RESUMO
Objetivo:
Analisar a sobrevida global e específica em cinco anos para o câncer de mama feminino na Grande Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
Métodos:
Coorte não concorrente, de base populacional, por meio do Registro de Câncer de Base Populacional da Grande Cuiabá (Cuiabá e Várzea Grande), com mulheres diagnosticadas com câncer de mama no período de 2008 a 2013, seguidas até 2018 no banco de mortalidade regional. A amostra foi composta do total de 1.220 mulheres. Para a análise da sobrevida de cinco anos foram utilizadas as curvas de Kaplan-Meier e o modelo de regressão de riscos proporcionais de Cox, computando-se os hazard ratios para a estimativa das variáveis. Compararam-se as curvas por meio do teste log-rank (p<0,05). O linkage probabilístico foi realizado por meio do software Link Plus 2.0, e a análise de sobrevida foi realizada pelo STATA versão 12.0.
Resultados:
Não houve diferença estatística entre as sobrevidas global (SG) e a específica (SE) (SG 78,0%, intervalo de confiança de 95% — IC95% 75,6–80,2; SE 81,0%, IC95% 78,7–83,2). Apresentaram pior sobrevida as mulheres com menor escolaridade (SG 58,33%; SE 64,89%) e sem parceiro (SG 64,81%; SE 70,41%).
Conclusão:
Observa-se, assim, que a escolaridade e o estado civil afetaram as sobrevidas global e específica para o câncer de mama feminino. Faz-se necessário propor políticas que atendam ao perfil de mulheres com menor sobrevida.
Palavras-chave:
Saúde da mulher; Neoplasias da mama; Análise de sobrevida; Sistemas de informação em saúde
INTRODUÇÃO
O câncer de mama é o mais incidente na população feminina, no mundo. Em 2022, a taxa estimada de casos novos de câncer de mama foi de 46,8/100.000 mulheres. Para 2045, estima-se aumento de 46,5%, com mais de 3,3 milhões de mulheres diagnosticadas com essa patologia. Para a América do Sul, é estimado um aumento de 47,8% casos novos para o mesmo período11 International Agency for Research on Cancer. World Health Organization. Globocan, cancer tomorrow. Predictions of the future cancer incidence and mortality burden worldwide up until 2050 [Internet]. 2024 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://gco.iarc.fr/tomorrow/en
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Mundialmente, esta também é a primeira causa de óbito por câncer em mulheres, com taxa de 12,7/100.000 mulheres em 2022, com aumento estimado de 59,1% nos óbitos no mundo até 2045. Para os países da América do Sul, a taxa estimada para 2022 foi de 13,8/100.000 mulheres e projeta-se aumento de 63,3% nos óbitos até 204511 International Agency for Research on Cancer. World Health Organization. Globocan, cancer tomorrow. Predictions of the future cancer incidence and mortality burden worldwide up until 2050 [Internet]. 2024 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://gco.iarc.fr/tomorrow/en
https://gco.iarc.fr/tomorrow/en... ,22 International Agency for Research on Cancer. World Health Organization. Globocan, cancer today. Data visualization tools for exploring the global cancer burden in 2022 [Internet]. 2024 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://gco.iarc.fr/today/home
https://gco.iarc.fr/today/home... .
No Brasil, trata-se do câncer mais incidente em mulheres em todas as regiões do país. Para o triênio 2023–2025, estimou-se taxa de incidência ajustada de 66,5/100.000 mulheres e aumento de 47,6% até 2045. Para o ano de 2022, estimou-se taxa de mortalidade ajustada de 13,9/100.000 mulheres e aumento estimado de 61,9% até 2045 na mortalidade por câncer de mama no país22 International Agency for Research on Cancer. World Health Organization. Globocan, cancer today. Data visualization tools for exploring the global cancer burden in 2022 [Internet]. 2024 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://gco.iarc.fr/today/home
https://gco.iarc.fr/today/home... ,33 Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil [Internet]. 2022 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf
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A sobrevida para o câncer nas Américas é heterogênea. Na América do Norte e em Costa Rica, a sobrevida é superior à dos demais países (≥85,0%). Na própria América Latina, observam-se disparidades. Enquanto Argentina, Peru e Porto Rico apresentaram sobrevida entre 80,0 e 84,0%, países como Brasil, Colômbia, Cuba e Equador estão entre aqueles com sobrevida de 70,0 a 79,0%44 Allemani C, Matsuda T, Di Carlo V, Harewood R, Matz M, Nikšić M, et al. Global surveillance of trends in cancer survival 2000–14 (CONCORD-3): analysis of individual records for 37 513 025 patients diagnosed with one of 18 cancers from 322 population-based registries in 71 countries. Lancet 2018; 391(10125): 1023-75. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)33326-3
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)33... .
