM, J. F.; HOLSTEIN, J. A. (Org.). Handbook of interview research: context and method. Thousand Oaks: Sage, 2001. p. 515-536.). Entrevistar provoca um exercício de auto-análise que opera um trabalho de explicitação discursiva, por vezes gratificante, outras doloroso, na enunciação de experiências e reflexões, umas vezes reservadas ou reprimidas, emaladas no baú do tempo biográfico, outras vezes nunca pensadas… Obrigar o outro a falar, a tomar a palavra, a transformar a sua história vivida em história contada, muitas vezes sobre o que jamais se havia colocado como questão, é exercer um enorme poder de arbítrio. Trata-se de um exercício que, sendo provocado pelo entrevistador, requer deste responsabilidade, cuidado e realismo no seu acompanhamento, mais do que impassibilidade e impessoalidade.
Nesta perspetiva, o que se conta na situação de entrevista acaba por ser sempre um conto editado pelo entrevistador, ativamente implicado na composição das narrativas que dão conta das experiências e dos sentidos. Perguntar nunca é uma atitude imparcial, e não existem perguntas neutras. Cada pergunta formulada constitui uma tomada de posição do pesquisador. A qual, contudo, deve ir ao encontro da ordem de relevâncias e interesses subjetivos do entrevistado, conectada com a ordem de relevâncias e interesses científicos da pesquisa levada a cabo. Para ambos, entrevistador e entrevistado, as perguntas devem resultar relevantes e interessantes. Perguntar, portanto, não se trata de um mero ato de pedido de informações, mas o estabelecimento de uma ponte intersubjetiva através da qual seja possível a circulação de interesses e pontos de vista diferenciados. Só assim, do confronto entre os mundos do pesquisador e do pesquisado que decorre em qualquer situação de entrevista, resultará um verdadeiro “encontro etnográfico”, mutuamente compreensível e reciprocamente gratificante (Oliveira, 2000OLIVEIRA, R. C. O trabalho do antropólogo. Brasília, DF: Paralelo 15, 2000.).
O estatuto de entrevistador criativo
Ser um encontro privado, formalizado, localizado e assimétrico são características processuais da entrevista que configuram a excecionalidade quotidiana desta enquanto situação de interação verbal específica, com as consequentes implicações em termos da gestão intersubjetiva da informação pretendida e recebida. Se é ao entrevistador que cabe iniciar e instituir as regras do jogo de entrevistar, esta iniciativa obriga-o a ter de gerir de forma ativa e intencional todos os recursos necessários à manutenção do envolvimento dos entrevistados, para que a entrevista seja bem-sucedida. Cabe, portanto, ao entrevistador criar as condições de emergência e de desenvolvimento de um discurso extra-ordinário por parte do entrevistado, que nunca seria produzido em qualquer conversa quotidiana com amigos, familiares, conhecidos, eventualmente até outros desconhecidos.
Ainda que a entrevista seja sempre uma situação extraordinária, é arte do entrevistador, paradoxalmente, saber balizar essa excecionalidade no sentido de a banalizar tanto quanto possível durante a situação de interação com o entrevistado. Este encontra na entrevista uma ocasião excecional, que lhe é oferecida para testemunhar a sua existência, para trazer a sua experiência da esfera privada para uma certa esfera pública intimista, para se fazer explicar e se dar a entender (ao outro e a si próprio). Mas se é a excecionalidade concedida ao momento de ser entrevistado que funda a vontade do interlocutor em aproveitar esse raro pedaço de espaço-tempo que lhe é oferecido, caberá posteriormente à manha do entrevistador fazer o interlocutor acreditar que tal momento se trata de uma situação banal de conversa a dois, tentando agir com simplicidade, descontração, e disponibilidade.
