Resumo em Português:
RESUMO Este trabalho discute aspectos da construção da homossexualidade masculina como parte da gestão biopolítica da sexualidade associada ao aparecimento e aos desdobramentos da epidemia do HIV/ Aids. Nesse sentido, identificou-se como a homossexualidade possui uma trajetória que a vincula historicamente à híbrida noção de periculosidade social, fundamentalmente a partir da categorização médica da penetração anal entre homens como prática desviante e, portanto, socialmente perigosa. Em anos mais recentes, mecanismos inéditos de sujeição e subjetivação têm ampliado o repertório de mecanismos de controle social da homossexualidade a partir de estratégias de prevenção ao HIV/Aids, a exemplo da camisinha e, mais recentemente, da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This study addresses aspects of the construction of male homosexuality as part of the biopolitical management of sexuality associated with the appearance and consequences of the HIV/AIDS epidemic. In this sense, it was identified how homosexuality has a trajectory that historically links it to the hybrid notion of social dangerousness, fundamentally from the medical categorization of anal penetration among men as a deviant practice and, therefore, socially dangerous. In more recent years, unprecedented mechanisms of subjection and subjectivation have expanded the repertoire of mechanisms for social control of homosexuality based on HIV/AIDS prevention strategies, such as condoms and, more recently, Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP) to HIV.Resumo em Português:
RESUMO O estudo teve como objetivo discutir sobre os sofrimentos presentes nas narrativas de mulheres que vivem com HIV e os entraves sociais que as colocam em lugares desprivilegiados em suas existências. Trata-se de pesquisa descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa a partir do levantamento de narrativas de participantes integrantes do grupo de saúde mental voltado para mulheres que vivem com HIV. Os dados foram analisados percorrendo as fases de pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados à luz das autoras feministas Federici e hooks. A partir das narrativas das mulheres, emergiram as seguintes categorias de análise dos dados: o desamparo afetivo e social experimentado após o diagnóstico do HIV; e o sentimento de impotência e de desapropriação do próprio corpo diante da soropositividade. O estudo mostrou os efeitos do estigma associado ao HIV e os sofrimentos que deles decorrem. A partir dos conceitos de solidão e amor, foi possível refletir sobre a necessidade de o cuidado dos profissionais de saúde considerar, além dos aspectos biológicos, a escuta do sofrimento vivido por mulheres com diagnóstico positivo para HIV.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The study aims to discuss the suffering in the narratives of women living with HIV and the social obstacles that place them in underprivileged places. This descriptive, qualitative and exploratory research was based on the survey of narratives from participant members of the mental health group focused on women living with HIV. The data were analyzed through pre-analysis, material exploration, and data processing in light of the feminist authors Federici and hooks. The following categories of data analysis emerged from the women’s narratives: the affective and social helplessness experienced after the HIV diagnosis and impotence and dispossession of one’s own body in the face of seropositivity. The study showed the effects of the stigma associated with HIV and the resulting suffering. Based on the concepts of loneliness and love, we could reflect on the need for health professionals’ care to consider biological aspects and listen to the suffering of seropositive women.Resumo em Português:
RESUMO A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) para o HIV constitui-se como uma tecnologia biomédica, ofertada em casos de violência sexual e acidente ocupacional desde o início dos anos 2000, tendo sua oferta ampliada para as situações de relações sexuais consentidas após 2010. Apesar de classificada como biomédica, sua oferta e sua execução são mediadas por tecnologias relacionais, perpassadas por sentidos socialmente construídos. Este trabalho teve como objetivo interrogar os discursos produzidos acerca da oferta da PEP sexual entre trabalhadoras de saúde. A pesquisa possui inspiração na perspectiva genealógica de Michel Foucault, com base na necessidade de problematizar as relações de poder a partir dos discursos e conhecimentos dos profissionais de saúde que atuam com a efetivação da PEP sexual em um município de médio porte da região central do Paraná. Foram realizadas 12 entrevistas com gestoras da política de HIV/Aids e trabalhadoras dos serviços que ofertam a PEP sexual. Discutem-se os discursos que permeiam a PEP sexual, colocando em evidência tanto o direito ao seu acesso e ampliação de possibilidades preventivas quanto os discursos prescritivos que perpassam e constrangem a sua oferta. Conclui-se que é necessário qualificar o acesso à PEP sexual, afirmando-a como uma prática de liberdade.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Post-Exposure Prophylaxis (PEP) for HIV is a biomedical technology, offered in cases of sexual violence and occupational accidents since the early 2000s, with its offer expanded to situations of consensual sexual relations after 2010. Despite being classified as biomedical, its offer and execution is mediated by relational technologies, permeated by socially constructed meanings. This study aimed to question the discourses produced on the offer of PEP among health workers. The research is inspired by Michel Foucault’s genealogical perspective, based on the need to problematize power relations in the discourses and knowledge of health professionals who work with the implementation of PEP in a medium-sized city in the central region of Paraná. Twelve interviews were carried out with managers of the HIV/AIDS policy and workers in the services that offer PEP. The discourses about the PEP are discussed, highlighting both the right to access and expansion of preventive possibilities and the prescriptive discourses permeating and constraining its offer. In conclusion, it is pointed out the necessity to qualify the access to PEP, affirming it as a practice of freedom.Resumo em Português:
RESUMO Este artigo discute os modos de aplicação da Profilaxia Pós-Exposição sexual (PEP sexual) ao HIV em um serviço público de saúde no estado do Rio de Janeiro. Os dados resultam de um estudo de caso e foram produzidos a partir de entrevistas com usuários da PEP sexual e profissionais responsáveis por esse atendimento. Referenciais teóricos sobre integralidade foram utilizados como parâmetros para análise. Ainda que os resultados tenham apontado práticas pautadas em uma relação dialógica que favorecem um cuidado singularizado, predominaram práticas médico e procedimento centradas atravessadas por padrões morais discriminatórios. Desafios ainda precisam ser enfrentados para que o direito de as pessoas conhecerem e se beneficiarem das medidas preventivas, a partir de escolhas esclarecidas e de acordo com suas necessidades, possa ser assegurado. Investimentos em uma formação profissional, que produza reflexões e interrogações sobre as práticas de saúde e organização dos serviços, podem contribuir para o desenvolvimento de ações orientadas pelos princípios do Sistema Único de Saúde – permitindo que o atendimento para PEP sexual possa constituir-se como um dispositivo de cuidado para prevenção do HIV.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This article discusses the forms of application of sexual Post-Exposure Prophylaxis to HIV in a public health service in the state of Rio de Janeiro. Data result from a case study and were produced from interviews with users of the prophylaxis and professionals responsible for such care. Theoretical references on integrality were used as parameters for analysis. Although the results have shown practices centered in a dialogical relationship that favored a singularized care, medical and procedure centered practices crossed by discriminatory moral standards prevailed. Hurdles still need to be overcome so that the people’s right to know and benefit from the preventive interventions, based on informed choices and according to their needs, can be assured. Investments in a professional training, that provoke reflections and questions about health practices and organization of services, can contribute to the development of health actions guided by the Unified Health System (SUS) principles – allowing that the assistance for people who search for the sexual PEP can become a care device for HIV prevention.Resumo em Português:
RESUMO Objetivou-se compreender os aspectos envolvidos na comunicação da própria condição clínica aos parceiros por mulheres jovens que nasceram com HIV. Trata-se de pesquisa qualitativa, desenvolvida em Serviço de Assistência Especializada ao HIV na região sul do Brasil com dez jovens que nasceram com HIV, sendo empregada a entrevista individual, de junho de 2017 a março de 2018. Utilizou-se a análise psicossocial ancorada no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos. Evidenciaramse dois grupos: o primeiro, composto por jovens que optaram por comunicar sua condição clínica ao parceiro no início das relações afetivas; e o segundo, com as jovens que postergaram tal comunicação. Todas vivenciaram receios e medos da reação do parceiro, pensaram ou adotaram algumas estratégias para a comunicação e relataram situações de menor implicação nas condutas preventivas ao HIV pelos casais/parceiros. Conclui-se que são essenciais práticas de cuidado que dialoguem com as jovens sobre as dificuldades singulares em seus contextos intersubjetivos, atravessados por questões sociais estruturais a fim de apoiá-las na comunicação sobre a soropositividade aos parceiros em tempo mais oportuno possível, na adoção de estratégias preventivas e no acesso aos recursos que protejam a saúde sexual e reprodutiva delas e dos parceiros.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The objective was to understand the aspects involved in the communication of their own clinical condition to their partners by young women born with HIV. This is qualitative research, developed in a Specialized HIV Care Service in the southern region of Brazil with ten young people who were born with HIV, using the individual interview, from June 2017 to March 2018. An anchored psychosocial analysis was used within the Framework of Vulnerability and Human Rights. Two groups emerged: the first composed of young women who chose to communicate with their partners at the beginning of affective relationships; and the second, with the young women who postponed such communication. All of them experienced apprehensions and fears regarding the partner’s reaction, thought about or adopted some strategies for communication, and reported situations of lesser involvement in HIV prevention behaviors by couples/partners. Care practices that dialogue with young women about the unique difficulties in their intersubjective contexts, crossed by structural social issues, are essential in order to support them in communicating their HIV status to their partners in as soon as possible, in adopting preventive strategies, and in accessing resources that protect their and their partners’ sexual and reproductive health.Resumo em Português:
RESUMO O presente ensaio trabalha nas dobras do tempo, acionando as noções de experiência, memória e perturbação, a partir da perspectiva socioantropológica, para discorrer acerca da cronicidade do viver com HIV/Aids na infância, adolescência e juventude. Seguindo as definições de ensaio, propôs-se um artesanato conceitual que ofereça outro arranjo de olhar sobre estigma, precariedade, vulnerabilidade e cronicidade. Apostou-se em um olhar que enfrente as barreiras do viver produzidas pelo estigma, discutindo em que medida a cronicidade pode acentuar a precariedade que constitui os humanos, mas que, para muitos, em virtude de sua localização social, pode significar maior precarização e vulnerabilização; considerando que, quando se é criança, adolescente e jovem, essa precarização pode levar a uma impossibilidade na circulação dos afetos, nas trocas cotidianas fundamentais dentro dos grupos, e a uma sensação constante de inadequação.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This essay works on the intertwining of time using the notions of experience, memory and disturbance from a socio-anthropological perspective to discuss the chronicity of living with HIV/Aids in childhood, adolescence and youth. Following the essay definitions, we propose a conceptual craftwork that offers another way of looking at stigma, precariousness, vulnerability, and chronicity. We invested in a perspective that faces the barriers of living produced by stigma, discussing to what extent chronicity can accentuate the precariousness that constitutes humans, although for many, due to their social location, it can mean greater precariousness and vulnerability; considering that, when one is a child, adolescent, and youth, this precariousness can lead to an impossibility in the flow of affections, in the fundamental daily exchanges within groups, and to a constant feeling of inadequacy.Resumo em Português:
RESUMO Este artigo descreve e analisa, de uma perspectiva etnográfica, como as pessoas participantes da Coletiva Loka de Efavirenz percebem, vivenciam e enfrentam os efeitos da Aids em seu cotidiano, com vistas a contribuir para o entendimento das novas formas de ativismo em HIV/Aids que emergiram na década de 2010 no Brasil e sua relação com processos de subjetivação e construção de redes informais de cuidado. Mostra-se como os membros da Loka se articulam como sujeitos atravessados pelo estigma de HIV/Aids, reivindicando o exercício de suas sexualidades e identidades marcadas por gênero, raça e classe. Desse modo, adentram a disputa por direitos por meio da produção de conhecimento e de ações que adquirem força na produção de uma rede de cuidado para além dos serviços de saúde. A análise das práticas e elaborações da Coletiva realça a Aids como lente privilegiada para situar desafios, lutas, discussões e debates que atravessam os modos de regulação das práticas erótico-sexuais e das expressões de gênero, refletindo tensões e transformações sociais mais amplas.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This article describes and analyzes, from an ethnographic perspective, how people participating in the Loka de Efavirenz Collective perceive, experience, and face the effects of AIDS in their daily lives, in order to contribute to the understanding of the new forms of HIV/AIDS activism that emerged in the 2010s in Brazil and their relationship as processes of subjectivation and construction of informal care networks. We show how the members of Loka articulate themselves as subjects crossed by the HIV/AIDS stigma, claiming the exercise of their sexualities and identities marked by gender, race, and class. In this way, they enter the dispute for rights through the production of knowledge and actions that acquire strength in the production of a network of care beyond health services. The analysis of the Collective’s practices and elaborations highlights AIDS as a privileged lens to situate the challenges, struggles, discussions, and debates that cut across modes of regulating erotic-sexual practices and gender expressions, reflecting broader social tensions and changes.Resumo em Português:
RESUMO Diversos estudos descrevem as condições de vulnerabilidade social das pessoas trans e suas experiências de discriminação nos serviços de saúde. Tais situações dificultam o acesso dessa população à promoção e ao cuidado em saúde e, no caso particular da Aids, resultam na baixa adesão à prevenção e ao tratamento. Este artigo discute as estratégias para o acesso aos serviços públicos de saúde e à prevenção ao HIV desenvolvidas por travestis e mulheres trans da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A reflexão baseou-se em dois estudos: um sobre testagem de HIV e outro sobre o uso das tecnologias biomédicas de prevenção (PrEP, PEP). Os achados, decorrentes da observação participante e de entrevistas, demonstram que a produção do cuidado em saúde desse grupo se constrói alicerçada em uma certa solidariedade política, aqui denominado de irmandade, que medeia a relação de travestis e mulheres trans com o território, os dispositivos de saúde e a experiência com o HIV/Aids. Tais dados sugerem a importância de as políticas de saúde considerarem as condições de vulnerabilidade das pessoas trans, as demandas concernentes à: autonomia e autodeterminação na produção de saúde; legitimação de suas formas de subjetivação e cuidado de si; especificidade da relação entre pares.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Several studies describe the conditions of social vulnerability of transgender people and their experiences of discrimination in health services. Such situations make it difficult for this population to access health promotion and care and, in the particular case of AIDS, result in low adherence to prevention and treatment. This article discusses the strategies for accessing public health services and HIV prevention developed by travestis and transgender women in the Metropolitan Region of Rio de Janeiro. The reflection is based on two studies, one on HIV testing and the other on the use of biomedical prevention technologies (PrEP, PEP). The findings, resulting from participant observation and interviews, indicate that the production of health care for this group is built from a certain political solidarity, here called sisterhood, which mediates the relationship of travestis and transgender women with the territory, the devices of health, and the experience with HIV/AIDS. Such data suggest the importance of health policies considering the conditions of vulnerability of trans people, the demands concerning: autonomy and self-determination in the production of health; legitimation of their forms of subjectivation and self-care; specificity of the relationship between peers.Resumo em Português:
RESUMO As práticas de saúde de modo geral, e a resposta à epidemia de HIV/Aids em particular, atravessam período crítico e desafiador no contexto social e político do Brasil no momento atual. O presente ensaio teve como objetivo discorrer sobre alguns desses desafios e os construtos conceituais que se julgam relevantes como recursos para seu enfrentamento. A reflexão destaca a resistência à biomedicalização, às abordagens individualizantes e ao abandono da perspectiva dos direitos humanos como grandes desafios do combate à Aids e discute como os conceitos reconstrutivos de vulnerabilidade, Cuidado e integralidade, desenvolvidos no ambiente da reforma sanitária, da conformação do Sistema Único de Saúde e da própria construção da resposta brasileira à epidemia de HIV/Aids, podem trazer subsídios relevantes para a resistência ao desmonte das conquistas alcançadas e à construção de novos caminhos emancipadores para a saúde coletiva.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Health practices in general, and the response to the HIV/AIDS epidemic in particular, are going through a critical and challenging period in Brazil’s current social and political context. This essay aimed to discuss some of these challenges and the conceptual constructs that are considered relevant as resources for facing them. The reflection highlights resistance to biomedicalization, to individualizing approaches and to the abandonment of the perspective of human rights as major challenges in the fight against AIDS, and discusses how the reconstructive concepts of vulnerability, care, and integrality, developed in the context of the health reform, the conformation of the Unified Health System (SUS), and the very construction of the Brazilian response to the HIV/AIDS epidemic can bring relevant subsidies to resist the dismantling of the achievements conquered and the construction of new emancipating paths for collective health.Resumo em Português:
RESUMO O texto aborda as práticas sexuais e a prevenção do HIV nos circuitos de Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) da Região Metropolitana do Recife, embasados em inquérito comportamental com 380 HSH de idade de 18 a 51 anos, e entrevistas com 20 dos respondentes. Os dados analisados foram coletados entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2017, quando a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ainda não estava disponível e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) era pouco conhecida (51,8%) e utilizada (1,3%). O Sexo Anal Desprotegido (SAD) (50,6% em parcerias fixas, 30,2% em casuais) ocorria, geralmente, com parceiros presumidamente negativos para HIV. As sorologias eram inferidas pelos vínculos (estranho, conhecido, amigo, namorado). As emoções (medo, tesão, amor, confiança, nojo, carência) eram importantes na configuração do SAD, normalmente articuladas às vinculações. Observaram-se regimes de prazer dissidentes da heteronormatividade: boca-ânus e boca-pênis; sexo a três e em grupo. Considerando a forte presença de SAD e a alta prevalência de HIV em Recife (21,5%), constatou-se a necessidade de ações educativas que apresentem técnicas da prevenção combinada (camisinha, PrEP, PEP, soroescolha, segurança negociada etc.) mediante narrativas que incorporem vínculos, emoções e regimes de prazer dissidentes, para que, ao se aproximarem dos contextos de usos, possibilitem escolhas mais seguras.Resumo em Inglês:
ABSTRACT In this text we address sexual practices and HIV prevention in the circuits of men who have sex with men (MSM) in the Metropolitan Region of Recife (RMR), based on a behavioral survey with 380 MSM, aged between 18 and 51 years, and interviews with 20 of the respondents. The analyzed data were collected between January 2016 and February 2017, when Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP) was not yet available and Post-Exposure Prophylaxis (PEP) was little known (51%) and used (1.3%). Unprotected Anal Sex (UAS) (50.6% in steady partners, 30.2% in casual partners) generally occurred between partners who were presumed to be HIV-negative. Serologies were inferred by ties (stranger, acquaintance, friend, boyfriend). Emotions (fear, lust, love, trust, disgust, neediness) were important in UAS configuration, almost always linked to attachments. We observed dissident pleasure regimes of heteronormativity: mouth-anus and mouth-penis; threesome and group sex. Considering the strong presence of UAS and the high prevalence of HIV in Recife (21.5%), we found the need for educational actions that introduce combined prevention techniques (condoms, PrEP, PEP, serochoice, negotiated safety etc.) through narratives that incorporate dissident bonds, emotions, and pleasure regimes, so that, when approaching the contexts of use, they enable safer choices.Resumo em Português:
RESUMO Apresenta-se um ensaio teórico, sustentando a proposta da autoetnografia como método no diálogo com a antropologia das emoções. A partir do exercício narrativo, de base autoetnográfica, destaca-se a importância do vínculo e do lugar ocupado por uma das pesquisadoras na vida desses jovens. Na base, encontram-se os relatos autoetnográficos das pesquisadoras, destacados a partir da experiência de 20 anos de trabalho com crianças e adolescentes, hoje jovens que convivem com HIV/Aids. As memórias, as experiências, os sentimentos e as mensagens recentemente recebidas por WhatsApp compõem o alicerce para o exercício de reflexividade. Como base de reflexividade etnográfica, a autoetnografia é uma escolha, sobretudo ética, que permite revisitar o campo do cuidado, relações e prática em perspectiva crítica e reflexiva.Resumo em Inglês:
ABSTRACT We submitted a theoretical essay supporting the proposal of autoethnography as a method of dialogue with the anthropology of emotions. From the autoethnographic-based narrative practice, we highlight the importance of the bond and the place of one of the investigators in the lives of these youngsters. The autoethnographic accounts of the investigators are found at the base, emerging from a 20-year work experience with children and adolescents, now young adults living with HIV/AIDS. The memories, experiences, feelings, and messages recently received by WhatsApp underpin the exercise of reflexiveness. Autoethnography is, most of all, an ethical option based on ethnographic reflexiveness, which allows us to revisit care, relationships, and practice from a critical and reflexive perspective.Resumo em Português:
RESUMO Objetivou-se realizar uma avaliação de implantação do modelo descentralizado de cuidado às Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA) no Município do Rio de Janeiro (MRJ) mediante análise do contexto que propiciou a intervenção e análise do grau de implantação ao fim do período estudado (2013-2016). Nesses anos, substituiu-se a atenção centrada no infectologista pelo manejo focado na Atenção Primária à Saúde (APS), no contexto de fortalecimento da Estratégia Saúde da Família. A pesquisa utilizou entrevistas com gestores e análise de dados secundários para estudar o contexto gerencial da saúde no MRJ e sua influência sobre a construção do modelo descentralizado, assim como as características desse modelo e o grau de sua implantação. A análise de contexto evidenciou a influência das normativas nacionais sobre a reforma da APS no município, e desta sobre a proposta de cuidado descentralizado, bem como as tensões entre atores do processo, especialmente gestores, médicos da APS, infectologistas e PVHA. Como características do modelo descentralizado, destacaram-se ampliação de acesso, promoção da integralidade e coordenação do cuidado. Quanto ao grau de implantação, concluiu-se que esta havia progredido heterogeneamente, avançando mais nas áreas de prevenção, diagnóstico e assistência farmacêutica, e menos em atenção integral e coordenação do cuidado.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This article aimed to evaluate the implementation of a decentralized care model for People Living With HIV/AIDS (PLWHA) in the city of Rio de Janeiro, by analyzing the context that enabled it and the degree of its implementation at the end of the time frame studied (2013-2016). During this period, infectologist-centered HIV/AIDS care was replaced by one centered in Primary Health Care (PHC), in the context of strengthening the Family Health Strategy. By interviewing administrators and analyzing secondary data, we studied the process from city health managers’ viewpoint, described its main characteristics and the degree to which decentralization measures were implemented. As a result, we observed how national guidelines influenced the implementation of changes in the municipal PHC structure, especially in the restructuring of HIV care, and the tensions among key players (administrators, PHC doctors, infectologists, and PLWHA). Among the characteristics of the new model, increasing healthcare access, enhancing integrality and coordination of care were features most commonly cited in the interviews. Finally, the degree of implementation of the decentralization policy was found to be heterogeneous, being more advanced in the fields of prevention, diagnosis and access to medication, and less in comprehensive care and coordination of care.Resumo em Português:
RESUMO A temática do HIV ainda é permeada de estigmas e culpabilização de indivíduos por seus comportamentos. Políticas públicas, incluindo a de HIV/Aids, são baseadas em categorias políticas que geram efeitos simbólicos, reproduzindo ou enfrentando estigmas. A literatura afirma que Trabalhadores da Linha de Frente (TLF) mobilizam valores pessoais e profissionais nas interações com os usuários, que podem incluir categorias sociais ou políticas. Este artigo objetivou compreender como TLF operam tais categorias em contextos institucionais de ambiguidade, bem como analisar se suas percepções com relação às categorias de comportamento de risco e juventude estão em consonância com as políticas públicas. Foram analisadas 8 normativas e entrevistados 42 trabalhadores de 6 serviços de saúde. Os materiais foram codificados, as categorias oficiais foram comparadas, e as práticas, identificadas. As conclusões sugerem que as categorias sociais e políticas têm influência mútua. As categorias políticas ainda são legitimadas por meio de percepções sociais de normalidade e risco, especialmente ao lidar com populações prioritárias. As categorias sociais, operadas na implementação reforçam estigmas e julgamentos morais sobre alguns jovens, como os negros e pobres, as mães solteiras e a comunidade LGBTQIA+. Os serviços especializados utilizam mais as categorias políticas do que os serviços de atenção primária.