Além do diagnóstico precoce, múltiplos fatores contribuem para a melhor sobrevida de mulheres com câncer de mama, tais como status receptor hormonal positivo, diagnóstico de câncer de mama pós-menopausa, não possuir subtipo triplo negativo, raça/cor da pele branca, mulheres com parceiro, com status socioeconômico mais elevado, possuir seguro (plano de saúde)55 Martínez ME, Unkart JT, Tao L, Kroenke CH, Schwab R, Komenaka I, et al. Prognostic significance of marital status in breast cancer survival: a population-based study. PLoS One 2017; 12(5): 1-14. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0175515
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6 Li X, Zhang X, Liu J, Shen Y. Prognostic factors and survival according to tumour subtype in women presenting with breast cancer bone metastases at initial diagnosis: a SEER-based study. BMC Cancer 2020; 20(1): 1102. https://doi.org/10.1186/s12885-020-07593-8
https://doi.org/10.1186/s12885-020-07593... -77 Hossain F, Danos D, Prakash O, Gilliland A, Ferguson TF, Simonsen N, et al. Neighborhood social determinants of triple negative breast cancer. Front Public Health 2019; 7: 18. https://doi.org/10.3389/fpubh.2019.00018
https://doi.org/10.3389/fpubh.2019.00018... .
Outro fator é que, apesar de o câncer de mama feminino compor uma das prioridades do Plano Oncológico estadual, seu controle ainda é um desafio tanto em termos de melhoria da articulação da rede quanto de investimento para diminuir o intervalo entre as primeiras suspeitas, o diagnóstico da doença e o início do tratamento. Ademais, o estudo fornecerá informações quanto à realidade para subsidiar futuras ações para o controle da doença88 Mato Grosso. Plano estadual de educação permanente do Estado de Mato Grosso [Internet]. Mato Grosso: Secretaria de Estado de Saúde. Escola de Saúde Pública; 2017 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://www.saude.mt.gov.br/storage/old/files/ad-referendum-n008-anexo-%5B16479-270319-SES-MT%5D.pdf
https://www.saude.mt.gov.br/storage/old/... .
Dessa maneira, o objetivo do estudo foi analisar a sobrevida global (SG) e específica (SE) em cinco anos para o câncer de mama feminino, na coorte de 2008 a 2013, conforme a base populacional da Grande Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
MÉTODOS
Foi constituída coorte não concorrente, de base populacional, com mulheres diagnosticadas com câncer de mama, inseridas no Registro de Câncer de Base Populacional — RCBP/Cuiabá, composto dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande, estado de Mato Grosso, Brasil, no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2013. Foram selecionados apenas os casos incidentes (indicador de definitivo "true") e excluídos os casos de câncer de mama in situ. O seguimento foi realizado de maneira passiva no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) Mato Grosso, até completar cinco anos.
A cobertura do RCBP Cuiabá inclui os municípios de Cuiabá e Várzea Grande, os dois maiores municípios do estado, contíguos, com população de quase um milhão de habitantes segundo o censo de 2022, com 650.877 habitantes em Cuiabá99 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados. Cuiabá. Panorama [Internet] 2022 [cited on Aug 18, 2024]. Available at: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/cuiaba/panorama
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/cu... e 300.078 em Várzea Grande; o conglomerado urbano é denominado de Grande Cuiabá1010 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados. Várzea Grande. Panorama [Internet] 2022 [cited on Aug 18, 2024]. Available at: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/varzea-grande/panorama
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O RCBP de Cuiabá foi fundado em 1999 pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso. Os dados estavam desatualizados desde 2007. Por isso, em 2016, iniciou-se uma parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso para a atualização dos bancos, que perdurou até março de 2021. Atualmente, o RCBP Cuiabá conta com 38 estabelecimentos de saúde como fontes notificadoras, entre hospitais e clínicas de apoio e diagnóstico1111 Galvão ND, Souza RAG, Souza BSN, Melanda FN, Andrade ACS, Sousa NFS, et al. Cancer surveillance in Mato Grosso, Brazil: methodological and operational aspects of a university extension/research project. Rev Bras Epidemiol 2022; 25(Supl 1): e220002. https://doi.org/10.1590/1980-549720220002.supl.1.1
https://doi.org/10.1590/1980-54972022000... . Deles, três hospitais estão no cadastro do INCA como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon)1212 Instituto Nacional de Câncer. Onde tratar pelo SUS. Centro-Oeste. Mato Grosso [Internet]. 2022 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tratamento/onde-tratar-pelo-sus
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/c... . Quanto aos Registros Hospitalares de Câncer, que alimentam o RCBP Cuiabá, eles ainda apresentam uma incompletude elevada de variáveis relevantes, tais como escolaridade, estado civil, tumor-nódulo-metástase (TNM), estadiamento e estado da doença ao fim do primeiro tratamento1313 Oliveira JCS, Azevedo EFS, Caló RS, Atanaka M, Galvão ND, Silva AMC. Registros hospitalares de câncer de Mato Grosso: análise da completitude e da consistência. Cad Saúde Colet 2021; 29(3): 330-43. https://doi.org/10.1590/1414-462X202129030230
https://doi.org/10.1590/1414-462X2021290... .