Um dos tradicionais receios partilhados na visão clássica da aplicação da entrevista é a perda de objetividade do entrevistador, por via de uma “interação intimista entre entrevistado e entrevistador que altera e modifica imediatamente a pureza necessária à observação científica” (Bravo, 1983BRAVO, R. S. Técnicas de investigación social: teoría y ejercicios. Madrid: Paraninfo, 1983., p. 319). Dominada pela fidelidade aos velhos princípios metodológicos de neutralidade e de padronização dos procedimentos de recolha, em nome de um ideal positivista de rigor científico, essa visão presumia por parte do entrevistador uma postura que supostamente erradicaria os efeitos da sua intervenção pessoal na situação de entrevista.
A sua fidelidade a um guião previamente preparado na base de hipóteses teóricas de partida, com o fim de reduzir ao mínimo as variações da sua aplicação de entrevista em entrevista, bem como a manutenção de uma postura emocionalmente contida e distanciada, muitas vezes consubstanciada em entrevistas administradas como questionários, seriam condições que garantiriam uma espécie de impessoalidade e invisibilidade ao entrevistador, e que, supostamente, o neutralizariam de qualquer forma de violência simbólica e epistemológica capaz de afetar as respostas do entrevistado (Beck, 2007; Bourdieu, 1993BOURDIEU, P. (Org.). La misère du monde. Paris: Seuil, 1993.; Kaufmann, 1996KAUFMANN, C. L’entretien compréhensive. Paris: Éditions Nathan, 1996.). Este modelo de virtude metodológica dava total protagonismo ao entrevistado, no seu estatuto de informador privilegiado, assumindo a entrevista como um mero dispositivo técnico de recolha de informação, material supostamente asséptico.
No entanto, tal como equaciona Kaufmann (1996)KAUFMANN, C. L’entretien compréhensive. Paris: Éditions Nathan, 1996., será que a suposta postura impessoal do entrevistador e de não personalização das questões que coloca não conduzirá também à não personalização das respostas? Ou melhor, será que esta forma de entrevistar, mais impessoal e estandardizada, consegue ir além das opiniões normativas, superficiais e imediatamente disponíveis do entrevistado, estimulando a sua consciência e reflexividade? E não constituirá a não personalização das questões também uma forma de violência simbólica e epistémica junto dos entrevistados, muitas vezes diante de perguntas tão deslocadas, colocadas com linguajares distantes das suas vivências sociais e culturais?
De facto, se existem aspetos técnicos a ter em conta na aplicação de qualquer entrevista, estes não poderão ser objeto de padronização cega. Está, sem dúvida, na criatividade e capacidade de improvisação do entrevistador algumas das suas habilidades para fazer uma boa entrevista (Douglas, 1985DOUGLAS, J. D. Creative interviewing. London: Sage, 1985.), alguma das suas artes de entrevistar. Ao fazê-lo, o entrevistador tem o papel de fazer entrever e fazer emergir o ponto de vista a partir do qual o entrevistado, ele próprio, se coloca perante determinados tópicos. Isso pressupõe tratá-lo não apenas como um informante – através da colocação de “perguntas feitas em busca de respostas pontuais” que “criam um campo ilusório de interação” – mas como um verdadeiro interlocutor, ativamente ouvido e interpelado numa relação de diálogo permanente e mutuamente significativo (Oliveira, 2000OLIVEIRA, R. C. O trabalho do antropólogo. Brasília, DF: Paralelo 15, 2000., p. 23). Está nas competências do entrevistador, que serão técnicas mas também sociais, saber conduzir o entrevistado sem o dirigir, ou seja, implicar-se no diálogo sem lhe impor um ponto de vista, nomeadamente o das suas eventuais hipóteses de partida (Arce, 2000ARCE, R. S. La entrevista en el trabajo de campo. Revista de Antropologia Social, Madrid, v. 9, p. 105-126, 2000., p. 110).
Quanto mais implicado estiver o entrevistador nas suas crenças (mesmo que supostamente científicas, através de um elenco de hipóteses prévias), mais difícil será a sua comunicação com o outro, nomeadamente com aquele que não as replique. Como Rubio (2005/2006)RUBIO, M. I. J. La imposición de los pontos de vista durante la entrevista etnográfica. Antropologia Portuguesa, Coimbra, v. 22/23, p. 9-40, 2005/2006. chama a atenção, em muitas ocasiões, o entrevistador mais técnico e/ou tímido, armado do seu guião previamente construído, não consegue mais do que uma “réplica do seu próprio discurso”, impondo ao entrevistado conteúdos, categorias, premissas, periodizações, perspetivas, ou outros marcos de sentido que constituem, no fundo, o seu próprio ponto de vista sobre o fenómeno em causa.
