Saúde e Sociedade, Volume: 33, Número: 2, Publicado: 2024
  • Descoordenação a serviço do racismo institucional: considerações sobre o acesso de indígenas à política de saúde Artigos Originais

    Thomazinho, Gabriela

    Resumo em Português:

    Resumo A política de saúde indígena necessita de coordenação intergovernamental entre Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e serviços municipais e estaduais de saúde para sua eficácia. Tal coordenação deve ser feita tanto em nível de formulação como na sua implementação - que deve ocorrer entre burocratas de médio escalão e de nível de rua. Baseado na literatura que discute o federalismo e mecanismos de coordenação intergovernamental, este artigo investiga os mecanismos e as dificuldades de cooperação na ponta dos serviços de saúde aos povos indígenas. Foram feitas entrevistas semiestruturadas com seis profissionais atuantes na Sesai do DSEI Mato Grosso do Sul. Identificou-se que as dificuldades dizem respeito principalmente ao racismo institucional, à estrutura sobrecarregada do SUS, à desresponsabilização por parte dos municípios e à má comunicação entre Sesai e hospitais. Já os mecanismos de cooperação identificados foram relações pessoais, agência situada de profissionais da Sesai e a existência de incentivo financeiro. Conclui-se que são necessários mais mecanismos de colaboração intergovernamental que considerem todas essas dificuldades de integração na implementação do serviço.

    Resumo em Inglês:

    Abstract The Brazilian policy for indigenous health has its efficacy conditioned by the promotion of intergovernmental coordination between the Special Secretariat for Indigenous Health (SESAI), municipal, and regional health services. This coordination should be done both in the policy formulation and in its implementation-which should occur between medium and street-level bureaucrats. Based on the literature that discusses federalism and intergovernmental coordination mechanisms, this article investigates the mechanisms and difficulties of cooperation in the frontline of health services offered to Indigenous peoples. A total of six semi-structured interviews were carried out with professionals of the SESAI in the Mato Grosso do Sul DSEI. It was identified that the difficulties are related mainly to institutional racism, the overload of the Brazilian National Health System (SUS), the unaccountability of municipal services, and the weak communication between SESAI and hospitals. The cooperation mechanisms are personal relations, situated agency of SESAI professionals, and a monetary incentive. In conclusion, there is a need for more intergovernmental collaboration mechanisms that consider these difficulties in integrating the implementation of these services.
  • Reflexões sobre as estratégias para mitigar vulnerabilidades das mulheres à violência íntima na pandemia de covid-19 Artigos Originais

    Maffacciolli, Rosana; Esperandio, Evelin Gomes; Rossetto, Maíra; Gontijo, Dyelle Hingrid Gonçalves; Teixeira, Débora Silva

    Resumo em Português:

    Resumo Neste artigo, objetiva-se refletir sobre as estratégias no campo da saúde que possam colaborar para a mitigação da vulnerabilidade de mulheres à violência íntima (VI) em meio a crises econômicas e sociais que ocorrem em contextos de pandemias, epidemias e catástrofes climáticas. Trata-se de um ensaio teórico-reflexivo elaborado a partir do diálogo entre os referenciais teóricos da vulnerabilidade e direitos humanos e o modelo ecológico de compreensão da violência. A composição desses referenciais permitiu elencar estratégias de enfrentamento da VI, analisando-as nos âmbitos individual, familiar, comunitário e social, entendendo que as dimensões da vulnerabilidade necessitam ser abordadas de forma indissociável. Tal análise indicou ser fundamental compreender os marcadores sociais da diferença e como as opressões de classe social, raça e gênero se articulam na constituição de vulnerabilidades à VI. À luz dessa compreensão, também foi possível ressaltar o papel essencial da Atenção Primária à Saúde no atendimento às mulheres em situação de violência. Recomenda-se que o poder público, a academia e os serviços de saúde possam coproduzir respostas que mitiguem essas vulnerabilidades e que as medidas sejam tomadas como prioridade.