Quanto ao preparo dos bancos, anteriormente ao pareamento entre os bancos, foi realizada uma limpeza no banco do SIM, excluindo-se os casos cujo nome do óbito estivesse preenchido como "em branco", "desconhecido", "ignorado" ou "indigente", com o total de 72 exclusões. No banco do RCBP, foram removidas as duplicidades. Foram classificados como duplicidades os registros que apresentassem dados idênticos de nome do paciente, nome da mãe, sexo, data de nascimento, código da doença e data de diagnóstico, totalizando 18 exclusões (Figura 1).
O linkage probabilístico entre os bancos RCBP e SIM foi realizado seguindo-se os três passos propostos por Coeli e Camargo Jr.1414 Coeli CM, Camargo Jr. KR de. Avaliação de diferentes estratégias de blocagem no relacionamento probabilístico de registros. Rev Bras Epidemiol 2002; 5(2): 185-96. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2002000200006
https://doi.org/10.1590/S1415-790X200200... , quais sejam: padronização, uniformização dos campos comuns a serem empregados no pareamento; blocagem, por meio da variável sexo; e, finalmente, o pareamento por meio da construção de escores de concordância baseados nas variáveis nome do paciente (óbito), nome da mãe e data de nascimento.
Com base no relacionamento probabilístico entre os bancos, foram encontrados 273 pares, todos verdadeiros. Destes, cinco registros não possuíam informação de "idade" e "data de nascimento", e um apresentou idade igual a zero (data de nascimento igual à data de diagnóstico). Após a tentativa de recuperar esses dados no Sistema de Cadastramento de Usuários do Sistema Único de Saúde (CADSUS), foi possível recuperar apenas o registro da idade igual a zero. Os demais sem informação de idade foram excluídos do banco, totalizando 1.220 registros: sendo 268 falhas (mulheres que apresentaram o desfecho óbito durante o período do estudo) e 952 censuras (mulheres que não apresentaram o desfecho óbito durante o período do estudo)1515 Carvalho MS, Andreozzi VL, Codeço CT, Campos DP, Barbosa MTS, Shimakura SE. Análise de sobrevivência: teoria e aplicações em saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2011. (Figura 1).
A variável dependente foi o tempo de entrada das mulheres no estudo (data do diagnóstico por câncer de mama) até o óbito por qualquer causa (SG) ou por câncer de mama (SE). Estudos assim são denominados análise de sobrevida1515 Carvalho MS, Andreozzi VL, Codeço CT, Campos DP, Barbosa MTS, Shimakura SE. Análise de sobrevivência: teoria e aplicações em saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2011.. O tempo de sobrevida foi computado em meses, e as mulheres que não apresentaram o evento de interesse durante o período do estudo foram consideradas censuras.
Foram analisadas as seguintes variáveis independentes: faixa etária (20–49 anos, 50–69 anos, ≥70 anos); raça/cor da pele (amarela, branca, parda, preta e sem informação); estado civil (com parceiro, sem parceiro e sem informação); escolaridade 0–7, 8+ anos de estudo e sem informação); município de residência no momento do diagnóstico da doença (Cuiabá, Várzea Grande); meio diagnóstico (histologia do tumor primário, outros) e morfologia (carcinoma ductal infiltrante, outros).
Realizou-se uma avaliação inicial por meio de frequências absolutas e relativas. As variáveis escolaridade, estado civil e raça/cor da pele apresentaram 42,70, 26,48 e 9,75% de dados sem informação, respectivamente. Diante da impossibilidade de imputação múltipla dos dados faltantes pelo número reduzido de variáveis independentes disponíveis e com dados completos1616 Nunes LN, Klück MM, Fachel JMG. Multiple imputations for missing data: a simulation with epidemiological data. Cad Saude Publica 2009; 25(2): 268-78. https://doi.org/10.1590/s0102-311x2009000200005
https://doi.org/10.1590/s0102-311x200900... , realizou-se o modelo múltiplo somente com dados completos (excluindo os sem informação) (n=645).
Foram calculadas as probabilidades de sobrevida e seus respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%) conforme as variáveis independentes. Para estimar as curvas de sobrevida foi utilizado o estimador de Kaplan-Meier para o evento de interesse, e as curvas foram comparadas entre si por meio do teste de log-rank, com nível de significância de 5%.