Este é, justamente, o tipo de “fator perturbador” que deve ser matizado o mais possível durante o momento privilegiado da entrevista, no sentido de reduzir ao máximo a intervenção do entrevistador ao nível de indução de elementos de conteúdo e da violência simbólica e epistémica que pode ser exercida. Não se trata, portanto, de evitar que o entrevistador faça notar a sua presença no decorrer da entrevista, mas de tentar controlar o mais consciente e reflexivamente possível o que pode ser controlado enquanto efeito dessa presença, no sentido de assegurar algumas garantias de empatia compreensiva, de comunicação não violenta (nomeadamente no nível e tipo de linguagem utilizado), de colaboração e de amplitude no aprofundamento do “espaço dos pontos de vista” dos entrevistados (Bourdieu, 1993BOURDIEU, P. (Org.). La misère du monde. Paris: Seuil, 1993., p. 9-10).
Tal pressupõe da parte do entrevistador o domínio de um saber-fazer que implica não um conjunto de normas e preceitos generalizados e/ou generalizáveis, mas capacidades e competências específicas e circunstanciais que facilitem no entrevistado um processo de descoberta e de exploração do tópico proposto, com interesse e densidade, segundo as suas próprias categorias de pensamento, e seguindo o seu próprio percurso narrativo. Ora, isto implica da parte do entrevistador não um papel de neutralidade no terreno e no contacto com as pessoas a entrevistar, mas a sua implicação ativa na dinâmica de entrevista e na formulação criativa de questões, no sentido de suscitar o empenho do entrevistado na própria entrevista.
Não se trata, claro, de mostrar aprovação ou reprovação perante determinadas respostas, mas de humanizar a sua presença de forma pessoalizada, ainda que discreta, na relação de interação, através das suas competências comunicacionais, de abertura ao outro e de improvisação. Assim, contra a ilusão que consiste em procurar a neutralidade através da anulação do entrevistador, há que admitir que não é a “espontaneidade” que define a “pureza” dos dados que são obtidos da entrevista, mas a capacidade de possibilitar o que Bourdieu chama de construção realista (Bourdieu, 1993BOURDIEU, P. (Org.). La misère du monde. Paris: Seuil, 1993., p. 916).
Na construção de uma situação de entrevista, é o papel do entrevistador seguir a linha de pensamento do seu interlocutor e, ao mesmo tempo, zelar pela pertinência das perguntas e respostas relativamente ao objetivo da pesquisa. Trata-se de um exercício de composição a duas vozes, intersubjetivamente controlada, em que a criatividade e a capacidade de improviso do entrevistador é condição sine qua non para que seja colocada a “boa pergunta”. Esta não é obrigatoriamente a que está contemplada no guião, que até pode mostrar-se forçada ou deslocada considerando o desenvolvimento da interação. A melhor questão será sempre encontrada a cada momento da situação de entrevista, a partir do que é dito pelo entrevistado, nas suas últimas respostas.
Manhas de entre-vistar
A condução de uma entrevista pressupõe competências específicas no que concerne à postura ética dos entrevistadores, às maneiras de obter dados relevantes e densos, bem como às estratégias e procedimentos técnicos para o adequado andamento dessa situação de interação particular. É, sobretudo, importante considerar algumas precauções que levem o entrevistado a ter empatia e confiança no entrevistador e a entregar-se o máximo possível ao jogo da entrevista. O entrevistador é sempre o principal responsável quer pela instauração de um clima de confiança e de conforto para o encontro, quer pela gestão do impacte das condições (interpessoais, materiais, sociais e culturais) em que a interação decorre, tratando de fazer reduzir ao máximo os fatores que poderão tender a bloquear a confiança e a comunicação do entrevistado desde o início ao final do jogo da entrevista.