    Resumo em Inglês:

    Abstract In the midst of economic and social crises that occur in the context of pandemics, epidemics and climate disasters, there was an increase in women’s vulnerabilities to Intimate Violence (IV). In this article, the objective is to reflect on strategies in the health field that can collaborate to mitigate these vulnerabilities. It is a theoretical-reflective essay elaborated from the dialogue between the theoretical references of vulnerability and human rights and the ecological model for understanding violence. These references made it possible to list strategies for coping with IV, analyzing them at the individual, family, community and social levels, understanding that the dimensions of vulnerability need to be addressed inseparably. This analysis emphasized that it is essential to understand the social markers of difference and how oppressions of social class, race and gender are articulated in the constitution of vulnerabilities to IV. By this understanding, it was also possible to highlight the essential role of Primary Health Care in assisting women in situations of violence. It is recommended that public authorities, university and health services can co-produce responses that mitigate these as strategies become a priority.
  • Mulheres muçulmanas e cuidado em saúde mental: Reflexões a partir da série 8 em Istambul Artigos Originais

    Paiva, Camila Motta; Pasqualin, Flávia Andréa; Barbosa, Francirosy Campos

    Resumo em Português:

    Resumo Apesar do crescente interesse pela dimensão da religiosidade na área da saúde, muçulmanos têm sido negligenciados pelo campo psi. Por um lado, profissionais pouco conhecem essa religião e seus seguidores; por outro, a população muçulmana cresce tanto pelas reversões quanto por imigração/refúgio, e adentra nas clínicas psicológicas. Para suprir tal descompasso, este artigo tem como objetivo apresentar pontos de atenção a serem considerados quando se trata da saúde mental de mulheres muçulmanas e das especificidades do cuidado direcionado a elas. Para tanto, tomou-se como disparador a série turca 8 em Istambul, que expõe os meandros de um atendimento psicológico a uma mulher muçulmana que usa hijab, o véu islâmico. A análise do corpus fez emergir três eixos reflexivos, que apontam: (1) a necessidade de psicoeducação da comunidade muçulmana diante das tensões e dos estigmas cristalizados; (2) o etnocentrismo e a islamofobia como obstáculos ao processo psicoterapêutico; e (3) a importância da escuta sensível para uma prática psicológica aberta à diversidade cultural-religiosa. Este estudo, em confluência com pesquisas etnográficas conduzidas em campo islâmico brasileiro, permite destacar possibilidades, desafios e aspectos éticos da relação entre religião e cuidado em saúde mental.

    Resumo em Inglês:

    Abstract Despite the growing interest in the dimension of religiosity in the health area, Muslims have been neglected in the psychology field. Mental health professionals know little about this religion and its followers. However, the Muslim population is growing, both through reversions and immigration/refuge, leading them to seek psychological care services. To address this divergence, this article aims to present points that should be considered about Muslim women’s mental health. To this end, we considered the Turkish series Ethos, which depicts the psychotherapeutic process of a Muslim woman who wears the hijab, the Islamic veil. The analysis of the corpus led to three axes, pointing to (a) the need for psychoeducation of the Muslim community in the face of tensions and stigmas; (b) ethnocentrism and Islamophobia as obstacles to the psychotherapeutic process; and (c) the importance of sensitive listening for a psychological practice open to cultural-religious diversity. The study, in confluence with ethnographic research conducted in the Brazilian Islamic field, allows us to highlight possibilities, challenges, and ethical aspects of the relationship between religion and mental health care.
  • Construções de masculinidades entre pessoas moradoras de rua: uma revisão de escopo Revisão Crítica da Literatura

    Abreu, Matheus de; Campos, Dalvan Antônio de; Cardoso, Heitor Mondardo; Mello, Mônica Machado Cunha e; Moretti-Pires, Rodrigo Otávio

    Resumo em Português:

    Resumo Nesta revisão objetivou-se investigar e sintetizar o que há na literatura científica sobre as relações entre as masculinidades e as pessoas moradoras de rua, com enfoque em relações sociais, trajetória e processo saúde-doença. Foi feita uma busca sistemática em dez bases de dados com os descritores: “Masculinities”, “Hegemonic Masculinities”, “Gender Identity” e “Homeless Persons”, “Homeless, Roofless” e “Houseless”. Obteve-se 2.459 resultados, com 25 referências finais após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, compostas em grande parte por estudos internacionais. Identificou-se seis temas-chave: Masculinidade enquanto prática performativa nas ruas, Masculinidades e relações de violência nas ruas, Masculinidades entre homens moradores de rua: percepções de liberdade e encarceramento, Paternidade dos homens moradores de rua, Estigmas e deságios no processo de busca pela masculinidade hegemônica nas ruas e Masculinidades como determinante social de saúde nas ruas. A revisão aborda as influências das masculinidades entre a População Moradora de Rua (PMR), destacando sua transversalidade nas vivências e atitudes do grupo, e explora a relação entre masculinidades e violência, os desafios na paternidade e os estigmas ligados à condição de vida nas ruas e impactos na saúde. Conclui-se que as normas sociais relacionadas ao masculino atuam como uma forma de se adaptar as vidas nas ruas, mas influenciam negativamente no processo saúde-doença da PMR, em especial dos homens.