Para estimar o efeito das variáveis independentes na sobrevida, utilizou-se o modelo de regressão de riscos proporcionais de Cox, computando-se os hazard ratios (HR) e correspondentes IC95%. As variáveis morfologia e meio diagnóstico não atenderam ao pressuposto de proporcionalidade de riscos de Cox, por isso o modelo múltiplo foi estratificado por essas variáveis. A pressuposição de proporcionalidade dos riscos foi verificada por meio dos resíduos de Schoenfeld, desde que não houvesse rejeição da hipótese nula (p>0,05)1616 Nunes LN, Klück MM, Fachel JMG. Multiple imputations for missing data: a simulation with epidemiological data. Cad Saude Publica 2009; 25(2): 268-78. https://doi.org/10.1590/s0102-311x2009000200005
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Utilizou-se o software Link Plus 2.0 para a realização do linkage probabilístico e Stata 12.0 para a análise de sobrevida.
O estudo atende aos preceitos da Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, pois compõe o projeto matricial intitulado "Câncer e seus fatores associados: análise de registro base populacional e hospitalar de Cuiabá-MT", aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Júlio Muller e do Comitê de Ética da Escola de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso — Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso.
RESULTADOS
Das 1.220 mulheres do estudo, 80,08% residiam em Cuiabá, 59,67% eram de raça/cor não branca, 29,75% possuíam mais de oito anos de estudo, 36,80% estavam sem parceiro, 92,62% foram diagnosticadas por meio da histologia do tumor primário e 78,85% foram diagnosticadas com a morfologia carcinoma ductal invasivo. A maioria das mulheres tinha 50 anos ou mais (60,33%), a média de idade foi de 54 anos, a mediana foi de 53 anos (intervalo interquartílico de 45 a 63 anos), variando de 21 a 99 anos de idade (Tabela 1).
Até o término do estudo, das 1.220 mulheres em seguimento, 268 foram a óbito, sendo 228 (85,76%) por câncer de mama, 14 (5,23%) por outro tipo de câncer e 26 (9,71%) por outras causas identificadas.
A SG e a SE não apresentaram diferença estatística significante (SG 78,03, IC95% 75,60–80,25%; SE 81,05, IC95% 78,72–83,16%). Na SG, a faixa etária igual ou maior que 70 anos e a escolaridade de zero a sete anos apresentaram sobrevida menor e as mulheres sem parceiro apresentaram menor SG e SE (teste log-rank p<0,05) (Tabela 2 e Figura 2). A histologia do tumor primário apresentou as maiores SG e SE entre os meios diagnósticos e o carcinoma ductal invasivo quanto à morfologia (p<0,05) (Tabela 2).
Funções de sobrevida global e sobrevida específica de cinco anos das mulheres diagnosticadas com câncer de mama, segundo as variáveis do estudo. Cuiabá (MT), 2008–2013.
Sobrevida global e sobrevida específica de cinco anos do câncer de mama feminino, Registro de Câncer de Base Populacional — RCBP/Cuiabá (MT), Brasil.
Para o modelo ajustado de Cox, a faixa etária apresentou significância estatística somente para a SG. Para os modelos ajustados, incluindo o Cox estratificado, o estado civil apresentou significância estatística para ambas as sobrevidas. As demais variáveis não apresentaram diferença estatisticamente significativa (Tabela 3).
Hazard ratios (HR) não ajustados e ajustados para sobrevida global e sobrevida específica de cinco anos das mulheres diagnosticadas com câncer de mama, segundo as variáveis selecionadas para o modelo múltiplo. Cuiabá (MT), 2008–2013.
DISCUSSÃO
Neste estudo, analisou-se a SG e a SE para o câncer de mama feminino na Grande Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Não houve diferença estatística entre as duas. Na análise múltipla a variável estado civil apresentou significância estatística para ambas as sobrevidas (p<0,05).
O achado do nosso estudo foi semelhante à sobrevida encontrada para o Brasil (dados dos RCBP de Aracaju, Cuiabá, Curitiba, Goiânia, Jaú e São Paulo), realizado pelo CONCORD-344 Allemani C, Matsuda T, Di Carlo V, Harewood R, Matz M, Nikšić M, et al. Global surveillance of trends in cancer survival 2000–14 (CONCORD-3): analysis of individual records for 37 513 025 patients diagnosed with one of 18 cancers from 322 population-based registries in 71 countries. Lancet 2018; 391(10125): 1023-75. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)33326-3
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)33... , que comparou a sobrevida líquida de 18 cânceres em 71 países. Em países como Dinamarca, França, Noruega, Finlândia, Israel, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e Costa Rica, a sobrevida para o câncer de mama feminino foi mais elevada (≥85,0%). Argentina, Peru e Porto Rico apresentaram sobrevida de 80,0–84,0%. O Brasil está entre os países com sobrevida de 70,0–79,0%, como Cuba, Equador, Bulgária e Polônia. Em outro estudo realizado na Polônia, no período de 2000 a 2019, a sobrevida foi de 77,3% em cinco anos1717 Santos FLC, Michalek IM, Wojciechowska U, Didkowska J. Changes in the survival of patients with breast cancer: Poland, 2000-2019. Breast Cancer Res Treat 2023; 197(3): 623-31. https://doi.org/10.1007/s10549-022-06828-5
https://doi.org/10.1007/s10549-022-06828... , resultado semelhante ao observado neste estudo.