Ainda que, em geral, o entrevistador se trate de um desconhecido para o entrevistado, durante o tempo de entrevista ele deverá propiciar as condições para tornar-se íntimo, sujeito a confissões de segredos, a revelações nunca pensadas em verbalizar: “o sociólogo que faz entrevistas longas é um tipo particular de confidente: um confidente que desaparece uma vez a confidência feita” (Lahire, 2002LAHIRE, B. Portraits sociologiques: dispositions et variations individuelles. Paris: Nathan, 2002., p. 27), não se obrigando à continuidade da relação entre entrevistador e entrevistado para além da situação de entrevista, ou à eventualidade de devolver os dados transcritos e/ou analisados. Desta feita, tornar claro ser um desconhecido a tratar o material decorrente da entrevista, garantindo ao entrevistado as condições de anonimato e confidencialidade dos conteúdos conversados, é desde logo uma condição fundamental para que o diálogo se inicie com alguma confiança. Deve também ser explicado ao entrevistado, numa linguagem entendível para este, quais são os propósitos da entrevista, articulando-a com os objetivos da pesquisa.
A opção pela utilização do termo de consentimento livre e esclarecido, um procedimento que começa a ser comum hoje em dia, deverá ser refletida considerando a população e o contexto em análise. A ética do pesquisador deverá ir além de procedimentos formais e burocráticos, que podem fazer pouco sentido para a população estudada, sobretudo quando esta tem pouca ou nenhuma familiaridade com a linguagem que preside a tais documentos, bem como com os procedimentos científicos e direitos que nele são descritos.1111 Sobre questões éticas em torno da técnica de entrevista, ver King e Horrocks (2010, p. 103-124). O que passa por ser a instituição de um ato de informação, pode acabar por configurar mais uma forma de violência simbólica e epistémica, a qual poderá comprometer a prossecução de uma “boa entrevista”. Os direitos de pedir informações adicionais sobre o projeto, de não responder a qualquer questão, e/ou até mesmo a interromper definitivamente a entrevista, deverão ser comunicados ao entrevistado de forma clara – mas tal poderá acontecer de maneira mais informal, em momentos que se mostrem adequados ao entrevistador, nomeadamente quando o entrevistado mostre algum sintoma de mal-estar perante determinada pergunta.
Mais do que assinaturas em documentos, as artes e manhas do entrevistador têm de estar orientadas para a promoção das condições de empatia e de confiança favorecedoras de um discurso denso por parte do entrevistado, por forma a introduzir-se o mais possível na intimidade afetiva e no universo categorial do seu interlocutor. Isso exige recursos comunicativos e de simpatia pessoal, mas também, a par, recursos de vigilância profissional por parte do entrevistador, que terá que ter a capacidade de suspender no decurso da entrevista toda a sua moral, opiniões e categorias de pensamento próprias. Durante esse momento excecional, o entrevistador terá de esquecer-se de si enquanto cidadão, e demonstrar uma aceitação incondicional e calorosa perante as opiniões e sentimentos manifestados pelo entrevistado, sabendo colocar-se no lugar deste, na sua estrutura de pensamento, de linguagem, até de postura corporal. É neste sentido que Bourdieu (1993BOURDIEU, P. (Org.). La misère du monde. Paris: Seuil, 1993., p. 906) fala de uma “espécie de mimetismo” por parte do entrevistador relativamente ao entrevistado, exercitando uma postura de submissão absoluta à singularidade do caso que tem pela frente. Também Lahire (2002)LAHIRE, B. Portraits sociologiques: dispositions et variations individuelles. Paris: Nathan, 2002. atenta para o facto de a entrevista compreensiva dever constituir um “verdadeiro exercício democrático”, tornando real e concreta a clássica máxima do “respeito pelo outro” (p. 401).