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Discussions about HIV are still permeated with stigmas and placing blame on individuals for their behavior. Public policies, including those related to HIV/AIDS, are based on political categories that can generate symbolic effects, either by reproducing or confronting stigmas. The literature points out that frontline health workers (TLF) apply personal and professional values in their interactions with service users, and that these values may be influenced by social or political categories. This article aims to understand how TLF operate such categories in institutional contexts that might be ambiguous, as well to analyze whether TLF’s perceptions of categories related to risk behavior and youth are in line with public policies. We analyzed 8 policy documents and interviewed 42 workers from 6 health services. The materials were coded, the official categories were compared and the practices were identified. The findings suggest that social and political categories have mutual influences. Political categories are still legitimized through social perceptions of normalcy and risk, especially as it relates to priority populations. Social categories, which operate in policy implementation, reinforce stigmas and moral judgments about certain young people, such as blacks and the poor, single mothers and those who belong to the LGBTQIA+ community. Specialized services utilize political categories more than primary care services.Resumo em Português:
RESUMO A chegada da 5ª década da epidemia de Aids sob o impacto da pandemia da Covid-19 trouxe importantes desafios para a prevenção do HIV/Aids. Este ensaio buscou sistematizar as reflexões produzidas em projeto desenvolvido pela Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids que conjugou debates sobre o momento presente das respostas à epidemia com o resgate da história social da Aids e da prevenção. Trata-se da história social da epidemia de Aids nos seus 40 anos e abordaram-se lições no campo da prevenção relevantes para repensar a prevenção na 5ª década. Apresentam-se princípios ético-políticos que fundamentaram respostas bem-sucedidas à Aids no Brasil, bem como apontam-se caminhos futuros, recomendando abordagens a serem adotadas e um pacote mínimo de recursos preventivos de acesso universal. Para evitar o desperdício da rica experiência acumulada ao longo da história social da Aids, propõe-se valorizar e recuperar lições aprendidas ao longo da história da prevenção, como a articulação de estratégias culturais e estruturais – fundamentadas em direitos e mobilização social – às estratégias de prevenção biomédicas e comportamentais e a combinação dos conceitos de vulnerabilidade e de direitos humanos, instrumentais para analisar os determinantes da epidemia e propor intervenções social e culturalmente apropriadas.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The arrival of the 5th decade of the AIDS epidemic under the impact of the COVID-19 pandemic has brought important challenges for HIV/AIDS prevention. This essay sought to systematize the reflections produced in a project developed by the Brazilian Interdisciplinary AIDS Association that combined current debates on the responses to the epidemic with the rescue of the social history of AIDS and prevention. We deal with the social history of the AIDS epidemic in its 40 years and address lessons in the field of prevention that are relevant to rethinking prevention in the 5th decade. We present ethical-political principles that underpin successful responses to AIDS in Brazil, as well as point out future paths, recommending approaches to be adopted and a minimum package of preventive resources for universal access. To avoid wasting the rich experience accumulated throughout the social history of AIDS, we propose to value and recover lessons learned throughout the history of prevention, such as the articulation of cultural and structural strategies – based on rights and social mobilization – with biomedical and behavioral prevention strategies and the combination of the concepts of vulnerability and human rights, instrumental in analyzing the determinants of the epidemic and proposing socially and culturally appropriate interventions.Resumo em Português:
RESUMO A interação entre Atenção Primária à Saúde (APS) e especializada é tão relevante quanto crítica. O cuidado às Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA), que era realizado em ambulatórios especializados, recentemente, passou a se dar também pela APS, considerando seu potencial de ampliar o acesso. A partir de estudo de caso realizado em uma região municipal do Rio de Janeiro entre 2018 e 2019, discutiu-se tal problemática, destacando como resultados: desconhecimento/hesitação dos profissionais da atenção especializada sobre a atenção básica quanto à sua capacidade de cuidar das PVHA; priorização de investimento material, simbólico e político na atenção básica; quase inexistência de canais de diálogo entre serviços; entre outros. Na experiência estudada, a interface entre APS e atenção especializada tem se dado mais em uma lógica binária e de isolamento que em uma perspectiva de interação e gestão (compartilhada) do cuidado, que seria esperada em uma conformação de rede de atenção. Apesar dos potenciais ganhos de acesso e ‘racionalização’ do uso do especialista (infectologista), tais resultados indicam a necessidade de fortalecer processos e mecanismos de comunicação e interação entre profissionais de diferentes tipos de serviços, além de dispositivos de coordenação dos cuidados, como apoio matricial e prontuário eletrônico integrado em rede.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The interaction between Primary Health Care (PHC) and specialized care is as relevant as it is critical. The care for people living with HIV/AIDS (PLWHA), carried out in specialized outpatient clinics, was implemented in PHC for its potential to expand access. Based on a case study conducted in a municipal region of Rio de Janeiro between 2018 and 2019, we examine the issue and highlight the following results: lack of knowledge and/or doubts of specialty care professionals about the effective delivery of services to PLWHA in primary care; prioritization of material, symbolic, and political investment in primary care; limited channels for dialogue between services, among others. In this study, we found the interface between PHC and specialized care to emphasize a binary logic that favors isolation instead of interaction and shared management principles expected in an integrated healthcare system. Despite the potential gains in access and ‘rationalization’ justifying the use of the specialist (infectious disease specialist), these results indicate the need to strengthen processes of communication and interaction between professionals from different types of services, in addition to strategies to reinforce the coordination of care, such as matrix support and integrated electronic medical records.Resumo em Português:
RESUMO Desde 2010, vem-se observando um desmonte de políticas na área da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos. Este artigo objetivou recuperar a memória de intervenções sociais voltadas para o enfrentamento do HIV/Aids. Para tanto, analisou dois projetos sociais com jovens, desenvolvidos por organizações governamentais e não governamentais, na década de 2000, na favela da Maré, no Rio de Janeiro. Trata-se de um estudo socioantropológico que envolveu análise documental e entrevistas com as coordenadoras dos projetos, visando identificar princípios norteadores, abordagens metodológicas e lições. Os achados indicam que o trabalho de prevenção ao HIV/Aids considerou as demandas dos(as) jovens e abordou, de forma participativa, concepções sobre direitos, sexualidade, gênero e vulnerabilidade. O estímulo à atuação juvenil na produção de intervenções e as parcerias institucionais resultaram em atividades sobre temas do cotidiano vinculados, direta ou indiretamente, à prevenção ao HIV. Tal enfoque se contrapõe aos modelos de ação preconcebidos, muitas vezes impostos em contextos de vulnerabilidade social. Os projetos não estiveram isentos de tensões nas relações adulto vs jovens. Todavia, os desafios foram narrados a partir de uma perspectiva de aprendizagem, indicando a importância da recuperação da experiência pela memória, que ajuda a identificar lições aprendidas e a orientar ações futuras.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Since 2010, there has been a dismantling of sexual and reproductive health and rights. This article aims to recover the memory of social interventions aimed at fighting HIV/AIDS. To this end, it analyzes two social projects with young people, developed by governmental and non-governmental organizations in the 2000s, in the favela of Maré, in Rio de Janeiro. It is a socio-anthropological study that involved desk review and interviews with the project coordinators, aiming to identify guiding principles, methodological approaches, and lessons. The findings indicate that the HIV/AIDS prevention work considered the demands of young people and addressed, in a participatory way, conceptions on rights, sexuality, gender, and vulnerability. The stimulation of youth activities in the production of interventions and institutional partnerships resulted in activities on everyday topics linked, directly or indirectly, to HIV prevention. This approach is opposed to preconceived models of action, often imposed in contexts of social vulnerability. The projects were not exempt from tensions in adult vs. youth relationships. However, the challenges were narrated from a learning perspective, indicating the importance of retrieving the experience through memory, which helps to identify lessons learned and guide future actions.Resumo em Português:
RESUMO Este artigo objetivou construir e validar indicadores para o cuidado à saúde dos privados de liberdade com HIV/Aids, sendo um estudo de desenvolvimento metodológico realizado em duas etapas. Na primeira, houve a construção dos indicadores por meio de revisão da literatura nas bases de dados nacionais e internacionais. Na segunda, realizaram-se a validação do conteúdo e a aparência utilizando o método da técnica Delphi; dez juízes especialistas no cuidado à pessoa que vive com HIV/Aids e atuação prática no ambiente prisional participaram dessa etapa, sendo a maioria enfermeiros atuando em unidades prisionais. Após, foi realizada a análise de consistência interna, desta feita, o instrumento foi aplicado a dez gestores de saúde de unidades prisionais e calculado do coeficiente alfa de Cronbach; a escolha dos gestores versou por meio de sorteio. O instrumento resultou em cinco dimensões: Estrutura Física; Recursos Humanos; Organização do Processo de Trabalho; Prontuários de Saúde; e Adesão ao Tratamento. O instrumento obteve 80% de concordância dos juízes com relação ao conteúdo e a aparência. O alfa de Cronbach geral foi de 0,90. O instrumento foi validado em aparência, conteúdo e consistência para avaliação do cuidado ao privado de liberdade com HIV/Aids.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This study aimed to build and validate indicators for the health care of those deprived of freedom living with HIV/AIDS, being a methodological development study carried out in two stages. In the first stage, there was the construction of indicators through a literature review in national and international databases. In the second stage, the content and appearance validation were performed using the Delphi technique method; ten judges specialized in the care of the person living with HIV/AIDS and practical performance in the prison environment participated in this stage, most of them being nurses working in prison units. After that, the internal consistency analysis was performed, and the instrument was applied to 10 health managers of prison units, and the Cronbach’s alpha coefficient was calculated. The instrument resulted in five dimensions: Physical Structure; Human Resources; Work Process Organization; Health Records; and Adherence to Treatment. The instrument obtained 80% of agreement from the judges regarding content and appearance. The overall Cronbach’s alpha was 0.90. The instrument was validated in appearance, content, and consistency for the evaluation of care to those deprived of freedom living with HIV/AIDS.Resumo em Português:
RESUMO Ao longo de 2021, no âmbito de atividades da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, foi desenvolvido o projeto ‘E se fosse com você? Histórias vividas de estigma e discriminação em 40 anos de HIV/AIDS’. O projeto buscou reunir histórias reais de estigma e discriminação, bem como mostrar traumáticas experiências vividas pelas pessoas com HIV/AIDS, para estimular a empatia e a solidariedade em torno do grupo. Este texto é um relato sobre a experiência do projeto, realizado por chamada de voluntários nas redes sociais da Associação. Entre estes, foram selecionados dez indivíduos, considerando tipos de situações vividas, faixas etárias, gêneros, raças, orientações sexuais e regiões de origem, para tentar mostrar diferentes aspectos de viver com HIV/AIDS no Brasil. No intuito de nortear as entrevistas, foi preparado roteiro semiestruturado, com dezenas de perguntas adaptadas a individualidades de cada participante, para abordar diferentes histórias. A partir das entrevistas, foram escritas dez histórias diferentes, pontuando situações de estigma e discriminação em distintos momentos da vida, assim como quadros de enfrentamento e resistência. Por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a AIDS em 2021, o livro foi lançado no seminário ‘Refazendo a Prevenção’, da mesma Associação, e está disponível para baixar gratuitamente.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Related to the activities of the Brazilian Interdisciplinary AIDS Association in 2021, the project ‘What if it was with you? Lived Stories of Stigma and Discrimination in 40 Years of HIV/AIDS’ was developed. The project aimed gathering real stories of stigma and discrimination, but also presenting the traumatic experiences lived by people with HIV/AIDS, and stimulating empathy and solidarity around the group. This article is a report on the experience of the project, carried out by calling volunteers on the social networks of the Association. Among the volunteers, ten individuals were selected, considering types of situations experienced, age groups, genders, races, sexual orientations, and origin, trying to show different aspects of living with HIV/AIDS in Brazil. To guide the interviews, a semi-structured script was prepared, with dozens of questions adapted to the individualities of each participant, to address different life stories. From the interviews, ten different stories were written, punctuating situations of stigma and discrimination, in different moments of life, as well as frames of confrontation and resistance. On the occasion of World AIDS Day in 2021, the book was launched at the same Association’s seminar ‘Refazendo a Prevenção’, and it is available for free download.Resumo em Português:
RESUMO O advento da pandemia da Covid-19 restringiu o acesso à prevenção e aos serviços de HIV/AIDS, ocasionando efeitos nas condições de vida e saúde dos indivíduos. O objetivo foi analisar o acesso de Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) e mulheres trans/travestis às tecnologias de prevenção do HIV, suas práticas sexuais, de sociabilidade e de trabalho no contexto da Covid-19 em Curitiba/PR. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas virtuais, e utilizado o referencial conceitual da vulnerabilidade. A análise foi viabilizada pelo software MaxQDA. Os resultados apontaram que muitos HSH conseguiram se isolar socialmente, restringindo as parcerias sexuais, alguns perderam o emprego, e a diminuição da renda girou entre os autônomos ou profissionais liberais. As mulheres trans/travestis profissionais do sexo tiveram que interromper o isolamento social para retornarem ao trabalho sexual, expondo-se ao novo coronavírus. A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) foi utilizada entre aqueles(as) que já estavam em uso. A oferta da PrEP e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP) foram mantidas, mas sofreram mudanças. Os serviços especializados adequaram o atendimento, mas geraram exposição dos(as) usuários(as) e revelação do status sorológico. Como conclusão, destaca-se a necessidade de serviços de HIV contínuos em emergências de saúde pública, entendidos como um direito que deve ser garantido pelo Estado.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The COVID-19 pandemic has restricted access to HIV/AIDS prevention and services, affecting individual living and health conditions. We aimed to analyze the access of Men Who Have Sex with Men (MSM) and transgender women to HIV prevention technologies, their sexual, sociability, and work practices during the COVID-19 pandemic in Curitiba (PR), Brazil. We implemented virtual semi-structured interviews and adopted the conceptual framework of vulnerability. The MaxQDA software facilitated the analysis. The results showed that many MSM managed to isolate themselves socially, restricting sexual partnerships while some lost their jobs, and income decline revolved among self-employed or freelancers. Female/trans sex workers had to stop social distancing to return to sex work, exposing themselves to the coronavirus. Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP) was adopted by those already using it. The of PrEP and Post-Exposure Prophylaxis (PEP) offer was preserved but modified. Specialized services adapted the attendance but generated users’ exposure and serological status disclosure. In conclusion, we highlight the need for continuous HIV services in public health emergencies, a State-guaranteed right.