Estudo de base populacional realizado em Goiânia1818 Freitas Júnior R, Nunes RD, Martins E, Curado MP, Freitas NMA, Soares LR, et al. Fatores prognósticos do câncer de mama e sobrevida global em cinco e dez anos na cidade de Goiânia, Brasil: estudo de base populacional. Rev Col Bras Cir 2017; 44(5): 435-43. https://doi.org/10.1590/0100-69912017005003
https://doi.org/10.1590/0100-69912017005... , com mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 1995 e 2003, mostrou SG de 72,1% em cinco anos, menor que a encontrada no presente estudo. Esta diferença talvez seja devida ao período do estudo, ou ainda às mudanças no rastreamento e protocolo de tratamento da doença.
Melhor sobrevida foi observada na Espanha1919 Baeyens-Fernández JA, Molina-Portillo E, Pollán M, Rodríguez-Barranco M, Del Moral R, Arribas-Mir L, et al. Trends in incidence, mortality and survival in women with breast cancer from 1985 to 2012 in Granada, Spain: a population-based study. BMC Cancer 2018; 18(1): 781. https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-1
https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-... , coorte de 2000 a 2007, que analisou todos os tumores primários possíveis de diagnóstico em adultos, em nove registros de câncer de base populacional, com SG de 82,8% em cinco anos para o câncer de mama feminino.
Na SG, a faixa etária de 70 anos ou mais apresentou pior sobrevida se comparada às demais. O achado quanto à idade é consistente com a literatura acerca da sobrevida para o câncer de mama feminino1919 Baeyens-Fernández JA, Molina-Portillo E, Pollán M, Rodríguez-Barranco M, Del Moral R, Arribas-Mir L, et al. Trends in incidence, mortality and survival in women with breast cancer from 1985 to 2012 in Granada, Spain: a population-based study. BMC Cancer 2018; 18(1): 781. https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-1
https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-... ,2020 Fallahzadeh H, Momayyezi M, Akhundzardeini R, Zarezardeini S. Five year survival of women with breast cancer in Yazd. Asian Pac J Cancer Prev 2014; 15(16): 6597-601. https://doi.org/10.7314/APJCP.2014.15.16.6597
https://doi.org/10.7314/APJCP.2014.15.16... . Talvez isso seja decorrente da idade avançada e da maior proporção de diagnóstico tardio, além do fato de não ser feito o tratamento padrão para o câncer de mama1919 Baeyens-Fernández JA, Molina-Portillo E, Pollán M, Rodríguez-Barranco M, Del Moral R, Arribas-Mir L, et al. Trends in incidence, mortality and survival in women with breast cancer from 1985 to 2012 in Granada, Spain: a population-based study. BMC Cancer 2018; 18(1): 781. https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-1
https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-... .
Vários estudos1919 Baeyens-Fernández JA, Molina-Portillo E, Pollán M, Rodríguez-Barranco M, Del Moral R, Arribas-Mir L, et al. Trends in incidence, mortality and survival in women with breast cancer from 1985 to 2012 in Granada, Spain: a population-based study. BMC Cancer 2018; 18(1): 781. https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-1
https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-... ,2121 DeSantis CE, Ma J, Gaudet MM, Newman LA, Miller KD, Sauer AG, et al. Breast cancer statistics, 2019. CA Cancer J Clin 2019; 69(6): 438-51. https://doi.org/10.3322/caac.21583
https://doi.org/10.3322/caac.21583... ,2222 Dialla PO, Quipourt V, Gentil J, Marilier S, Poillot ML, Roignot P, et al. In breast cancer, are treatments and survival the same whatever a patient's age? A population-based study over the period 1998-2009. Geriatr Gerontol Int. 2015;15(5):617-26. https://doi.org/10.1111/ggi.12327
https://doi.org/10.1111/ggi.12327... revelaram diferença na sobrevida entre mulheres jovens e acima dos 50 anos de idade. Em pesquisa realizada no Irã2020 Fallahzadeh H, Momayyezi M, Akhundzardeini R, Zarezardeini S. Five year survival of women with breast cancer in Yazd. Asian Pac J Cancer Prev 2014; 15(16): 6597-601. https://doi.org/10.7314/APJCP.2014.15.16.6597
https://doi.org/10.7314/APJCP.2014.15.16... , a sobrevida das mulheres com mais de 50 anos foi pior que a das mais jovens. O estudo demonstrou ainda que a presença de comorbidades causa deficiências secundárias e afeta o tratamento da doença, além de potencializar as complicações do câncer em pacientes.