A manutenção desta postura de total disponibilidade diante do entrevistado e de seu discurso ao longo da situação de entrevista não é uma faculdade automática, mas uma competência que necessita ser treinada, o saber ir ao encontro de quem se tem pela frente. Exige do entrevistador uma certa experiência acumulada de situações distintas de entrevista (Rubio, 2005/2006RUBIO, M. I. J. La imposición de los pontos de vista durante la entrevista etnográfica. Antropologia Portuguesa, Coimbra, v. 22/23, p. 9-40, 2005/2006., p. 17), uma vez que raramente a exerce continuamente nas circunstâncias da sua vida quotidiana, enquanto cidadão. De facto, em grande parte das conversas correntes, cada pessoa tende a reagir ao outro com os seus próprios esquemas de pensamento. O entrevistador mais novato corre o risco de cair neste tipo de situação, quanto mais não seja aplicando o esquema de pensamento (supostamente científico) subjacente ao guião de que vai armado, o seu escudo protetor contra a surpresa e a timidez, contra a incerteza de, numa situação de conversa relativamente aberta, falhar objetivos de pesquisa. Acaba por falhar o principal: des-cobrir o que ainda está coberto pelas armaduras das certezas científicas.
Mas além do domínio de algumas artes de improvisação, algumas manhas técnicas podem também ser ativadas no decurso da entrevista no sentido de favorecer e incentivar o entrevistado a revelar os seus pensamentos mais profundos. Convém desde logo não relaxar a atenção, confiando no facto de que tudo o que for dito vai ficar registado. Desenvolver uma atitude de escuta ativa (Back, 2007BACK, L. The art of listening. Oxford: Berg, 2007.; Blanchet e Gotman, 1992BLANCHET, A.; GOTMAN, A. L’enquête et ses méthodes: l’entretien. Paris: Nathan, 1992.; Bourdieu, 1993BOURDIEU, P. (Org.). La misère du monde. Paris: Seuil, 1993.), paciente e disponível, mas também atenta e curiosa perante o que está a ser dito, permitirá ao entrevistador seguir continuadamente o discurso do entrevistado e, ao mesmo tempo, improvisar adequadamente novas questões ou sequências de questões mais pertinentes do que as que estavam previstas. Enquanto ouvinte, o entrevistador deverá sinalizar que a narrativa escutada lhe desperta interesse e que se esforça por compreendê-la, encorajando o entrevistado a prosseguir com ela até ao fim, através da utilização de expressões breves (“estou a ver…”, “humm…, compreendo…”).
Algumas técnicas mais sofisticadas de escuta ativa ajudam também a esclarecer, a aprofundar ou a relançar uma discussão no momento próprio:
técnicas de espelho: a repetição da palavra ou da frase que acaba de ser dita confirma que o entrevistador entendeu a mensagem do entrevistado e incentiva o entrevistado a prosseguir e a aprofundar a ideia exposta;
técnicas de resumo: a realização intercalada de sínteses parciais quando se quer fechar um tema, ou a reformulação de uma parte do discurso do entrevistado sob forma de interpretação, têm os mesmos efeitos de confirmação de entendimento e de incentivo a continuar no mesmo tópico (“por outras palavras, está a dizer que…”);
técnicas de complementação: ajudam a aprofundar ou a clarificar determinados aspetos de uma narrativa, através de pedidos de clarificação (de palavras, frases ou partes mais substanciais da entrevista), ou de continuação de uma história, um argumento, ou uma explicação (“pode-me dizer um pouco mais sobre o assunto?”, “pode dar-me alguns exemplos concretos?”, “quer falar um pouco mais sobre este ponto?”);
técnicas de confrontação: a utilização de contra-exemplos ou de cotejo do que é dito com outras informações, quando empregues de forma cautelosa, podem introduzir nas cognições já estruturadas novas informações, as quais são suscetíveis de conduzir o entrevistado a restruturar o campo das suas cognições e a produzir um discurso mais rico e menos normativo;
técnicas de incompreensão voluntária: são manifestações de não conhecimento do campo, que podem favorecer efeitos de pedagogia do entrevistado sobre o entrevistador, não deixando dar por adquirido o conhecimento deste sobre a experiência do fenómeno em observação e análise (“não percebo muito bem o que pretende dizer, porque não conheço”, “esta expressão significa o quê?”);
