Resumo em Português:
O surgimento dos testes de DNA para determinação de paternidade, nos anos 1980, foi recebida com grande entusiasmo nos tribunais brasileiros. No entanto, ao longo das últimas duas décadas, a doutrina jurídica e a jurisprudência brasileiras têm rejeitado cada vez mais a prova de DNA como condição sine qua non para os casos de paternidade. Testes de paternidade de DNA geraram inúmeros litígios que contestaram a prova biológica com o argumento de que a paternidade é principalmente “socioafetiva”. Os principais especialistas em direito de família descrevem essa nova concepção de paternidade como resultado das disposições “revolucionárias” da Constituição Federal de 1988, que reconhece a “pluralidade” das formas familiares na sociedade moderna e garante direitos iguais para todas as crianças. Sem negar a importância de novos princípios constitucionais, mostramos que os novos conceitos jurídicos da paternidade representam menos uma mudança de paradigma do que a continuação de antigas tensões históricas entre concepções biológicas e socioculturais da família e da identidade. Neste artigo, exploramos o desenvolvimento da tipologia biológica e, posteriormente, genética no Brasil, ambas ligadas aos campos da criminologia e da ciência racial. Nossa análise sugere que as técnicas de identificação biológica, por mais sofisticadas ou precisas que fossem, eram meios ineficazes para estabelecer a identidade, seja da personalidade individual, como no caso da paternidade, ou da composição nacional. Em vez disso, elas foram incorporadas como métodos suplementares para as decisões legais, sociais e culturais complexas em torno das famílias.Resumo em Espanhol:
La inclusión de las pruebas de ADN para la determinación de la paternidad en los años ochenta fue recibida con gran entusiasmo en los tribunales brasileños. A pesar de ello hoy en día, tras haber trascurrido dos décadas, la doctrina legal y la jurisprudencia brasileña han rechazado cada vez más las pruebas de ADN como pruebas determinantes de los casos de paternidad. Es más, las pruebas de ADN para la paternidad han generado muchísimos litigios, puesto que las pruebas biológicas han sido rebatidas por argumentos basados en que la paternidad es primordialmente una cuestión “socio-afectiva”. Los letrados especialistas en familia consideran esta nueva concepción de la paternidad como una revolución de la Constitución de 1988, la cual reconoce la existencia del pluralismo de familias y equipara los derechos de todos los niños. Sin menoscabar la interpretación del marco constitucional indicado, entendemos que las nuevas interpretaciones jurídicas de paternidad representan, cuanto menos, un cambio generado por las continuas tensiones entre las interpretaciones biológicas y socioculturales de los conceptos de familia y de identidad. En este artículo, analizamos el desarrollo de esta cuestión, desde el punto de vista biológico y genético en Brasil, los cuales se relacionan con los campos de criminología y los estudios raciales. Nuestro análisis sugiere que las técnicas de identificación biológicas, sin importar lo precisas y sofisticadas que sean, son ineficientes en el sentido de establecer una identidad, sea individual como persona, como en el caso de la paternidad, o sea colectiva, como en el seno de una nación. En su lugar, han sido incorporados como métodos complementarios, en el ámbito de toma de decisiones legal, social y cultural, sobre los estudios acerca de las familias.Resumo em Inglês:
The arrival of DNA paternity testing in the 1980s was met with great enthusiasm in the Brazilian courts. Yet, over the past two decades, Brazilian legal doctrine and jurisprudence have increasingly rejected DNA proof as the sine qua non for paternity cases. Instead, DNA paternity testing has generated mountains of litigation, as biological proof has been challenged by the argument that paternity is primarily “socio-affective”. Leading family law specialists describe this new conception of paternity as an outcome of the “revolutionary” provisions of the 1988 Constitution, which recognizes the “pluralism” of family forms in modern society and guarantees equal family rights for all children. Without denying the significance of the constitution’s dignitary framework, we show that new legal understandings of paternity represent less a paradigm shift than a continuation of longstanding historical tensions between biological and socio-cultural understandings of family and identity. In this article, we explore the development of biological and eventually genetic typing in Brazil, both of which had ties to the fields of criminology and race science. Our review suggests that techniques of biological identification, no matter how sophisticated or precise, were ineffective means for establishing identity, whether of individual personhood, as in the case of paternity, or national make-up. Instead, they became incorporated as supplemental methods into complex legal, social, and cultural decision-making around families.