A escolaridade foi uma variável que, na análise bivariada, apresentou associação com a SG para o câncer de mama feminino. Dada a forte correlação entre escolaridade, desemprego, ocupação e renda, essa variável pode ser utilizada como proxy do status socioeconômico de uma pessoa2323 Barbosa YC, Oliveira AGC, Rabêlo PPC, Silva FS, Santos AM. Factors associated with lack of mammography: National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol 2019; 22: e190069. https://doi.org/10.1590/1980-549720190069
https://doi.org/10.1590/1980-54972019006... ,2424 Gadgil A, Roy N, Sankaranarayanan R, Muwonge R, Sauvaget C. Effect of comprehensive breast care on breast cancer outcomes: a community hospital based study from Mumbai, India. Asian Pac J Cancer Prev 2012; 13(4): 1105-9. https://doi.org/10.7314/APJCP.2012.13.4.1105
https://doi.org/10.7314/APJCP.2012.13.4.... .
Alguns estudos1919 Baeyens-Fernández JA, Molina-Portillo E, Pollán M, Rodríguez-Barranco M, Del Moral R, Arribas-Mir L, et al. Trends in incidence, mortality and survival in women with breast cancer from 1985 to 2012 in Granada, Spain: a population-based study. BMC Cancer 2018; 18(1): 781. https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-1
https://doi.org/10.1186/s12885-018-4682-... ,2121 DeSantis CE, Ma J, Gaudet MM, Newman LA, Miller KD, Sauer AG, et al. Breast cancer statistics, 2019. CA Cancer J Clin 2019; 69(6): 438-51. https://doi.org/10.3322/caac.21583
https://doi.org/10.3322/caac.21583... de países com baixo, médio e alto índice de desenvolvimento humano (IDH) mostraram melhor sobrevida de câncer de mama para as mulheres com maior escolaridade. No Brasil2323 Barbosa YC, Oliveira AGC, Rabêlo PPC, Silva FS, Santos AM. Factors associated with lack of mammography: National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol 2019; 22: e190069. https://doi.org/10.1590/1980-549720190069
https://doi.org/10.1590/1980-54972019006... , a sobrevida livre de doença para o câncer de mama em cinco anos em mulheres com maior escolaridade foi de 85,0% e, para as mulheres com menor escolaridade, de 70,9%. Na Índia2424 Gadgil A, Roy N, Sankaranarayanan R, Muwonge R, Sauvaget C. Effect of comprehensive breast care on breast cancer outcomes: a community hospital based study from Mumbai, India. Asian Pac J Cancer Prev 2012; 13(4): 1105-9. https://doi.org/10.7314/APJCP.2012.13.4.1105
https://doi.org/10.7314/APJCP.2012.13.4.... , houve discrepância ainda mais acentuada, com SG para as mulheres com maior escolaridade de 94,0% e para as de menor escolaridade de 61,5%.
De acordo com a revisão sistemática conduzida por Coughlin2525 Coughlin SS. Social determinants of breast cancer risk, stage, and survival. Breast Cancer Res Treat 2019; 177(3): 537-48. https://doi.org/10.1007/s10549-019-05340-7
https://doi.org/10.1007/s10549-019-05340... , escolaridade e o distrito municipal de residência estão associados à sobrevida por câncer de mama. Igualmente, o estudo revela que pobreza, menos anos de estudo, segregação racial, discriminação racial, falta de suporte racial e isolamento social são fatores críticos para o estadiamento da doença, assim como para a sobrevida dessa patologia.