técnicas de relançamento: evitar interromper o discurso do entrevistado é uma regra de ouro no decurso da entrevista de tipo compreensivo, não apenas por questões de cortesia, mas também para que este tenha oportunidade em seguir com a estrutura do seu argumento até ao fim. Se, entretanto, outra questão surge na cabeça do entrevistador, este deverá anotá-la e só introduzi-la depois de o entrevistado terminar o raciocínio, através de técnicas de relançamento (“disse-me atrás que...”);
técnicas silenciosas: do mesmo modo que não se deverá interromper o discurso do entrevistado, também cabe ao entrevistador saber gerir os seus silêncios. Como se disse, muitas vezes o entrevistado é confrontado com perguntas sobre as quais nunca havia pensado e necessita de algum tempo para pensar. Outras vezes, o silêncio advém da questão colocada tocar pontos emocionalmente exigentes e difíceis para o entrevistado, e o entrevistador terá de ser sensível e eticamente responsável nesses momentos. O entrevistador deverá saber não ocupar estes silêncios, dando espaço à reflexão e/ou à expressão da dor. Do mesmo modo, o silêncio por parte do entrevistador também sugere ao informante que se espera mais, encorajando-o a falar mais.
Considerações finais
Qualquer uma das artes e manhas faladas são procedimentos que não garantem, à partida, a entrevista como um encontro perfeito entre entrevistador e entrevistado. Todos os procedimentos e técnicas que se podem imaginar para reduzir essa distância têm os seus limites. Nada pode neutralizar ou suspender os efeitos sociais da dissimetria subjacente a qualquer situação de entrevista. Mas pode e deve reflectir-se sobre eles, ou seja, refletir sobre as condições nas quais a entrevista é realizada, e os seus dados são produzidos e interpretados. Já muitos outros, para trás, mostraram que o conhecimento social não surge de assepsia cognitiva. Na impossibilidade de não haver qualquer efeito de contaminação intersubjetiva na produção de dados e de conhecimento sobre eles, há que trazer esses efeitos para o centro da análise e torná-los objeto de reflexão por parte do pesquisador (Roulston, 2010ROULSTON, K. Reflective interviewing: a guide to theory and practice. Los Angeles: Sage, 2010., p. 115-128).
Mais do que tentar não intervir durante a entrevista, ou seguir regras gerais ditadas por manuais (que são inúmeros, os disponíveis…), a formação de um entrevistador deve passar não apenas pela elucidação acerca das condições mínimas que evitam o mais possível esse tipo de efeitos, mas também pela aquisição do hábito de refletir sobre a formulação e sequência das suas perguntas, os efeitos das suas perguntas sobre o discurso do entrevistado, e as condições (estruturais e situacionais) que tornam possíveis tais discursos e inteligíveis tais efeitos. Vale a pena, no fim de cada entrevista, fazer um exercício de autorreflexividade (ou, eventualmente, até fazê-lo com o próprio entrevistado) sobre o que se fez e como se fez, por forma a informar o que ainda está por fazer (King e Horrocks, 2010KING, N.; HORROCKS, C. Interviews in qualitative research. Los Angeles: Sage, 2010., p. 128-130; Roulston, 2010ROULSTON, K. Reflective interviewing: a guide to theory and practice. Los Angeles: Sage, 2010., p. 115-129).
Até porque cada questão, em cada entrevista, é suscetível de análise crítica quanto aos erros e potencialidades heurísticas que revelou, exercício precioso no sentido de diagnosticar se valerá a pena transferi-la ou não para a próxima entrevista, sob a mesma ou outra roupagem discursiva. Como se viu, entrevista de tipo compreensivo não se encontra reduzida à aplicação de um guião previamente desenhado com base em pressuposições teóricas, mas implica um guião em plena reconstrução pelo pesquisador – quer no decorrer da própria situação de entrevista, quer de entrevista para entrevista –, tal como as próprias hipóteses vão sendo continuadamente colocadas e reformuladas no contexto de novas descobertas proporcionadas no decorrer da pesquisa.