    Resumo em Inglês:

    Abstract This study aimed to investigate and synthesize the scientific literature regarding the relationships between masculinities and individuals experiencing homelessness by focusing on social relationships, life trajectories, and the health-disease process. A systematic search was conducted in 10 databases using the following descriptors: “Masculinities,” “Hegemonic Masculinities,” “Gender Identity,” “Homeless Persons,” “Homeless, Roofless,” and “Houseless.” In total, 2459 results were retrieved. Overall, 25 studies remained after the application of inclusion and exclusion criteria, most of which were international studies. This study identified six key themes: 1) Masculinity as a performative practice on the streets, 2) Masculinities and relationships of violence on the streets, 3) Masculinities among men experiencing homelessness: perceptions of freedom and imprisonment, 4) Fatherhood among men experiencing homelessness, 5) Stigmas and challenges in the pursuit of hegemonic masculinity on the streets, and 6) Masculinities as a social determinant of health on the streets. This review addresses the influences of masculinities on individuals experiencing homelessness, emphasizing the cross-cutting nature of these ideals in the experiences and attitudes of this group. It explores the relationship between masculinities and violence, as well as addressing challenges in fatherhood. It highlights stigmas linked to the condition of being homeless that impact health and quality of life. It is concluded that social norms related to masculinity act negatively as social determinants of health for the homeless population, especially men.
  • Concepções de mulheres negras sobre autocuidado em saúde reprodutiva Artigos Originais

    Bento, Taís Costa; Inoue, Silvia Regina Viodres

    Resumo em Português:

    Resumo Neste trabalho se buscou identificar as concepções de mulheres negras em vulnerabilidade socioeconômica de um bairro da Zona Noroeste do município de Santos sobre saúde e autocuidado em saúde reprodutiva. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por meio de entrevista semiestruturada com 19 mulheres autodeclaradas negras. Os dados qualitativos foram submetidos à Análise de Conteúdo. Os resultados revelaram concepções acerca da saúde e do autocuidado que envolvem não apenas o aspecto biomédico, mas também a percepção de saúde integral. Concluiu-se que as mulheres consideram a saúde e o autocuidado como algo de grande importância, entretanto, atribuem ao profissional de medicina papel relevante na manutenção desse autocuidado, desconsiderando as práticas diárias que realizam de forma autônoma.

    Resumo em Inglês:

    Abstract This work sought to identify the conceptions of black women in socioeconomic vulnerability in a neighborhood in the Northwest Zone of the municipality of Santos about health and self-care in reproductive health. This is a qualitative research carried out via semi-structured interviews with 19 self-declared black women. Qualitative data were submitted to Content Analysis. The results revealed conceptions about health and self-care that involve the biomedical aspect and a perception of integral health. In conclusion, women consider health and self-care very important; however, they attribute to the medical professional a relevant role in maintaining this self-care, disregarding the daily practices carried out autonomously.
  • Quem pode atuar com acupuntura no Brasil? Revisão Crítica da Literatura

    Mocarzel, Rafael; Kornin, Alan; Tesser, Charles; Ferreira, Arthur de Sá

    Resumo em Português:

    Resumo A acupuntura é ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS), mas seu exercício é disputado juridicamente. Este estudo analisa os aspectos desse exercício por diferentes profissionais da área da saúde. Realizou-se uma análise de literatura científica e institucional (brasileira e internacional), cuja seleção foi intencionalmente orientada. Os resultados abordam aspectos da disputa sobre o exercício da acupuntura; o ensino da acupuntura e suas normativas; e a operacionalização dos registros do exercício da acupuntura no SUS. A ausência de regras unificadas desse exercício gerou regramento infralegal de instituições governamentais e corporações profissionais no Brasil, admitindo a prática multiprofissional, em conformidade com a Organização Mundial de Saúde .

    Resumo em Inglês:

    Abstract Acupuncture is offered in the Brazilian National Health System (SUS), but its practice is matter of legal disputes. This study analyzes aspects of this practice by different professionals of the field of health. An analysis of scientific and institutional literature (Brazilian and international), whose selection was intentionally guided, was carried out. The results address aspects of the dispute over the practice of acupuncture; the teaching of acupuncture and its regulations; and the operationalization of records of acupuncture practice in the SUS. The absence of unified rules for this exercise generated infra-legal regulation of governmental institutions and professional corporations in Brazil, admitting multidisciplinary practice, in accordance with the guidelines of the World Health Organization.
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
E-mail: saudesoc@usp.br