O diagnóstico precoce é um fator já bem conhecido relacionado à sobrevida de câncer de mama2121 DeSantis CE, Ma J, Gaudet MM, Newman LA, Miller KD, Sauer AG, et al. Breast cancer statistics, 2019. CA Cancer J Clin 2019; 69(6): 438-51. https://doi.org/10.3322/caac.21583
https://doi.org/10.3322/caac.21583... ,2222 Dialla PO, Quipourt V, Gentil J, Marilier S, Poillot ML, Roignot P, et al. In breast cancer, are treatments and survival the same whatever a patient's age? A population-based study over the period 1998-2009. Geriatr Gerontol Int. 2015;15(5):617-26. https://doi.org/10.1111/ggi.12327
https://doi.org/10.1111/ggi.12327... ,2424 Gadgil A, Roy N, Sankaranarayanan R, Muwonge R, Sauvaget C. Effect of comprehensive breast care on breast cancer outcomes: a community hospital based study from Mumbai, India. Asian Pac J Cancer Prev 2012; 13(4): 1105-9. https://doi.org/10.7314/APJCP.2012.13.4.1105
https://doi.org/10.7314/APJCP.2012.13.4.... ,2626 World Health Organization. World cancer report 2014 [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2014 [cited on Jan 10, 2025]. Available at: http://publications.iarc.fr/Non-Series-Publications/World-Cancer-Reports/World-Cancer-Report-2014
http://publications.iarc.fr/Non-Series-P... . A adesão ao rastreamento é uma maneira de alcançá-lo. Alguns estudos têm demonstrado associação entre o estado civil casada2727 Diniz RW, Guerra MR, Cintra JRD, Fayer VA, Teixeira MTB. Disease-free survival in patients with non-metastatic breast cancer. Rev Assoc Med Bras (1992) 2016; 62(5): 407-13. https://doi.org/10.1590/1806-9282.62.05.407
https://doi.org/10.1590/1806-9282.62.05.... ,2828 Gadeyne S, Menvielle G, Kulhanova I, Bopp M, Deboosere P, Eikemo TA, et al. The turn of the gradient? Educational differences in breast cancer mortality in 18 European populations during the 2000s. Int J Cancer 2017; 141(1): 33-44. https://doi.org/10.1002/ijc.30685
https://doi.org/10.1002/ijc.30685... e maior escolaridade, com maior adesão ao rastreamento ao câncer de mama, até mesmo no Brasil2323 Barbosa YC, Oliveira AGC, Rabêlo PPC, Silva FS, Santos AM. Factors associated with lack of mammography: National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol 2019; 22: e190069. https://doi.org/10.1590/1980-549720190069
https://doi.org/10.1590/1980-54972019006... ,2929 Sreedevi A, Quereshi MA, Kurian B, Kamalamma L. Screening for breast cancer in a low middle income country: Predictors in a rural area of Kerala, India. Asian Pac J Cancer Prev 2014; 15(5): 1919-24. https://doi.org/10.7314/APJCP.2014.15.5.1919
https://doi.org/10.7314/APJCP.2014.15.5.... . Para as mulheres brasileiras, as variáveis sociodemográficas associadas com dois anos sem rastreamento foram mais salientes em mulheres com menor escolaridade na Região Norte e naquelas que vivem sem parceiro na Região Sul2323 Barbosa YC, Oliveira AGC, Rabêlo PPC, Silva FS, Santos AM. Factors associated with lack of mammography: National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol 2019; 22: e190069. https://doi.org/10.1590/1980-549720190069
https://doi.org/10.1590/1980-54972019006... .
Outra variável que apresentou associação com as SG e SE foi o status marital. Em alguns estudos, foi demonstrado que mulheres casadas apresentaram melhor sobrevida que as solteiras/viúvas/divorciadas55 Martínez ME, Unkart JT, Tao L, Kroenke CH, Schwab R, Komenaka I, et al. Prognostic significance of marital status in breast cancer survival: a population-based study. PLoS One 2017; 12(5): 1-14. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0175515
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017... ,2727 Diniz RW, Guerra MR, Cintra JRD, Fayer VA, Teixeira MTB. Disease-free survival in patients with non-metastatic breast cancer. Rev Assoc Med Bras (1992) 2016; 62(5): 407-13. https://doi.org/10.1590/1806-9282.62.05.407
https://doi.org/10.1590/1806-9282.62.05.... ,2828 Gadeyne S, Menvielle G, Kulhanova I, Bopp M, Deboosere P, Eikemo TA, et al. The turn of the gradient? Educational differences in breast cancer mortality in 18 European populations during the 2000s. Int J Cancer 2017; 141(1): 33-44. https://doi.org/10.1002/ijc.30685
https://doi.org/10.1002/ijc.30685... ,3030 Ding W, Ruan G, Lin Y, Zhu J, Tu C, Li Z. Dinamic changes in marital status and survival in women with breast cancer: population-based study. Sci Rep 2021; 11(1): 5421. https://doi.org/10.1038/s41598-021-84996-y
https://doi.org/10.1038/s41598-021-84996... . Apesar da associação do status marital variar de acordo com a raça/cor da pele, o subtipo de tumor e o status socioeconômico da vizinhança, a associação mais elevada para pior sobrevida foi observada entre as mulheres sem parceiro que residem em vizinhança de baixa renda, mesmo após a estratificação por subtipo do tumor55 Martínez ME, Unkart JT, Tao L, Kroenke CH, Schwab R, Komenaka I, et al. Prognostic significance of marital status in breast cancer survival: a population-based study. PLoS One 2017; 12(5): 1-14. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0175515
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017... .
Estes achados refletem a associação entre as iniquidades sociais e o câncer de mama, como demonstrado em outros estudos2525 Coughlin SS. Social determinants of breast cancer risk, stage, and survival. Breast Cancer Res Treat 2019; 177(3): 537-48. https://doi.org/10.1007/s10549-019-05340-7
https://doi.org/10.1007/s10549-019-05340... ,3131 Aizer AA, Chen MH, McCarthy EP, Mendu ML, Koo S, Wilhite TJ, et al. Marital status and survival in patients with cancer. J Clin Oncol 2013; 31(31): 3869-76. https://doi.org/10.1200/JCO.2013.49.6489
https://doi.org/10.1200/JCO.2013.49.6489... , com pior sobrevida para mulheres com pior nível socioeconômico.