É neste sentido que Kaufmann (1996)KAUFMANN, C. L’entretien compréhensive. Paris: Éditions Nathan, 1996. fala do pesquisador como um “artesão intelectual” (p. 12-13), cuja criatividade e artes de improvisação investidas na construção da sua teoria e do seu próprio método são, simultaneamente, estimuladas e controladas – numa palavra, fundamentadas – no terreno, através da capacidade que demonstra em matizar e personalizar os instrumentos teóricos e metodológicos, no decorrer de um projeto concreto de pesquisa empírica. No tipo de entrevista que se quer fazer passar por impessoal e neutro, a teoria tende a ser produzida logo no início da pesquisa sob a forma de modelo, sendo o protocolo de entrevista posteriormente fixado como instrumento de recolha de dados e de verificação das hipóteses modeladas. O roteiro de questões deverá ser estandardizado e estabilizado, e a condução da entrevista marcada por uma certa reserva do entrevistador. A entrevista de tipo compreensivo opõe-se radicalmente a esta atitude epistemológica e respetivos procedimentos operativos.
O trabalho de campo para que é convocada não se resume à mera aplicação de um guião prévio. Embora este deva existir – contendo os tópicos orientadores da entrevista, priorizando as dimensões de análise mais relevantes, e controlando o que é periférico em função da problemática que se pretende elucidar ao longo da pesquisa –, o guião deverá funcionar apenas como instrumento-guia para fazer falar os sujeitos acerca do que importa pesquisar, demonstrando-se suficientemente plástico para, na sua aplicação, ativar um diálogo mais rico do que a simples resposta a questões. Tal presume por parte do entrevistador uma atitude de permanente atenção e abertura à perspetiva e narrativa do entrevistado, no seu conteúdo e sequência, bem como de flexibilidade e habilidade em responder adequadamente, sob a forma de pergunta, aos tópicos que emergem no decorrer da entrevista. Por vezes, um tópico que é inicialmente presumido como supérfluo, ou ao qual sequer se dá relevância, manifesta-se central a desenvolver com um determinado entrevistado.
A entrevista de tipo compreensivo pressupõe, portanto, uma postura epistemológica própria, em que a tradicional relação de comando da teoria sobre a pesquisa empírica é invertida. O terreno não é tido como uma instância de verificação de um modelo preestabelecido, mas o ponto de partida de uma problematização; não é apenas o contexto de demonstração de hipóteses preestabelecidas, mas contexto de descoberta de novo conhecimento (Guerra, 2006GUERRA, I. C. Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo: sentidos e formas de uso. Estoril: Principia, 2006.; Pais, 2002PAIS, J. M. Sociologia da vida quotidiana. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2002.). A entrevista compreensiva supõe, em suma, uma forma específica de rutura epistemológica entre saber científico e senso comum, que não passa pela rutura radical característica do modelo mais clássico de ciência, mas por um modelo de rutura progressiva (Kaufmann, 1996KAUFMANN, C. L’entretien compréhensive. Paris: Éditions Nathan, 1996., p. 21-22).
Este implica um contínuo movimento de ir e vir por parte do pesquisador, criativo, interativo e recíproco, entre a escuta atenta do entrevistado que tem pela frente, a compreensão do seu esquema narrativo, categorial e valorativo, a produção de instrumentos concetuais adequados à interpretação e explicação da evidência específica e, por fim, a análise reflexiva sobre a sua própria intervenção, voluntária e/ou involuntária, ao longo de todo o seu processo de produção de conhecimento. Um trabalho sempre a duas (ou mais) vozes, polifonia em que a voz do pesquisador não deve esganiçar-se ao ponto de tornar inaudível as vozes que com ele cantam e que, em última análise, dão vida às suas composições conceituais.
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- 1Este artigo foi produzido no âmbito da preparação para o trabalho de campo do projeto “Tornando profissões de sonho realidade. Transições para novos mundos profissionais atrativos aos jovens”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Portugal (Ref. PTDC/CS-SOC/122727/2010). Para informações sobre o projeto, ver <http://dreamjobs.pt.to/>.
- 2King e Horrocks (2010)KING, N.; HORROCKS, C. Interviews in qualitative research. Los Angeles: Sage, 2010., bem como Flick (2005FLICK, U. Métodos qualitativos na investigação científica. Lisboa: Monitor, 2005., p. 77-126), dão um amplo panorama sobre vários tipos de entrevistas utilizadas na investigação em ciências sociais (e além dela), a partir de variadas abordagens teórico-metodológicas, e tendo como alvo entrevistados com perfis muito diversificados.
- 3Em interação face a face, por telefone, telemóvel, skype, chats, correio eletrónico, fóruns, redes sociais, etc.
- 4Em contraponto às metodologias hipotético-dedutivas, que dão enfase à explicação das regularidades, funções e causalidades da ação social, os ditos «paradigmas compreensivos» (interacionismo simbólico, etnometodologias, fenomenologias, grounded theories, etc.) têm em comum o facto de se centrarem na compreensão dos sentidos concedidos pelos atores às suas ações e interações (subjetividades e intersubjetividades), às suas racionalidades e reflexividades, às suas motivações e justificações, às suas interpretações e valorações (Guerra, 2006GUERRA, I. C. Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo: sentidos e formas de uso. Estoril: Principia, 2006.).
- 5Entre-vistar permite ir além da visão parcial que o «olhar» do pesquisador, nomeadamente do antropólogo observador e participante, proporciona sobre o fenómeno, por vezes insuficiente para compreender os seus sentidos nativos e as suas significações antropológicas. Entre-vistar pressupõe «um ouvir todo especial» por parte do pesquisador (Oliveira, 2000OLIVEIRA, R. C. O trabalho do antropólogo. Brasília, DF: Paralelo 15, 2000.), cujas habilidades e condições necessárias irão ser objeto de discussão neste artigo.
- 6A tipologia de formas de entrevista mais tradicional foi pensada segundo o grau de estruturação do guião e de diretividade na sua aplicação, considerando os objetivos que lhe são atribuídos: entrevista diretiva (verificação/controlo), semidiretiva (aprofundamento), e não diretiva (exploração) (Ghiglione e Matalon, 1992GHIGLIONE, R.; MATALON, B. O inquérito: teoria e prática. Oeiras: Celta, 1992.; Patton, 1987PATTON, M. Q. How to use qualitative methods in evaluation. Newbury Park: Sage, 1987.; Roulston, 2010ROULSTON, K. Reflective interviewing: a guide to theory and practice. Los Angeles: Sage, 2010.; Ruquoy, 1997RUQUOY, D. Situação de entrevista e estratégia do entrevistador. In: ALBARELLO, L. et al. (Org.). Práticas e métodos de investigação em ciências sociais. Lisboa: Gradiva, 1997. p. 84-116.).
- 7Trata-se de um risco muito comum entre debutantes no trabalho de campo etnográfico. Ver, por exemplo, a experiência relatada por Vasconcellos e colaboradores (2002).
- 8Como refere Grawitz, “existe, indubitavelmente, uma técnica de entrevista, mas, mais do que uma técnica, é uma arte” (1990, p. 762).
- 9Mesmo que se trate de uma «conversa etnográfica», informal, que ocorre como parte dos processos de observação de campo desenvolvidos pelo investigador com interesses científicos (Patton, 1987PATTON, M. Q. How to use qualitative methods in evaluation. Newbury Park: Sage, 1987., p. 110-111).
- 10A utilização do gravador, por exemplo, é um desses marcadores. Não só pela sua presença no decorrer de toda a interação verbal, implicando a seu registo áudio, mas também porque a sua manipulação através do ato de ligar e desligar acaba por contribuir para a definição do princípio e do fim do tempo da entrevista.
- 11Sobre questões éticas em torno da técnica de entrevista, ver King e Horrocks (2010KING, N.; HORROCKS, C. Interviews in qualitative research. Los Angeles: Sage, 2010., p. 103-124).
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2014
Histórico
- Recebido
03 Dez 2012 - Aceito
13 Maio 2013