Uma limitação da pesquisa é a incompletude do banco do RCBP. De acordo com estudo prévio1313 Oliveira JCS, Azevedo EFS, Caló RS, Atanaka M, Galvão ND, Silva AMC. Registros hospitalares de câncer de Mato Grosso: análise da completitude e da consistência. Cad Saúde Colet 2021; 29(3): 330-43. https://doi.org/10.1590/1414-462X202129030230
https://doi.org/10.1590/1414-462X2021290... , um número elevado de variáveis obrigatórias foi observado no Registro Hospitalar de Câncer (RHC) de Mato Grosso, uma das fontes que alimenta diretamente o RCBP/Cuiabá. Deste modo, variáveis como estadiamento, por exemplo, que apresentaram elevado grau de incompletude no RHC de Cuiabá, apresentaram a mesma característica no banco RCBP, o que impossibilitou a análise do estágio de diagnóstico da doença, além de análises de outras variáveis como morfologia e extensão da doença. Impediu ainda a análise de associação dessas variáveis com a escolaridade e o status marital. Entretanto, um grande benefício do banco RCBP é sua disponibilidade de série histórica de casos novos até 2016, mais atual que outros bancos do Brasil e da América Latina3232 Santos MAP, Fernandes FCGM, Santos EGO, Souza DLB, Barbosa IR. Trends in incidence and mortality by ovarian cancer in Latin American coutries. Rev Bras Cancerol 2020; 66(4):e-06813. https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2020v66n4.813
https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2... . Outra limitação do estudo se refere ao seguimento passivo dos casos novos de câncer de mama, que pode levar à não identificação de óbitos ocorridos em outros estados3333 Perme MP, Stare J, Estève J. On estimation in relative survival. Biometrics 2012; 68(1): 113-20. https://doi.org/10.1111/j.1541-0420.2011.01640.x
https://doi.org/10.1111/j.1541-0420.2011... . Também foi uma limitação do estudo estimar a curva de Kaplan-Meier por meio da SE, o que pode não ser tão preciso, uma vez que não considera que a data de diagnóstico e o tempo até o óbito são condicionalmente independentes para um conjunto conhecido de covariáveis3434 Seppä K, Hakulinen T, Pokhrel A. Choosing the net survival method for cancer survival estimation. Eur J Cancer 2015; 51(9): 1123-9. https://doi.org/10.1016/j.ejca.2013.09.019
https://doi.org/10.1016/j.ejca.2013.09.0... .
Pode-se concluir que a faixa etária, a escolaridade e o estado civil afetam a SG e SE do câncer de mama feminino, com pior sobrevida para as mulheres com 70 anos ou mais, com menor escolaridade e sem parceiro. Este achado soma-se às evidencias de outros estudos, que apontam pior sobrevida para mulheres com essas características.
Esta pesquisa realça a utilidade de dados secundários para traçar o perfil de pessoas atendidas além da análise de sobrevida de cada tipo de câncer. Todavia, os achados precisam considerar o uso de um banco do RCBP, com incompletude, que apontam para a necessidade de desenvolver estratégias de melhoria da gestão da informação dos registros de câncer para maior completitude dos dados.
Ademais, faz-se necessário rever as estratégias de controle do câncer de mama feminino na Grande Cuiabá, com vistas a propor políticas visando ao diagnóstico precoce, ao tratamento oportuno e à melhoria da qualidade de vida das mulheres perante esta patologia.
FONTE DE FINANCIAMENTO:
Apoio financeiro: Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso, pelo financiamento do projeto de extensão "Vigilância de câncer e seus fatores associados: atualização de registro de base populacional e hospitalar" (contrato 088/2016); Ministério Público do Trabalho da 23a Região, pelo financiamento do projeto de pesquisa "Câncer e seus fatores associados: análise de registro de base populacional e hospitalar" (Termo de Cooperação Técnica 08/2019).APROVAÇÃO DO CEP:
Este estudo fez parte da pesquisa matricial intitulada "Câncer e seus fatores associados: análise de registro base populacional e hospitalar de Cuiabá-MT", aprovada pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Júlio Muller (parecer n° 4.001.695) e pelo Comitê de Ética da Escola de Saúde Pública do estado de Mato Grosso – Secretaria de estado de Saúde de Mato Grosso (parecer n° 3.263.744).
AGRADECIMENTOS:
À Secretaria de estado de Saúde de Mato Grosso e ao Ministério Público do Trabalho da 23a Região o apoio à realização deste estudo. À Universidade Federal de Mato Grosso o apoio à publicação em periódicos qualificados (chamada interna de apoio à pesquisa n° 03/PROPeq/2024).
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